Brasil tem potencial para triplicar produção de etanol de milho em três anos

“Etanol” e “combustível de cana-de-açúcar” podem deixar de serem termos praticamente sinônimos no Brasil. Em cinco anos, a produção do renovável feito de milho pode saltar de entre 600 e 700 milhões de litros para algo entre três e 3.5 bilhões de litros ao ano.

Essa projeção é do presidente da União Nacional de Etanol de Milho (Unem), Ricardo Tomczyk. Mas o governo corrobora com a perspectiva de ascensão, ainda que de forma mais moderada. Segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), a produção nacional a partir do cereal pode alcançar até 3.4 bilhões de litros em 2030.

Desafiador, mas com um potencial concreto: o aumento na produção de etanol de milho no Brasil já está no radar do governo – aspecto evidenciado nas projeções da EPE para a oferta de etanol até 2030.

Em maio deste ano, o Rabobank publicou um relatório sobre a produção agrícola de Mato Grosso, estado que mais produz milho atualmente no Brasil. Dentre as análises de Andy Duff no documento, ele estima que, considerando projetos já anunciados, a produção de etanol de milho da região deva triplicar ao longo dos próximos três anos, chegando a dois bilhões de litros.

Este aumento já pode ser percebido. Informações da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que, de 1º de abril a 16 de julho deste ano, a produção de etanol de milho chegou ao acumulado de 187.80 milhões de litros, ou seja, 163% a mais em relação ao volume em igual período de 2017.

O etanol de milho é um produto ainda recente no Brasil. A primeira usina chamada flex, que utiliza cana e milho, data de 2011. Ela foi construída em Mato Grosso, anexa a uma unidade já existente de cana-de-açúcar, a fim de aproveitar a mesma destilaria para produção do etanol de milho na entressafra de cana. Hoje, há mais duas usinas flex no estado.

No ano passado, a primeira usina que produz etanol apenas de milho começou a funcionar em Lucas do Rio Verde (MT).

Segundo o Rabobank, o interesse pelo etanol de milho no estado cresce pela combinação de fatores como preços baixos do cereal, valor agregado do DDG (grãos secos de destilaria, coproduto de etanol) e perspectivas de aumento da demanda de milho tanto para ração animal quanto para o biocombustível.

Em contrapartida a esses fatores, além da dificuldade logística, estão os preços internacionais do petróleo (que influenciam no valor da gasolina nacional), impostos como ICMS, Pis/Cofins e Cide e a alta competitividade do etanol importado dos Estados Unidos, que, aliás, também é produzido com milho.

Além disso, conforme o setor cresce, maiores serão as vendas para fora do estado. O retorno financeiro dependerá da comercialização para locais com preços mais elevados, como nas regiões Norte e Nordeste, sem que os custos com o transporte deteriorem a receita. Em termos, isso já ocorre: em 2017, 60% da produção do anidro de milho foi vendida principalmente para Rondônia e Amazonas.

O Rabobank, no entanto, alerta que os mercados de etanol e de milho não andam juntos. Afinal, o primeiro é, em sua maior parte, influenciado pelo preço da gasolina e da oferta do renovável de cana. Assim, os projetos relacionados ao biocombustível de milho devem estar preparados para quando os mercados se descolam.

Um “mar de milho” em Mato Grosso

Na safra 2016/17, a produção de milho em Mato Grosso atingiu a marca de 28.9 milhões de toneladas, o que corresponde a 30% da produção nacional. Há seis safras, a quantia não chegava a dois milhões de toneladas, representando módicos 4% da produção nacional.

No estudo, o banco faz a analogia de que, se Mato Grosso fosse um país, ele seria o quinto maior produtor mundial, considerando o cultivo da temporada 2016/17. Ficaria atrás apenas de Estados Unidos, China, Argentina e Brasil. Um verdadeiro “mar de milho”, como descreve o documento.

O motivo dessa ampliação vertiginosa é, principalmente, o aumento da produção do milho safrinha – uma segunda colheita feita após a da soja. Logo, o incremento da área plantada de milho está atrelado ao de soja. A região destinada para a dupla safra no Mato Grosso, que era de 10% da área de soja no início dos anos 2000, passou para 50% na temporada 2016/17, gerando um salto de 300.000 hectares para 4.6 milhões de hectares de milho safrinha.

No documento, o especialista também destaca o papel do desenvolvimento de variedades que permitem um ciclo precoce de soja, o que aumenta a cultura de milho dentro de um plantio com boas condições de clima. A evolução de técnicas de manejo com adaptabilidade de híbridos, definição de espaçamento ideal e ajuste da adubação também tem resultado em ganhos de produtividade, que passou de 2,9 toneladas/hectare na safra 2000/01 para 6,2 toneladas no ciclo 2016/17 em Mato Grosso.

Por outro lado, a rentabilidade do cereal sofre reveses com preços elevados delineados pela dificuldade logística do transporte, sendo que, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), no ciclo 2016/17, somente 15% da produção do estado foi utilizada internamente, enquanto 25% foram para outros estados e 60% foram exportadas.

Segundo o Rabobank, para desviar das pressões logísticas e seguir um caminho mais rentável, os produtores do estado buscam atalhos para conseguir um incremento na renda: verticalização e intensificação produtiva são dois deles. Neste cenário, as usinas de etanol também estão cada vez mais de olho no cereal comercializado em Mato Grosso a preços inferiores do que em outras regiões do Brasil.

 

Fonte: novaCana

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