Cacau – Cotações atingem o maior nível em quatro décadas e preço do chocolate deve subir

Os contratos futuros de cacau estão no maior nível em quase quatro décadas, o que deve se refletir nos já altos preços de chocolate. Na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), o cacau acumula uma alta de mais de 36% em 2023, sendo a commodity um dos melhores investimentos do 1º semestre. Esse desempenho vem sendo impulsionado pela forte demanda, oferta global mais escassa e previsão de clima desfavorável na África Ocidental, a principal região produtora.

Preços mais altos nos EUA

Segundo a empresa de pesquisa de mercado Circana, o preço unitário de barras de chocolate nos Estados Unidos subiu mais de 20% desde 2021. No passado, grandes produtores de chocolate reagiam aos altos preços de cacau diminuindo o tamanho das barras, substituindo manteiga de cacau por óleo de palma ou outros ingredientes, e, em muitos casos, elevando os preços.

“Isso vai pressionar os produtores de chocolate em termos de lucratividade”, disse Pascal Baltussen, chefe de operações da Tony’s Chocolonely, uma empresa de chocolate especializada em produtos que atendem a certos padrões éticos e ambientais.

Compradores em alerta

A alta dos preços está afetando o comércio de cacau, com compradores cancelando pedidos e evitando comprar com muita antecedência, segundo Javier Lastanao, trader da Quanton Commodities, com sede em Londres. “Todo mundo está muito nervoso, especialmente os compradores”, disse. A maioria dos grandes consumidores de cacau fecha contratos com meses ou mais de um ano de antecedência para garantir preços mais baixos. “Com essa situação de preços, estamos conservadores nas compras”, disse.

Demanda elevada

A demanda global por cacau na temporada que termina em 30 de setembro deve superar a oferta em 142.000 toneladas, o equivalente a 161.000 toneladas de barras de chocolate. Os estoques da commodity ao fim do ciclo devem totalizar 1.6 milhão de toneladas, queda de 8% na comparação anual, segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO). Traders e analistas destacaram também que temores em relação ao El Niño, que costuma reduzir a produção na África Ocidental, vêm dando suporte aos preços.

Guerra da Ucrânia

A guerra na Ucrânia também tornou os fertilizantes mais caros, levando produtores a reduzir seu uso. Além disso, há relatos de problemas de qualidade na África Ocidental, com amêndoas menores do que o desejável. Na safra deste ano, eram necessárias, em média, 120 amêndoas para completar 100 gramas, enquanto a preferência de exportadores é de 80 a 100 amêndoas por 100 gramas, segundo a ICCO.

Embarques

Entre outubro do ano passado e 4 de junho deste ano, os embarques de cacau na Costa do Marfim totalizaram 2.1 milhões de toneladas, queda de 4,80% em relação ao mesmo período do ciclo anterior. Enquanto isso, a moagem de cacau, que é vista como um indicador da demanda por chocolate, registrou volumes recordes na Ásia e na Europa no ano passado.

Preocupação com a legislação

Há preocupação também quanto à legislação contra o desmatamento que entrou em vigor na União Europeia na semana passada. Com a lei, empresas terão 18 meses para se preparar e comprovar a origem do cacau e de outras seis commodities importadas para o bloco. A UE, que importa mais da metade do cacau produzido no mundo, está na prática proibindo a importação de cacau que foi produzido em terras que foram desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

No passado, altos preços de cacau levaram produtores na Costa do Marfim e em Gana, que juntos são responsáveis por mais de 60% da oferta mundial, a desmatar florestas para plantar mais pés de cacau. O problema é que as empresas ainda precisam encontrar meios de provar que estão cumprindo as novas regras, disse Alex Assanvo, Secretário-Executivo da Iniciativa de Cacau Costa do Marfim-Gana. Segundo ele, nenhuma empresa hoje pode afirmar com certeza que 100% de seu cacau se enquadra nas regras.

Fonte: Dow Jones Newswires
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