China ainda resiste a transgênicos

O diretor de uma das maiores empresas chinesas de produtos químicos minimizou as expectativas de que o país ficará mais aberto aos transgênicos após a aquisição da suíça Syngenta, uma das maiores empresas de defensivos e sementes do mundo, pela ChemChina.

Quando a transação de US$ 43 bilhões foi anunciada, no início de 2016, muitos suspeitavam que poderia deflagrar uma rápida aprovação do plantio de transgênicos na China, uma vez que a Syngenta mantém expressiva participação nessa área, com investimentos expressivos em pesquisa e desenvolvimento.

Isso significaria uma reviravolta para um país que permite importações de diversos grãos transgênicos, entre os quais soja e milho, mas onde poucos produtos para consumo humano e animal podem ser cultivados, devido a temores internos de que a tecnologia pode representar ameaça à segurança alimentar.

A questão mereceu pouca atenção no congresso nacional do Partido Comunista Chinês, realizado nesta semana, apesar dos apelos do presidente Xi Jinping em favor de uma agricultura mais moderna. Mas, paralelamente ao evento, Frank Ning, diretor da Sinochem, concorrente da ChemChina, deixou claro que, nessa “modernização”, a adoção de transgênicos será muito lenta.

Enquanto isso, pesquisadores chineses estão competindo para promover as novas variedades de plantas que desenvolveram, embora não revelem se elas são transgênicas ou se foram desenvolvidas por meio das práticas tradicionais de aprimoramento genético. Muitas são cultivadas em campos de demonstração, mas não foram comercializadas.

O exemplo mais recente é a criação da variedade de arroz mais alta do mundo, que a mídia chinesa batizou de o “Yao Ming do arroz”, em referência ao astro chinês do basquete. A planta produz um volume quatro vezes maior de grãos por haste, segundo seu criador, um agrônomo da Academia Chinesa de Ciências.

Com ou sem transgênicos, disse Ning, a modernização está em curso. “A Sinochem já se transformou. Éramos apenas uma operação de vendas, de insumos como sementes e fertilizantes. Agora somos uma plataforma agrícola puxada por serviços e que promove sementes melhores e ensina as pessoas a usar menos fertilizante.”

Num longo discurso pronunciado na quarta-feira no qual traçou um rol de metas econômicas, o presidente Xi Jinping defendeu “sistemas industriais, de produção e de operações empresariais para a agricultura moderna”. E, embora sempre tenha evitado dar sua própria posição sobre os transgênicos e de conclamar seus defensores a serem “arrojados na pesquisa e cuidadosos na promoção”, o fato de ter endossado a compra da Syngenta, em janeiro, foi visto como um sinal favorável à tecnologia.

Antes disso, no ano passado, uma coalizão informal de pessoas de esquerda, ambientalistas e autoridades aposentadas escreveu cartas à alta liderança chinesa manifestando-se contra o negócio. Os grupos de esquerda e os nacionalistas chineses temem que a tecnologia estrangeira represente uma ameaça à segurança para a China, mas são considerados abertos a aprovações de variedades transgênicas desenvolvidas internamente.

Já os ambientalistas são contrários a toda e qualquer adoção de transgênicos na China, devido a preocupações em torno dos prejuízos infringidos pelos herbicidas e pesticidas desenvolvidos para serem usados nas plantas resistentes a eles.

 

Fonte: Financial Times/Pequim

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