Com a pandemia do novo Coronavírus, houve uma forte aceleração no processo de digitalização do agronegócio. A tecnologia se tornou a melhor saída para encurtar as distâncias, disseminar informações, otimizar o tempo, reduzir custos e reafirmar a capacidade empreendedora do produtor rural.
Por outro lado, de um total de cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil, cerca de 70% delas ainda não estão conectadas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Há um déficit muito grande de conectividade. Cerca de 97% dos agricultores e gestores do campo têm celulares, quase 90% têm smartphones, mas isso não basta. Se queremos informação em tempo real, precisamos de conectividade”, alertou o o professor Anderson Amendoeira Namen, doutor em Engenharia de Sistemas pela Coppe/UFRJ e engenheiro de computação pela PUC-RJ.
O especialista, que desenvolve pesquisas sobre mineração de dados e sistemas de suporte à decisão, com enfoque em soluções voltadas para o meio ambiente, participou na última segunda-feira de uma videoconferência sobre o tema, organizada pelo Ibmec no evento Agrobusiness Master Class, sob a coordenação do professor de Agronegócio dos MBAs do Ibmec Online, Felipe Brasil.
O encontro serviu como preparação para os cursos de MBA em Gestão do Agronegócio e MBA em Direito Agrário e Ambiental, que o Ibmec Agro promove em parceria com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), e que abrirá novas turmas em fevereiro.
Efeitos da pandemia
Segundo Namen, questões como interconexão e comunicação remota foram potencializadas com a pandemia da Covid-19. “Em apenas um ano houve um grande avanço. Com isso, percebo que o contato humano irá diminuir em razão de algumas atividades como o acesso digital a informações do campo para evitar deslocamentos. Isso vai melhorar o processo de gestão”, disse.
“O uso de plataformas favorecem cada vez mais a conexão online. Empresas que trabalham com esse tipo de tecnologia tiveram de correr contra o tempo para aumentar a capacidade dos sistemas e a disponibilidade desses equipamentos”, afirmou Brasil, que também destacou a organização de grupos de negócios em canais de comunicação como o Whattsapp.
Para Namen, a presença de câmeras, sensores, imagens, entre outros, ou seja, “a combinação de tecnologias de hardware e software é que irá permitir informações em tempo real, com a identificação de padrões de comportamento para a tomada de decisões”.
Redes
Os participantes da videoconferência também falaram sobre a importância da rede 4G e as expectativas em torno da chegada da rede 5G.
“Poderemos trabalhar com um volume de dados mil vezes maior em comparação à 4G, com cinco vezes menos tempo de latência, que é o período para enviar e receber uma informação”, afirmou Namen, acrescentando que a 5G poderá ainda permitir o controle de drones a distâncias maiores que 5 km, aumentando em 15 vezes esse alcance.
O especialista também citou outras iniciativas como o Star Link, que prevê o posicionamento de satélites em órbita baixa para potencializar o alcance da informação e da conexão, inclusive em regiões remotas. “Isso não vai demorar muito para acontecer”, disse.
Visão computacional
Entre várias funcionalidades, a conectividade também promove o desenvolvimento de novos nichos como o de alimentos inovadores, e otimiza atividades como a gestão de operação de máquinas no campo e o monitoramento agrometereológico.
“A inovação surge a partir de uma inteligência. Existem algumas empresas brasileiras que estão criando alimentos a partir de pesquisas e algoritmos para identificar os componentes químicos desses produtos e combinar esses componentes a fim de criar sabor. Estamos falando, por exemplo, de produzir carne vegetal ou um tipo de leite com a combinação de alface a abacaxi”, destacou Namen.
Ele lembrou ainda que inovação e tecnologia têm gerado oportunidades para o público mais jovem que atua no agro. “Hoje em dia há diversas startups que apresentam soluções inovadoras para o campo, e isso é uma tendência que aumenta cada vez mais”.
Diante disso, continuou o especialista, “começamos a pensar em tecnologia de visão computacional, que envolve a inteligência artificial, onde a partir de imagens e suporte tecnológico é possível reconhecer os insetos que estão numa determinada plantação e que levarão o produtor a definir as possíveis intervenções que precisarão ser efetuadas”.
Quanto à gestão do maquinário, Namem explicou que as máquinas conectadas em tempo real podem ser facilmente localizadas, permitindo o controle do consumo de combustível e o registro de padrões de funcionamento – até para que sejam feitos pedidos antecipados de manutenção, favorecendo ganhos em produtividade.
Já as estações metereológicas, segundo o especialista, podem trabalhar com algoritmos para coletar variáveis e dados e permitir, com isso, previsões mais eficientes sobre o clima. Por outro lado, disse ele, “há sensores que podem ser instalados nas plantas para identificar as demandas de irrigação”.
Pecuária e comercialização
Na pecuária, destacou Namen, há iniciativas que conectam coleiras e sensores no gado para obter informações sobre o comportamento e a movimentação do animal, incluindo ainda dados sobre seu nível de desconforto. “Esse procedimento permite definir a alimentação ideal para cada animal e favorece a tomada de decisões para evitar possíveis problemas que possam ocorrer”.
Na área de comercialização, o especialista ressaltou a tendência de implementação de sistemas que aproximam produtores e consumidores, “oportunidade em que o e-commerce pode entrar com força”, e afirmou que a integração de produtores com fornecedores de insumos é também um “market place”. Neste caso, a aquisição de insumos é realizada por meio de portais de compras reunindo um grande número de agricultores.
