Cadeia leiteira no Brasil: ano novo, velhos problemas

Principais desafios da cadeia de leite e derivados no Brasil giram em torno das oscilações dos preços, alto volume de importação observado no ano passado e a necessidade de maior participação da indústria na difusão de novas tecnologias. Foto: Divulgação

Representantes dos produtores de leite do Estado de Minas Gerais entregaram, no dia 13 de fevereiro, uma carta ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, apontando os principais desafios da cadeia leiteira em todo o país. Dentre eles, estão oscilações dos preços do produto e seus derivados, alto volume de importação observado no ano passado e a necessidade de maior participação da indústria na propagação de novas tecnologias.

Na opinião de Alberto Figueiredo, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura e representante da SNA na Câmara Setorial da Cadeia do Leite, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 2017 é um novo ano, mas os problemas relacionados a esse setor continuam antigos.

“O principal desafio enfrentado pelos produtores de leite de vaca, no Brasil, é sua incapacidade de união. Trata-se de uma atividade caracterizada pelo isolamento entre os produtores”, afirma o diretor da SNA.

Dentro dessa realidade, segundo Figueiredo, os produtores de leite e derivados compram seus insumos a preços elevados, provocados pelas compras em pequenas quantidades, e de comerciantes que vendem no varejo.

“Esse isolamento afasta os produtores das tecnologias disponíveis e do acesso à assistência técnica de forma continuada”, avalia.

Segundo ele, “a partir daí, decorrem baixas produtividades, que reduzem a renda bruta; e altos custos, que diminuem ou anulam a possibilidade de lucro, desestimulando a permanência do produtor de leite nessa atividade pecuária”.

 

PAPEL DAS INDÚSTRIAS

Durante encontro com o ministro, Romeu Borges, presidente do Sindicato Rural de Uberaba, disse que o setor pede a criação de incentivos fiscais para que a indústria entre nesse processo.

“Nós vivemos um momento de transição da atividade leiteira e, para conquistarmos mercados com sanidade, produtividade e qualidade, precisamos de transferência de tecnologia”, destacou Borges, em reportagem publicada pelo Canal Rural.

Para Figueiredo, realmente as indústrias, principalmente as privadas, quando oferecem assistência, se limitam às questões de higiene do leite, proporcional à exigência de qualidade do produto de que necessitam.

“Certamente, programas como o Balde Cheio, incrementados em parceria, poderiam ajudar na introdução de tecnologias sustentáveis e no aumento de renda dos envolvidos. Mas não podemos desconsiderar a resistência dos próprios produtores às tecnologias, pelo receio do aumento de gastos sem compensação nos resultados de curto prazo.”

Na visão do diretor da SNA, “as próprias instituições de pesquisas desenvolvem muitas teses, sem considerar os resultados financeiros esperados, o que torna os produtores inseguros na hora de decidirem aplicar mudanças”. “As indústrias deveriam estruturar departamentos de assistência técnica, com contrapartida dos produtores.”

 

“As indústrias deveriam estruturar departamentos de assistência técnica, com contrapartida dos produtores”, diz o diretor da SNA Alberto Figueiredo. Foto: Arquivo SNA

AUMENTO DAS IMPORTAÇÕES

Na carta entregue ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, os representantes da cadeia leiteira de Minas criticam o aumento da importação de produtos lácteos que, em 2017, chegou a quase 250 mil toneladas, um aumento de 80% em comparação ao ano anterior.

Segundo reportagem do Canal Rural, os números apresentam um déficit de US$ 480 milhões, o pior desempenho da balança comercial da cadeia leiteira nacional, desde 2013.

O diretor da SNA lembra que o aumento das importações se deveu à possibilidade de aquisição de produtos lácteos diversos, a preços competitivos: “Preços menores na importação são, normalmente decorrentes de três fatores: excesso de oferta em alguns países exportadores; subsídio para o produto em países exportadores; e fraudes na classificação do produto comercializado, com oferta de bebida láctea à base de soro do leite, como sendo leite”.

 

INTERVENÇÃO DO PODER PÚBLICO

Figueiredo acredita que, levando em consideração esses três aspectos, além da viabilidade da autossuficiência, “o poder público deveria intervir, oferecendo melhor fiscalizar da qualidade dos lotes dos produtos importados, além de impor barreiras alfandegárias”.

“Mais uma vez fica evidenciada a ineficiência do processo de produção, sendo necessária a vinda de produtores da Nova Zelândia, por exemplo, para nos ensinar a produzir leite em solo baiano”, comenta o diretor, que também é membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA.

Maior exportador de produtos lácteos do mundo, Nova Zelândia é um país famosos por investir, massivamente, em pesquisa e gestão do setor.

Na opinião dele, o poder público tem ação limitada nesse processo de fomento à atividade leiteira. “No entanto, não se podem desprezar os investimentos em pesquisa, em assistência técnica oficial e em algumas normas tributárias.”

 

Por equipe SNA/RJ

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