China compra mais soja nos EUA nesta 3ª feira (06 de dezembro) e confirma a força da demanda

O USDA divulgou novas vendas de soja nesta terça-feira (06 de dezembro). Foram 198.000 toneladas da safra 2016/17 para a China e mais 378.000 toneladas para destinos não revelados, sendo 246.000 toneladas da safra atual e mais 132.000 toneladas da safra 2017/18. Este é o segundo anúncio da semana, já que ontem, a nação asiática adquiriu 426.000 toneladas.

O consumo na China é cada vez maior e esse tem sido o principal driver dos preços da commodity. Embora ainda focados na safra norte-americana, os chineses deverão começar a comprar mais da América do Sul a partir de agora, buscando preços mais competitivos.

“Nesse segundo semestre, nos deparamos com uma menor participação dos embarques do Brasil e da Argentina, que totalizaram 17 milhões de toneladas, enquanto no segundo semestre do ano passado, foram 27 milhões de toneladas. Esse ‘buraco’ de 10 milhões de toneladas está sendo coberto pelos Estados Unidos em um curto espaço de tempo. E isso tem feito com que os preços se mantenham em alta”, disse o analista Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.

Além dos preços mais competitivos, essas compras maiores acontecendo no Brasil podem ser favorecidas ainda pelo custo do frete marítimo, uma vez que o trajeto Brasil-China é mais barato do que o EUA-China.

Enquanto isso, na nação asiática, as boas margens de esmagamento da soja frente aos baixos estoques internos de farelo e óleo continuam se mantendo positivas e elevadas. “E com a margem de esmagamento continuando boa, a China continua comprando”, disse Vanin. Com os baixos estoques – que não alcançam as 500.000 toneladas e, por isso, significam poucos dias de consumo – está uma demanda interna bastante aquecida pelo derivado.

E o horizonte para a demanda chinesa por soja é bastante promissor, segundo os analistas. O país, afinal, não conta com um maior consumo somente de soja, mas de alimentos de uma forma geral. O crescimento da economia local promove uma consistente mudança nos hábitos da população, principalmente alimentares. O reflexo na busca por uma dieta melhor, mais rica nutricionalmente é, portanto, inevitável e muito bem recebido.

“A população da China não para de crescer e o país também não para de crescer economicamente. Apesar dos pessimistas amedrontando com alardes de que esteja crescendo menos, a nação ainda cresce robustos 7%. Ou seja, a população continua registrando um crescimento no poder aquisitivo”, disse Steve Cachia, diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta, na Europa, em entrevista ao Notícias Agrícolas. 75% da soja exportada em 2015 teve como destino a China.

Os chineses estão saindo, portanto, de uma alimentação mais básica e ‘pobre’ para aumentar seu consumo de proteínas animais e óleos vegetais. Dessa forma, seguem sendo favorecidos, do lado da demanda, não só a soja em grão, como farelo e óleo. “Temos a população humana consumindo mais óleo de soja, e os suínos e aves, mais farelo”, disse o executivo.

Em nota, na última semana, a consultoria BMI Research informou que, em 2017, a China deverá manter seu ritmo forte nas importações de carne, que já vêm registrando um ritmo recorde, podendo renovar essas máximas. “A produção local de carne tem encontrado dificuldade de expandir nos últimos anos e a China tem registrado baixo crescimento de oferta frente a outros países asiáticos, em particular”, informava a nota.

Essa dificuldade de oferta, no entanto, também pode estar caminhando para um final. A recomposição dos planteis chineses caminha bem e também conta com um ambiente favorável e promissor. “Após alguns anos de doenças nos frangos e suínos, onde houve muito descarte, as populações estão voltando a crescer, garantindo essa demanda”, disse Cachia, lembrando que metade dos suínos hoje está na nação asiática. E a carne suína, hoje, é a mais consumida pelos chineses. “Comer carne de porco, atualmente, significa poder econômico”.

Dólar x Yuan

A movimentação do yuan em relação ao dólar nos últimos meses também chama a atenção, já que a moeda chinesa vem registrando suas mínimas em quase dez anos diante da norte-americana. Em novembro, a divisa registrou um de seus piores desempenhos em mais de um ano, sentindo ainda a intervenção do Banco do Povo da China (PBoC). De 2015 a janeiro de 2016, a queda do yuan já acumula 10,19%. Somente este ano a queda é de 4,72%, enquanto no ano passado foi de 3,9%.

Embora na teoria a moeda local mais fraca pode dificultar as importações, ao passo que favorece as exportações, isso parece não estar acontecendo e não conta com força suficiente para mudar o curso da demanda. “Eles dependem intensamente das importações. A produção local vem caindo, enquanto o consumo só aumenta”, disse o analista da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter. Além disso, segundo Camilo, ainda que com a moeda desvalorizada e mais exportações, o superávit do país é maior, o que permite que o ritmo do consumo de importados se mantenha ou até mesmo aumente.

Dados do USDA mostram, segundo Motter, que o consumo de soja na China na temporada 2014/15 foi de 87 milhões de toneladas; na 2015/16 de 95.5 milhões e a estimativa para a 2016/17 é de 101.2 milhões de toneladas.

Segundo Steve Cachia, “a demanda é tão forte, e a China não tem como atender internamente esses mercados que, simplesmente, vão absorver preços talvez mais caros. O que o país não pode é deixar a população desabastecida. Quando a soja chegou a subir 30% no mercado internacional não afastou compradores, e a demanda continuou forte e firme. O mesmo ocorre agora. Encarecendo as importações devido ao câmbio, isso não afastará os chineses do grão. Há mecanismo para eles repassarem ou recuperarem parte desse ‘prejuízo'”, disse.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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