As cooperativas brasileiras de café aproveitaram a alta das cotações internacionais e a valorização do dólar, antes do recrudescimento da crise do novo Coronavírus, para acelerar vendas antecipadas. O movimento deve garantir resultados positivos em um ano em que a economia global agoniza.
A safra brasileira 2020/21, que começa a ser colhida neste mês, deverá totalizar 59.58 milhões de sacas de 60 quilos, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Conselho dos Exportadores de Café no Brasil (Cecafé) estimou em fevereiro que as exportações do País serão de 32.5 milhões de sacas de café verde, repetindo o recorde de 2019.
A Minasul, de Varginha (MG), espera receber dois milhões de sacas neste ano, 11% mais que em 2019, em razão de o ano ser de bienalidade positiva do café arábica. Do total, 600.000 sacas já estão negociadas para 2020 em contratos de mercado futuro, incluindo barter e vendas a termo, e outras 300.000 sacas serão destinadas à entrega nos próximos três anos.
“Orientamos os cooperados a aproveitarem as altas da bolsa para negociar a venda futura, que neste ano deve superar os 40% alcançados no ano passado”, disse o presidente da cooperativa, José Marcos Magalhães.
No mês de março, a Minasul embarcou 65.500 sacas, superando o recorde anterior para um único mês, de 40.000 sacas. “A meta para o ano era exportar 400.000 sacas. Como já estamos com 600.000 contratadas, creio que chegaremos às 800.000 sacas”, afirmou Magalhães. Em 2019, foram 360.000. “Estamos otimistas. Será um ano muito bom, apesar da pandemia”.
O presidente da cooperativa avalia que a pressão é toda altista para os preços do grão. “A safra 2020, apesar de farta, não será recorde como inicialmente se esperava, e como o ciclo seguinte será de bienalidade negativa, já há perspectiva de déficit”.
No mercado interno, a saca chegou a aumentar R$ 74,31 em março, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Naquele mês, a média do indicador Cepea/Esalq atingiu R$ 556,28 a saca, com alta de 15,40% em relação ao mês anterior. Desde o começo do ano, o preço no País subiu 10% e alcançou ontem R$ 588,51 por saca.
Magalhães disse que a pressão de compra é tanta que importadores estão dispostos a pagar adiantado para receber as sacas. “Há uma preocupação com a continuidade do fornecimento e os compradores querem garantir o café”.
Em Nova York, as cotações da commodity ganharam suporte depois que a bolsa informou que não teria condições de garantir a certificação dos lotes em março. Ainda que no ano tenham caído 8,34%, os contratos de segunda posição subiram 26,6% nos últimos 12 meses.
Em países europeus, como Alemanha e Itália, há um número expressivo de companhias que adquirem o grão brasileiro para processar e revender. “A gente teve um aumento de demanda de 20% a 30%. A demanda das cafeterias está sendo absorvida pelo consumo doméstico”, informou Magalhães.
Na Coopercitrus, as vendas antecipadas também estão aceleradas. A cooperativa de Bebedouro (SP) espera receber 1.5 milhão de sacas na safra 2020/21 – 25% a mais que no ciclo anterior. Desse total, 900.000 já estão negociadas para entrega entre junho e setembro deste ano. Outras 300.000 sacas estão comprometidas via barter com entregas previstas para 2021, 2022 e 2023. O ritmo de negociação está 30% maior que no mesmo período de 2019.
“A gente teve preços futuros muito bons desde janeiro e a paridade estava muito boa”, disse o presidente da Cooperativa, Fernando Degobbi. Neste ano, com o dólar valorizado, o aumento do preço do grão compensou a alta do custo dos insumos com folga. Em 2020, o dólar comercial registrou valorização de 28,20%.
A cooperativa encerrou 2019 com receita de R$ 4.8 bilhões (aumento de 16,17%) e esperava, antes da pandemia, um aumento semelhante em 2020. “Ainda não sabemos até que ponto isso vai afetar os negócios”, afirmou Degobbi.
Valor Econômico