Cepea: Coronavírus não deve prejudicar fortemente o desempenho do PIB do agronegócio

Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, avaliaram os principais impactos da pandemia do Coronavírus sobre o PIB do agronegócio e o mercado de trabalho do setor.

O estudo indicou que, de modo geral, os impactos sobre o PIB e sobre o mercado de trabalho serão distintos: primeiro, porque os setores de grande peso na formação do PIB não são aqueles que detêm a maior relevância na geração de empregos; segundo, porque os estabelecimentos de menor porte – sejam agropecuários, agroindustriais ou de agrosserviços – são mais representativos na geração de postos de trabalho do que de PIB.

Desempenho satisfatório

Até o momento, os pesquisadores do Cepea esperam um desempenho satisfatório no PIB do agronegócio, sobretudo da agropecuária, e mostram que há, portanto, “grande disparidade com a economia em geral, cujas projeções de desempenho pioram dia a dia”.

Essa perspectiva positiva do Cepea para o PIB, por sua vez, está fundamentada no dólar elevado (que impede a completa transmissão da provável queda dos preços internacionais diante do desaquecimento da demanda global), nas boas perspectivas em termos de preço e produção para grandes culturas (como grãos e café e para os complexos das carnes) e na baixa elasticidade-renda de produtos alimentares essenciais.

Agroindústrias

Contudo, os analistas alertam que devem pressionar o PIB para baixo as agroindústrias que dependem do mercado interno brasileiro, como a de móveis e as atividades têxtil, vestuarista e de calçados.

Essas últimas já vêm vivenciando retrações anuais sucessivas de produção desde o início da crise no País, oficialmente em 2014 – e esse cenário deverá se repetir e se agravar em 2020.

Ademais, pressões negativas sobre o PIB do agronegócio também podem vir das indústrias de laticínios e de biocombustíveis.

“No primeiro caso, pelo maior valor agregado para um produto alimentar, e no segundo, pelo cenário extremamente crítico tanto por causa da fraca demanda interna durante o período de isolamento quanto pela queda nos preços do petróleo”, afirmam os pesquisadores do Cepea.

Ocupações

Além disso, eles destacam que os impactos dos efeitos da pandemia de Conoravírus sobre a situação do mercado de trabalho são preocupantes. Isso porque grande parte das ocupações refere-se a estabelecimentos de menor porte e de setores que provavelmente serão mais afetados pela crise.

De acordo com os especialistas, muitos empregos estão concentrados em estabelecimentos agropecuários, agroindustriais e de agrosserviços de menor porte. “Assim, enquanto alguns em situações financeiras mais delicadas já sofrem no período de isolamento social, outros sairão desse período para lidar com uma demanda interna pouco aquecida e com a necessidade de pagar pelos créditos tomados para manter o negócio durante a pandemia”.

Setores atingidos

Em termos setoriais, as perspectivas de impacto da crise são ruins para muitas atividades agropecuárias e agroindustriais que são grandes geradoras de postos de trabalho. Neste caso, os pesquisadores do Cepea destacam as diversas atividades de horticultura, floricultura, produção de leite e indústria de laticínios, indústrias de móveis e as relacionadas a vestuário (têxtil, vestuário e couro e calçados).

Para os analistas, a gravidade da situação vai depender da duração desse momento de restrições mais severas à mobilidade e da efetividade das ações do governo, seja de apoio aos empregados (para a garantia de renda e logo, demanda) ou às empresas.

Com isso, os pesquisadores dizem que é essencial, neste momento, a eficácia com que o governo faça chegar à grande massa da população de baixa renda os recursos mínimos para a sobrevivência, inclusive para adquirir os produtos que o agronegócio disponibilizará ao varejo.

Incertezas

O estudo reforça ainda que, na atual conjuntura marcada por incertezas, qualquer perspectiva formada também é bastante incerta.

“Um agravamento além do esperado da crise do coronavírus no Brasil e no mundo, assim como um alcance aquém do esperado das políticas de apoio pelo governo brasileiro, pode comprometer o desempenho do PIB do agronegócio, mesmo com o câmbio favorável, e deteriorar ainda mais a situação do mercado de trabalho”.

Impactos

O Cepea continua a acompanhar os impactos da pandemia sobre o agronegócio em suas várias dimensões – econômicas, sociais e técnicas, aprimorando suas avaliações na medida em que for recolhendo novas informações vindas do campo e dos diversos segmentos que com ele interagem até atingir o consumidor e as exportações.

Além disso, ainda nesta semana, o Cepea irá divulgar os efeitos da pandemia de coronavírus sobre o mercado de algodão.

 

Fonte: Cepea

Equipe SNA

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