Cenário segue favorável para o leite, mas ambiente econômico é desafiador

Os últimos meses assistiram à recuperação da produção mundial de leite e derivados e à manutenção das cotações internacionais – Foto: Canva
O cenário econômico mundial segue desafiador. Os conflitos bélicos, as dificuldades de crescimento econômico em importantes economias da Ásia e da Europa afetam as expectativas dos agentes econômicos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima um crescimento modesto, de apenas 1,80%, para as economias desenvolvidas neste ano.
Para os países em desenvolvimento o crescimento estimado é 4,20%, com destaque para a Índia com 6,20%. A China deve crescer apenas 4,50%, percentual baixo considerando o histórico recente do país. Assim, ainda que importantes regiões do planeta sigam com crescimento modesto, consolida-se o cenário para aumento da renda global e, por consequência, maior consumo de bens e serviços, incluindo leite e derivados.
Os últimos meses assistiram à recuperação da produção mundial de leite e derivados e à manutenção das cotações internacionais, indicando um melhor equilíbrio entre oferta e demanda em escala global. A rentabilidade da atividade melhorou em muitos dos principais países produtores do mundo, o que pode continuar a estimular o aumento da oferta no futuro próximo.
No âmbito doméstico, os principais indicadores macroeconômicos sinalizam para um crescimento da economia acima das expectativas iniciais em 2024 (3,50% no último Boletim Focus) com alguma acomodação a partir de 2025, por volta de 2%. Os indicadores de emprego e renda seguem favoráveis, garantindo a melhoria do poder de compra da população.
O crescimento da massa de rendimento dos brasileiros tem permitido a expansão da oferta de lácteos no mercado brasileiro e a manutenção de preços mais elevados. Os últimos 12 meses registraram um aumento médio de 10% no preço de lácteos, acima da inflação de 5%. O preço pago para o produtor, ainda que tenha registrado queda nos últimos meses, se encontra em patamar superior ao observado há 12 meses. Este fato, somado com o aumento mais discreto dos custos de produção do leite, apenas 2% no último ano, cria um cenário de melhores condições para o aumento da oferta de leite e derivados.
Ainda que estas condições favoráveis estejam presentes, ilustradas pelos termos de troca mais favoráveis ao produtor no ano de 2024 em relação `a média histórica, a produção doméstica de leite ainda não esboça reação significativa.
Apesar de estar em curso o período de safra de leite, com aumento da produção em relação aos últimos meses, este crescimento é meramente sazonal. A produção de leite inspecionada continua estacionada em 68 milhões de litros/ dia nos últimos doze meses finalizados em setembro/24. Este é o mesmo valor que já havia sido registrado em maio/19.
As mudanças estruturais na produção de leite, com a saída de muitos pequenos e médios produtores, bem como o aumento das importações, são algumas das causas deste cenário de baixo crescimento.
O aumento dos gastos públicos e a percepção de que há dificuldade para o ajuste desejável das contas públicas têm alterado as expectativas dos agentes econômicos. O dólar registrou uma alta de mais de 20% nos últimos 12 meses e expectativas de juros para o final de 2025 dispararam, alcançando 15% no último prognóstico de especialistas consultados pelo Banco Central.
As expectativas inflacionárias seguem desancoradas, corroborando para o cenário de alta das taxas de juros. Este cenário menos alvissareiro pode contaminar a economia real e alterar e até reverter a trajetória de crescimento econômico previsto para o ano.
A alta da taxa de câmbio pode afetar a oferta de leite no mercado brasileiro. Ainda que parte dos custos de produção do leite possam ser afetados pelo câmbio, o custo do produto internacional aumenta e a produção local tende a ser favorecida. A queda das importações de lácteos, incipiente, mas já observada em dezembro/24 pode ser uma sinalização neste sentido. Por outro lado, os riscos macroeconômicos podem afetar o mercado de trabalho e a renda da população, dificultando repasse de custos e reduzindo as margens dos diferentes elos da cadeia do leite.
Fonte: Embrapa Gado de Leite
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