A disputa por área nos Estados Unidos sempre traz volatilidade ao mercado internacional de grãos e, entre seus repiques de preços, oportunidades para os produtores brasileiros também. Segundo analistas internacionais e nacionais, este ano não deve ser diferente, principalmente, após a quebra severa da safra da Argentina na temporada 2017/18 e da projeção de um espaço menor dedicado ao milho e à soja nos campos norte-americanos.
Segundo Karen Braun, analista de mercado da Reuters Internacional, a previsão de uma área de 35.61 milhões de hectares para o cereal na safra 2018/19, que se confirmada será 2% menos do que a temporada anterior, pode ser um dos primeiros sinais de que os preços do milho poderiam encontrar um cenário mais favorável adiante.
Afinal, ao lado de uma área menor, as projeções dos estoques finais norte-americanos do presente ano comercial, que se encerra em 31 de agosto, vêm sendo reduzidas pelo USDA e deverão ficar em 54.03 milhões de toneladas, o que ficaria 7% abaixo do ano anterior.
“Brincando com esses números um pouco, não demorou muito para percebermos que um quadro notadamente favorável para as cotações do milho pode estar se formando para o mercado em 2018”, disse Karen.
Ainda segundo a analista, cruzando os estoques 2017/18 com as últimas expectativas de área 2018/19, já traria os estoques finais de milho dos EUA na nova safra para algo próximo a 44.02 milhões de toneladas. “Esse número é basicamente idêntico ao de 2014/15 e 2015/16, mas bem menor do que o do ano passado”, disse a analista da Reuters.
Em fevereiro, O USDA esperava uma área maior de milho, a qual poderia ficar na casa dos 36.42 milhões de toneladas e, por isso, estimava estoques finais 2018/19 de 57,71 milhões de toneladas. Em março, porém, aumentou suas projeções de uso do cereal para a produção de etanol internamente, bem como suas exportações neste ano comercial.
Os números indicariam, portanto, uma demanda mais agressiva pelo cereal americano, o que poderia resultar em estoques finais da nova temporada ainda menores, abaixo das 44.02 milhões de toneladas.
Estoques de Soja
Para o analista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, os estoques norte-americanos de soja também deverão ser reduzidos daqui em diante.
“E isso virá não pela demanda, mas pela oferta, com as projeções menores de safras pela frente, e se, eventualmente, ocorrerem problemas climáticos por lá”, diz, em entrevista ao Notícias Agrícolas. “E esse pode ser o mote principal que teremos pela frente em termos de preços”, disse.
A área de soja na safra 2018/19 dos Estados Unidos, apesar de projetada para superar a de milho pela primeira vez na história, foi estimada pelo USDA na última semana em 36.02 milhões de hectares. O número surpreendeu o mercado ao ficar abaixo de todas as expectativas e também do divulgado em fevereiro, de 36,42 milhões de hectares, durante o Agricultural Outlook Forum.
Os últimos números dos estoques finais norte-americanos para a temporada 2017/18 foram de 15.1 milhões de toneladas estimados no relatório mensal de março do USDA, considerando uma área 36.46 milhões de hectares, uma produção de 119.53 milhões de toneladas, e serão atualizados em 10 de abril.
Milho x Soja x Demais Culturas
No entanto, ainda segundo Karen Braun, existe uma chance de que as áreas de soja e milho ainda sejam maiores do que as estimativas apresentadas no último dia 29. Ambas as culturas estariam ‘perdendo espaço’ para outras como o trigo de primavera, o algodão, que deve apresentar um crescimento de 7% em relação a 2017, e outros grãos em função de suas relações mais favoráveis de preços.
Mapa mostra mudança da área de soja nos principais estados produtores dos EUA em relação a 2017 – Fonte: Bloomberg
Porém, caso esse movimento de cotações melhores para o milho se confirme, mesmo que aos poucos, “poderemos ver produtores americanos dedicando mais área ao milho do que o previsto. E isso ainda está muito atrelado também às condições de clima que serão observadas no Meio-Oeste entre abril e maio”, disse a analista da Reuters.
Mapa mostra mudança da área de milho nos principais estados produtores dos EUA em relação a 2017 – Fonte: Bloomberg
Mapa mostra mudança da área de trigo de primavera nos principais estados produtores dos EUA em relação a 2017 – Fonte: Bloomberg
Fonte: Notícias Agrícolas, com informações da Reuters Internacional e Bloomberg