Acesse aqui informações sobre os cursos de MBA em Direito Agrário e Ambiental e MBA em Gestão do Agronegócio do Ibmec Agro.
Fonte: Ibmec Online
Equipe SNA
Felipe Brasil, professor de Agronegócio dos MBAs do Ibmec Online .Tecnologias digitais aplicadas ao agronegócio brasileiro.
Modernização do campo por meio do processo de industrialização do setor produtivo garantiu equipamentos como máquinas, sementes melhoradas, insumos, foi importante para o desenvolvimento da economia brasileira.
Nos últimos anos, avanços surgiram, como tecnologias digitais, equipamentos para a agricultura de precisão, utilização de GPS e satélite entre outros.
Tecnologias aplicadas ao campo crescem a cada dia. Nos últimos anos, principalmente as tecnologias digitais e a conexão do agro com a rede mundial da computadores. Mas temos um caminho muito grande a ser percorrido.
Prof. Namen
Déficit grande de conectividade. Agricultor e gestores do campo, 97% das pessoas que atuam no campo já tem celulares, quase 90% já tem smartphone, mas somente isso não basta. Segundo IBGE das cerca de 5 milhões de propriedades rurais no Brasil, cerca 70% ainda não têm conectividade, ou seja, suas máquinas ligadas à Internet, o que é um problema.
Relação pandemia e digitalização. Prof. Namen.
Prof. Felipe –
Alimentos inovadores. Gestão de operação de máquinas.
Namen – “Hoje precisamos ter informação sobre tudo, e a inovação surge a partir de uma inteligência. Existem algumas empresas brasileiras que estão criando alimentos fazendo uso de pesquisas e algoritmos para identificar os componentes químicos desses produtos e combinar esses componentes a fim de criar sabor. Estamos falando, por exemplo, de produzir carne vegetal ou um tipo de leite com a combinação de alface a abacaxi.
Com isso, começamos a pensar em tecnologia de visão computacional, que envolve a inteligência artificial, onde a partir de imagens, é possível reconhecer os insetos estão numa determinada plantação, que levarão o produtor a definir as possíveis intervenções que precisam ser feitas.
As máquinas conectadas em tempo real podem ser facilmente localizadas, permitindo o controle do consumo de combustível, o registro de padrões de funcionamento até para que sejam efetuados pedidos antecipados de manutenção favorecendo ganhos em produtividade.
Na pecuária, iniciativas que conectam coleiras e sensores no gado para obter informações sobre comportamento e movimentação do animal, nível de desconforto que poderá indicar alguma doença ou problema etc, medir comportamento do ponto de vista biológico. Isso permite definir a alimentação ideal para cada um e a gestão de espaço para atender o animal, favorecendo a tomada de decisões para evitar possíveis problemas que possam ocorrer.
Felipe – Há muitos avanços verificados na área de gestão empresarial, como softwares, aplicativos, muita informação.
Tecnologia em estações metereológicas, monitoramento agrometereológico. Namen – “Estações podem trabalhar com algoritmos para coletar variáveis e dados metereológicos e permitir com isso previsões em relação ao clima, conferindo eficiência na gestão. Por outro lado, sensores nas plantas para identificar as demandas de irrigação.
Educação no campo -Entidades como Emater e Embrapa podem apoiar pequenos produtores em termos de informação e capacitação. “É fundamental que esses produtores se adaptem”. Muitas vezes essas tecnologias não são caras.
Comercialização – iniciativas.
Namen – Iniciativa da Bayer de implementar um sistema que conecta diretamente produtores de café e consumidores, que acessam informações sobre qualidade e tipos de café, e podem relatar experiências de consumo. Sistemas de aproximação de produtores e consumidores, oportunidade em que o e-commerce pode entrar com força, e integração de produtores com fornecedores de insumos também é um “market place”, favorecendo a aquisição de insumos por meio de portais de compras que reúnem diversos agricultores.
“Quando há informação é possível fidelizar os clientes de acordo com o volume negociado, e oferecer vantagens para quem compra mais ou participa mais. Isso já ocorre no campo”. Namen
Interesse de jovens pelo campo. Inovação e tecnologia tem gerado oportunidades para o público mais jovem que atua no setor. “Hoje em dia há diversas startups que apresentam soluções inovadoras para o campo, e isso é uma tendência que aumenta cada vez mais”.
Avanços com a consolidadação da rede 5G no Brasil, e outras soluções para melhorar a conectividade no campo.
“Já temos potencial com o 4G para trabalhar com a Internet das Coisas, onde tudo está conectado à Web. Quando houver uma infraestrutura de tecnologia 5G poderemos trabalhar com um volume de dados mil vezes maior em comparação à 4G, com cinco vezes menos tempo de latência, que é o período para enviar e receber uma informação, a vida útil das baterias dos equipamentos do sistema 5G é dez vezes maior. Controle de drones a distâncias maiores que 5 km, aumentando em 15 vezes esse alcance, com a possibilidade de implementação de um sistema central de gestão de tráfico.
Há também outras iniciativas além do 5G, como a Star Link, que prevê o posicionamento de satélites em órbita baixa para potencializar o alcance de informação e conexão, inclusive em regiões remotas, e isso não vai demorar muito para acontecer.