Por Mauro Zafalon
O namoro acabou, e o campo está retirando o apoio dado à paralisação dos caminhoneiros. Produtores já veem insensatez dos grevistas e riscos para toda a sociedade. Os pedidos do setor de transporte foram todos atendidos e, por isso, a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso) está retirando máquinas e faixas de apoio ao movimento.
A Aprosoja foi a primeira entidade a apoiar os caminhoneiros, não apenas colocando máquinas agrícolas ao lados dos caminhões mas também dando suporte alimentar aos grevistas.
As conquistas do movimento grevista acabaram se voltando contra o próprio campo, um dos setores que mais se utilizam de transporte de caminhões —só de grãos, são 240 milhões de toneladas movimentadas por ano.
Uma das cláusulas discutidas é a criação de uma tabela mínima de frete. “Não concordamos com isso. O tabelamento dos fretes seria repassar os custos de um setor para outro”, disse Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT.
Alexandre Schenkel, presidente da Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), outra associação que apoiou a manifestação logo no início, disse que a greve chegou a um estágio político e de baderna. “Já há uma insegurança e risco para todo o agronegócio, principalmente para os irmãos da produção de proteínas”, afirmou Schenkel.
A permanência da greve vai afetar toda a população, com o risco de a desestruturação da produção de algumas áreas vir acompanhada de ágios nos preços, segundo o presidente da Ampa. “Vamos pagar um custo alto pela insensatez de um pessoal que buscou uma série de reivindicações, mas agora não consegue parar”, disse ele.
Schenkel alerta, no entanto, para o fato de que, na sequência desse movimento, deve ser iniciada imediatamente uma reforma tributária. Para Galvan, da Aprosoja, além da reforma tributária, é urgente um ajuste de custo no Executivo, Legislativo e Judiciário. “Gastam muito e são uma casta privilegiada”, afirmou.
Um produtor do setor de milho diz que a participação dos produtores na greve já diminuiu muito e os que permanecem estão radicalizando. “Acabou a brincadeira. Ponham o Exército nas ruas, mas para permitir que a população volte a trabalhar e não para governar”, disse ele.
A pecuária também sofre as consequências dessa greve prolongada. Para um pecuarista, o boi não pode circular pelas estradas e chegar aos frigoríficos, mas as contas deste final de mês já estão chegando. “Neste momento, não é mais um movimento de reivindicações, mas de badernas”, declarou o produtor.
Schenkel lembra que o país deverá colher uma safra recorde de algodão neste ano. Nos próximos 15 dias, embora ainda em ritmo lento, as máquinas vão ao campo para a colheita. Boa parte desse produto já foi vendida para o exterior. Se as estradas não estiverem livres, o Brasil perderá credibilidade com os importadores.
O setor de proteínas, o mais afetado pela parada dos caminhoneiros, foi contra a paralisação desde o início do movimento. A interrupção das estradas não permitiu a chegada de rações e de outros insumos às granjas, assim como não permitiu a retirada de animais do campo para as unidades frigoríficas.
Pelo menos 70 milhões de animais já morreram por falta de comida. Além disso, se tornou frequente o canibalismo entre animais nas granjas.
Fonte: Folha de S. Paulo