O isopor é um produto que serve para conservar itens frescos e/ou gelados e, até mesmo, para proteger móveis e utensílios domésticos, quando são transportados de um lugar para outro. Mas uma família mineira “descobriu” algo também bastante útil: plantar morangos utilizando um sistema de cultivo em calhas feitas deste material. Trata-se do Método Soilless, derivado do sistema semi-hidropônico para plantações de hortaliças.
De acordo com Gilberto de Almeida Santos, da empresa familiar Frutas Almeida Santos, que funciona no município de Antônio Carlos, distrito de Fagundes (MG), “as propriedades térmicas do isopor colocam as raízes do morango em um ambiente favorável ao desenvolvimento e à melhor sanidade”.
“Obtivemos bons resultados de produtividade, trazendo a inovação e o reforço da importância da cultura do morangueiro, tomate e demais hortifrútis no campo”, defende o agricultor.
Ao lado do irmão e sócio Fábio de Almeida Santos, Gilberto trabalha com outras três pessoas da mesma família — que inclui seus pais e sua irmã —, além do filho de seu principal cliente. Há cinco anos, eles vivem da agricultura familiar.
“Nossa ideia de usar calhas de isopor veio após amargarmos um prejuízo com o cultivo de slabs (plantio em sacos plásticos), ocasionado pelo frio excessivo, entupimento do sistema de gotejo e mau perfilhamento das plantas, que comprometeram nossa produtividade”, lembra.
De acordo com Gilberto, o uso de calhas de isopor, ao contrário, trouxe “melhor perfilhamento, permitindo com que as raízes da planta ficassem em um ambiente mais favorável à absorção de nutrientes”. “Algumas doenças, como a micosferela, muito comum na cultura do morangueiro, também deixaram de atacar a lavoura.”
O irmão Fábio explica que a calha de isopor pode reduzir a oscilação da temperatura em até 17 graus. “Com o sistema Soilless, ganhamos aproximadamente 400 gramas por planta, no período de sete meses, o que tem garantido a longevidade da nossa cultura, principalmente porque melhoramos o manejo da lavoura”, relata.
MICOSFERELA
Também conhecida como Pinta e Mancha-das-Folhas, a Mancha de Micosferela é causada pelo fungo Mycosphaerella fragariae. (Tul.) Lindau, que agride principalmente os folíolos. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o problema começa com a formação de pequenas manchas arredondadas e de coloração púrpura.
Depois, elas se desenvolvem ficando com tom marrom claro e com o centro acinzentado. Em “condições favoráveis”, as manchas podem se juntar, tomando conta de toda a folhagem. O fungo também pode infectar os pecíolos, cálices e frutos (no último caso, é mais incomum).
APOIO TÉCNICO
Os irmãos Almeida Santos adotaram o sistema Soilless após receberem apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), também localizada no município de Antônio Carlos, onde eles mantêm sua propriedade.
Para Gilberto, a troca de sistema foi muito importante porque, entre outras vantagens, eles deixaram de utilizar defensivos agrícolas. Além disto, quem faz o manejo dos morangueiros passou a trabalhar em pé. “Antes, um trabalhador cuidava de cinco mil plantas; hoje, são quase 15 mil para cada um. Isto porque trabalhamos em pé e fazemos a colheita com carrinhos”, relata o agricultor.
Na vida profissional desta família, o trabalho de um técnico tem ajudado bastante. “O extensionista Alcione Casemiro, da Emater da cidade de Antônio Carlos, nos auxilia nos coeficientes da cultura. Ele não mede esforços para nos trazer informações relevantes sobre a agricultura familiar”, destaca o produtor rural.
PRODUTIVIDADE
Gilberto também defende o emprego do sistema Soilless em morangueiros, porque as plantas sofrem menos estresse. “E isto se reverte em melhor produtividade. Nossa melhor produção alcançou 2,3 quilos em 15 meses; no cultivo tradicional, giraria em torno de 1,5 quilo. O aproveitamento da mão de obra também é significativo, saltando de cinco mil plantas por trabalhador no sistema convencional para 15 mil no sistema suspenso em calhas de isopor.”
Ele também explica que o fato de não utilizar o solo, mas substrato — composto por casca de arroz, casca de pinus e vermiculita —, elimina todas as doenças que vêm da terra. “Com as raízes em ambiente favorável para a absorção dos nutrientes, as plantas crescem com sanidade superior. Utilizamos ainda defensivos biológicos e o manejo preventivo. Com este tipo de manejo, colhemos e comercializamos um morango totalmente livre de agrotóxicos”, garante Gilberto.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 715/2016