Cacau. Dia mundial do chocolate

Com um mercado diversificado e aberto a produções de orgânicos, entre outros segmentos. Foto/Freepik

O Dia Mundial do Chocolate, celebrado em 7 de julho, foi escolhido porque faz referência ao momento em que o cacau é levado da América Latina e chega na Espanha, ainda no período da colonização. Isso deu início não só ao conhecimento da fruta, mas principalmente às possibilidades de uso dela, como é o caso do chocolate. Com isso, a iguaria se torna uma verdadeira febre no velho continente e passa a ser consumido com frequência em vários países.

A recuperação das lavouras de cacau se deu décadas após a devastação causada pelo fungo “vassoura de bruxa”. Insumo fundamental na produção da iguaria, o cacau se reinventou no Brasil através do aperfeiçoamento genético de sementes, compreensão científica dos efeitos de pragas e métodos preventivos de cultivo. Com um mercado diversificado e aberto a produções de orgânicos, entre outros segmentos, o texto também aborda como as novas gerações de agricultores, muitos deles descendentes dos fazendeiros do apogeu cacaueiro, hoje tocam os negócios ao lado de pequenas propriedades que investem na capacitação e práticas sustentáveis.

Retrospecto de perdas e aprendizado

Entre 1989 e meados da década seguinte, a praga assim apelidada em função da aparência deformada que causava nas plantas afetadas dizimou lavouras no Sul da Bahia, que era o principal polo cacaueiro do país. O fungo Moniliophthora perniciosa, originário da Amazônia e causador da doença, se alastrou com rapidez assustadora, e foram necessários anos para frear o surto. Nesse meio tempo, a produção nacional, que chegou a ser a segunda maior do mundo, girando em torno de 400 mil toneladas, caiu no início do século seguinte para 100 mil. De exportador, o país passou a importar para conseguir atender à demanda interna.

O endividamento dos fazendeiros decretou o desemprego em massa de trabalhadores, sendo que boa parte dos agricultores era de pequeno e médio porte. A economia de cidades inteiras, que dependia das safras recordes, definhou aos poucos, causando ondas migratórias e fechamento de comércios locais. O impacto social, financeiro e produtivo somou-se à tragédia ambiental, já que o cacau era cultivado à sombra de exemplares remanescentes da mata atlântica da região. O desafio de preservar o bioma agigantou-se.

A compreensão dos mecanismos de atuação do fungo, bem como técnicas de monitoramento e métodos de manejo específicos, possibilitou uma longa e árdua recuperação. Em 2020, o Brasil fechou a produção em 250 mil toneladas, ocupando o sétimo lugar no ranking mundial. A Bahia foi destronada pelo Pará na liderança nacional, mas preserva o legado e tradição de uma época de opulência e fartura proporcionados pelas décadas de sucesso do cultivo, que influenciaram artistas, políticos, empresários, intelectuais e historiadores.

Foto/Freepik

A natureza peculiar do cacaueiro, árvore que demora anos para frutificar, por muito tempo dificultou as análises técnicas que hoje tornam possível o manejo adequado dos ramos infectados. O foco é no combate preventivo, com aplicação de hormônios que aumentam a resistência dos frutos, e sementes geneticamente modificadas, menos suscetíveis à praga. O cuidado se dá antes mesmo do plantio, para que o pé de cacau seja o mais forte possível, além do olhar atento dos produtores.

Novas perspectivas e registros

No auge da vassoura de bruxa, o Brasil ainda lutava contra mazelas de outra natureza, tais como inflação alta, sobressaltos políticos pós-redemocratização e instabilidade internacional. A queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética eram acontecimentos recentes, redesenhando o arranjo de forças e potências pela primeira vez em gerações. Sem o imediatismo e agilidade da internet, redes sociais e canais jornalísticos em tempo integral, o suprassumo da tecnologia eram itens distantes da população em geral, como aparelhos de fax e telefones celulares. O noticiário dos canais abertos não dava conta de transmitir aos brasileiros a gravidade do que acontecia na Bahia.

Com a promessa de uma caracterização atualizada e que assimile as mudanças ocorridas desde 1993, é salutar que mídias de influência busquem retratar um universo importante na vida de tantos brasileiros, numa época em que a troca de informações e ideias é instantânea, de modo a aproximar a figura do produtor rural através de temas e anseios que são atemporais e comuns a todos.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp