Quedas de energia e falhas no sistema de ventilação de aviários trazem prejuízos aos produtores e sofrimento em massa aos animais
Com a onda de calor intenso das últimas semanas, a produção de aves no Brasil tem acumulado casos massivos de mortes de frangos devido a falhas nos sistemas de ventilação automatizada durante eventuais temporais e quedas de energia. Dentre os casos mais recentes, noticiados pela imprensa nacional, esteve a morte de 45 mil frangos em Martinópolis (SP), na última sexta-feira (7) – precedida por 18 mil frangos em Marau (RS), 25 mil frangos em Maringá (PR) e outros 4 mil frangos em Sorocaba (SP), no fim de janeiro.
A ocorrência é comum em sistemas de confinamento durante os períodos mais quentes do ano. Apesar de estar entre os três maiores produtores de aves do planeta e liderar a exportação mundial, o Brasil ainda carece de uma normatização que exija um plano de contingência e resposta a emergências para quedas de energia, desastres naturais ou outras situações de risco. A regulamentação minimizaria os prejuízos de produtores e empresas, que nestes casos perdem todo investimento realizado durante o período de criação, seja em instalações, suporte técnico, alimentação etc.; tal regulamentação evitaria ainda o sofrimento de milhares de animais, como neste caso, mortos por estresse térmico (hipertermia).
Das três principais espécies consideradas como animais de produção no Brasil – aves, bovinos e suínos –, os frangos representam o grupo mais suscetível ao calor, por não possuírem um mecanismo de troca de calor tão eficaz quanto o dos mamíferos. As aves são extremamente sensíveis à temperatura ambiente elevada e, em locais fechados, dependem de um sistema eficiente de ventilação. Frangos de corte com 40 dias de vida podem sofrer de desconforto térmico quando submetidos a temperaturas ambientes acima de 28°C. A situação torna-se crítica quando a temperatura ambiente ultrapassa 32°C e é oferece ainda mais risco quando combinada à umidade.
Um sinal claro de estresse térmico pode ser observado em alterações de comportamento, as aves ofegam e aceleram a sua respiração em até dez vezes na tentativa de perder calor (chamado de jadeio). A exaustão e o consequente descontrole da temperatura corporal podem levar à perda de peso, à debilidade ou até mesmo à morte. Em média, a hipertermia se torna fatal para os frangos com o aumento de apenas 4°C da sua temperatura corporal.
“O grande problema hoje é que o custo de um gerador pode parecer alto aos olhos dos pequenos e médios produtores de frangos”, explica a supervisora de bem-estar animal da WSPA Brasil, Thamiriz Nascimento. “Porém, se comparado às perdas massivas ocasionadas pelas horas sem controle de temperatura e umidade no galpão, o preço desse equipamento viabiliza-se tanto a curto quanto médio prazo”.
A WSPA acredita que uma solução simples é a atuação sinérgica entre as empresas chamadas integradoras e seus integrados (os produtores), por meio de incentivos ou bônus temporários para os produtores que investirem em sistemas alternativos de emergência. A inclusão destes recursos como item de melhoria durante a seleção de novos integrados também é um estímulo.
O caminho de médio prazo passa por um processo normativo e ações colaborativas entre indústrias, produtores, governo e associações do setor – como a União Brasileira de Avicultura (UBABEF), a Associação Paulista de Avicultura (APA), a Associação Paranaense de Avicultura (APAVI) e a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV) –, que possibilitariam minimizar e até mesmo evitar o sofrimento desnecessário de milhares de frangos por estresse térmico. Em casos como estes de falta de energia, especialmente com a intensificação da temperatura global devido às mudanças climáticas, ou ainda em situações de desastre.
“Se domesticamos e confinamos animais, independentemente do fim a que se destinam, é nosso dever prezar pelo seu bem-estar”, pondera José Rodolfo Panim Ciocca, zootecnista e gerente do Programa Nacional de Abate Humanitário (STEPS) da WSPA, que atua em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) na capacitação de inspetores e profissionais do setor agropecuário sobre bem-estar animal.
Fonte: WSPA