Carne Kosher pode abrir novas possibilidades para o Brasil

Principal mercado de carne bovina procedente de abate Kosher do mundo, o governo de Israel notificou recentemente os frigoríficos sobre uma série de novas normativas que passam a valer a partir de julho de 2018. A mais importante delas é que o país só importará carne de frigoríficos que utilizarem uma caixa rotativa de contenção para minimizar o estresse durante o abate. Hoje, os animais ficam no chão e necessitam de alguém para segurá-los.

Segundo o consultor especializado em abate Kosher, Felipe Kleiman, cada caixa custa em torno de R$ 400.000,00, além dos gastos com instalação e treinamento. Como o procedimento deve reduzir a velocidade de abate, o especialista disse que uma boa estratégia para os frigoríficos seria trabalhar com duas caixas na mesma operação, o que dobraria os custos, mas agilizaria a operação.

“Sem dúvida, não é um investimento barato. No entanto, essas adequações podem ser uma grande oportunidade para o Brasil ampliar suas exportações e alcançar uma fatia maior do mercado mundial de carne Kosher”, disse Kleiman. “E também podem colocar mais valor agregado ao produto, já que se prioriza o bem-estar animal”.

Mercado

Um dos aspectos mais atraentes do mercado israelense é o preço. No ano passado, o Brasil arrecadou US$ 70 milhões com a exportação de 14 mil toneladas de carne bovina para Israel. O preço médio da tonelada foi de US$ 5.000,00, cerca de 23,8% maior do que os US$ 4.038,00 da média geral por tonelada das exportações totais de carne bovina in natura do país no ano passado.

Kleiman ainda acredita que é possível ampliar o volume embarcado para Israel para 20 mil ou 22 mil toneladas. “O Brasil já chegou a exportar mais de 34 mil toneladas de carne para Israel em 2008, mas acabou perdendo espaço para os demais países do Mercosul”.

Atualmente, Israel importa cerca de 68 mil toneladas de carne bovina oriunda de abates Kosher, sendo que 80% desse total provem da América do Sul. Os principais fornecedores são Argentina e Uruguai. Além deles, a Polônia surge como outro importante exportador, principalmente, devido à sua proximidade com Israel.

Outro importante mercado global de carne Kosher são os EUA, que entre produção doméstica e importação, consome mais de 60 mil toneladas de carne por ano. Como a produção local não é suficiente para atender à demanda, os americanos importam carne Kosher de países como México e Uruguai.

Além deles, o especialista destaca a União Europeia como um mercado em ascensão. De acordo com ele, diversos países da região têm proibido os frigoríficos locais de realizar abates religiosos, e como a população judia do bloco é grande, a solução será importar carne de outros países.

Abate Kosher

O abate Kosher é um procedimento religioso que visa a atender aos mercados judaicos, principalmente Israel. É usada uma faca específica (chalaf) que causa sangria e a morte imediata sem causar dor ao animal. Após isso, os órgãos internos são inspecionados por um rabino para detectar anomalias fisiológicas que classifiquem a carne como imprópria para consumo.

Caso não seja encontrada nenhuma anomalia como nódulos e abcessos, é feita a submersão e salga da carcaça, visando a extrair o máximo de sangue da carne. Por fim, é feita a desossa dos cortes e a carne recebe o selo que atesta os padrões estabelecidos pela Torá.

Atualmente, a exportação Kosher consiste principalmente de cortes do dianteiro. Para que os cortes de traseiro possam ser consumidos pelos judeus, é necessário que seja retirado o nervo ciático do animal, o que não é feito rotineiramente. Também são removidos algumas veias e sebos.

 

Fonte: Revista DBO

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