Em tempos de baixa nas cotações de commodities, alternativas de maior valor, menor custo ou mesmo possibilidades de diversificação e rotação ganham popularidade. Uma oleaginosa que vem chamando a atenção é o cártamo, planta semelhante ao açafrão e que tem custo de produção médio cinco vezes inferior ao da soja.
A vantagem do cártamo é que nos climas secos não registra nenhuma praga e não necessita de manejo ou aplicação de agroquímicos para o controle de doenças. Além disso, algumas iniciativas em andamento estão ampliando os usos e as aplicações da oleaginosa, que tem a Índia como maior produtor mundial.
A Bioceres, empresa argentina de Rosário, desenvolveu uma variedade de cártamo que permite produzir queijo a partir da quimiosina. O objetivo é concorrer em um mercado avaliado de 1.1 bilhão de litros, considerando o Mercosul e o Chile.
No Brasil, o Instituto Agronômico do Paraná tem feito testes com o cártamo em várias regiões do estado, importando a semente da empresa californiana SeedTec. Ao contrário do pensamento comum, o plantio foi realizado no inverno e se desenvolveu até melhor nas áreas que não são secas no oeste e sudoeste do Paraná, em locais como Ponta Grossa e nas proximidades de Cascavel. A produtividade média foi de três mil quilos por hectare.
“A grande vantagem do cártamo é que não se gasta nada e não há pragas. O custo é muito baixo. Mas o grande desafio está por parte das cooperativas e indústrias. Elas precisam receber o cártamo para processá-lo nos mesmos lugares que se recebe soja ou milho, mas resistem em fazer as adaptações pelo trabalho e custos”, afirmou o pesquisador Pedro Mario de Araújo ao portal Agriculture.com.
Clima e aplicação industrial são desafios
“Vejo (o cártamo) com o mesmo potencial do girassol, como um óleo saudável, mas os seus líquidos são difíceis de serem usados pela indústria”, disse Francisco Morelli, consultor em Buenos Aires e ex-diretor da Cargill, em entrevista ao Agriculture.com.
A visão sobre o cártamo é compartilhada pelo presidente da Oilseeds International, de San Francisco, John Gyulai. “Geograficamente sua expansão é limitada, porque é plantado em áreas muito secas, como a Califórnia (Estados Unidos). O mesmo acontece na Argentina. Eu não vejo muitas pesquisas em andamento para popularizar o cultivo”, afirmou.
Uma dos aspectos a ser considerado para qualquer oleaginosa comercial está relacionado à sua possibilidade de competir com a soja, em seu uso como óleo, farelo ou combustível. Na opinião de Morelli, a única verdadeira “ameaça” para a soja é o óleo de palma, que é ideal para climas tropicais.
Na avaliação do consultor, a soja é a oleaginosa mais eficiente entre as proteínas vegetais, sendo que a palma é mais adequada como óleo de cozinha e o milho para energia. Morelli considera que o mercado de oleaginosas tem futuro, com uma demanda que cresceu 5% anualmente, de 2002 a 2014. De acordo com o especialista, o segmento deve crescer “variavelmente” na média de 3% ao ano nos próximos anos.
Fonte: Agrolink