China cria gigante conglomerado agro e pode influenciar no lucro do produtor brasileiro

Um acordo firmado nos últimos dias entre duas estatais chinesas – a Sinograin e Sinochem – já sinaliza a formação de uma gigante companhia agrícola a liderar na China que deverá liderar a modernização do setor no país e os investimentos estrangeiros do país na agricultura.  Em julho último, o conselho estatal já havia aprovado também a incorporação da Chinatex Corp. e a Cofco Corp.

Segundo o diretor da CustodoAgro, em entrevista ao Notícias Agrícolas, a união das duas estatais poderia resultar em um faturamento anual combinado de mais de US$ 200 bilhões e uma fusão como esta tem potencial para alterar, de forma bastante profunda, a  relação entre a oferta e demanda de produtos e insumos do agro no mundo todo.

“Essa super empresa, no médio prazo, pode determinar o que seja aceitável para eles que o que o nosso agricultor tenha de lucro. Eles estão estabelecendo as condições de fornecimento, diante da densidade da oferta de tudo aquilo que o agricultor precisa, desde a genética de sementes até os fungicidas para o final de ciclo, e os fertilizantes”, disse Porto.

A Sinochem, fundada em 1950, tem sua atividade principal focada em produtos químicos e energia, porém, também atua na produção de fertilizantes, sementes e pesticidas. Segundo uma análise feita pela China Business News mostra que a recessão observada na indústria de petróleo teria sido um dos fatores que encorajou a empresa a considerar essa mudança para o agronegócio. O governo chinês estaria preocupado em não ter ainda uma estatal diretamente engajada na agricultura e, como uma das grandes prioridades do ano, teria escolhido a Sinochem para atuar nessa mudança e reverter o quadro.

A Sinograin, também conhecida como China National Grain Reserves Corporation, é outra estatal e foi criada em 2000 para assumir funções burocráticas referentes aos estoques nacionais de grãos do país. Assim, as especulações dão conta de que a Sinochem tenha acesso ao fluxo de caixa dos negócios da Sinograin. De acordo com o especialista ouvido pela China Business News, subsídios direcionados a juros e custos de armazenagem poderiam tornar os negócios ainda mais rentáveis.

O objetivo é de ter a Sinochem atuando com a prestação de serviços agrícolas e promovendo uma consultoria técnica através de sua subsidiária Zhonghua Modern Agricultural Development Co., além de contribuir com estratégias de armazenamento e rotação, vendas e treinamento de pessoal. Assim, o grupo estaria otimizando o fornecimento de orientações para a segurança alimentar nacional – uma das maiores prioridades na nação asiática – de forma coordenada, além de promover a modernização da agricultura. O acordo é uma parceria cooperativa e não uma aquisição.

O atual líder da Sinochem, Ning Gaoning, é um veterano em empresas estatais e já atuou na China Resources e na COFCO. Nesta última, o executivo liderou a construção e consolidação da empresa, além de aspirar que a empresa se tornasse uma grande concorrente para as multinacionais de grãos. Assim como Ning, o comandante da Sinograin, Lu Jun, também já assumiu um cargo na COFCO.

Além desse acordo, há ainda, em andamento, o envolvimento da Sinochem em um negócio de US$ 43 bilhões na aquisição da suíça Syngenta, atuante no setor de sementes e químicos. Ao mesmo tempo, porém, Ning Gaoning negou rumores de que a estatal que lidera poderia adquirir a ChemChina.

Segundo informações divulgadas pela Bloomberg colhidas junto à China Central Television, o Conselho de Estado do país teria aprovado ainda a incorporação da China National Cotton Reserves Corp., a estatal responsável pelos estoques de algodão, pela Sinograin. A nova companhia, dessa forma, contaria com ativos de US$ 213 bilhões (1.47 trilhão de yuans).

As reformas nas estatais chinesas faz parte das medidas prometidas pelo governo como forma de acelerar as vendas de seus estoques, já que detêm cerca de metade dos estoques globais de milho e algodão, além de elevadas reservas de trigo, arroz e óleos comestíveis. Esses volumes cresceram depois de os sistemas de apoio do governo terem estimulado os agricultores chineses a aumentar sua produção, ao mesmo tempo em que moinhos locais trocaram sua matéria-prima por importações mais baratas.

Além disso, no ano passado, o governo da China encerrou sua política de estocagem de milho e sinalizou implementações na política do em suas políticas de preço mínimo para compras de trigo e arroz, projetando mais eficiência desses mecanismos.

“A China está ganhando o jogo de xadrez em termos de influência geopolítica e econômica”, diz o diretor da CustodoAgro. “O Brasil movimenta cerca de US$ 10 bilhões em defensivos agrícolas, só que não produz suas próprias moléculas, não tem capacidade de síntese para atender essa demanda interna. A maior parte das moléculas que atende as empresas localizadas aqui, que a maior parte são multinacionais, corresponde a produtos desenvolvidos e produzidos na China. Então, formulamos aqui e vendemos para os agricultores. Só que quem define o preço da molécula de base é o chinês. Assim, quanto maior for o poder do chinês de definir isso, mais forte será a relação de troca que vai definir nossa faixa de lucratividade daqui para frente”, completa.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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