Brasil rural: Covid-19, renda e auxílio emergencial

Por Ivelise Rasera Bragato Calcidoni*

A pandemia de Covid-19 alterou a rotina de pessoas e empresas ao redor do mundo. O distanciamento social e as restrições de mobilidade resultaram em queda no consumo de produtos e serviços, dentre eles o etanol biocombustível.

Assim, mesmo diante da queda na produção de etanol no centro-sul brasileiro na safra 2020/21, os valores do biocombustível estão em queda. Esse cenário é o contrário do observado na temporada passada (2019/20), quando a demanda firme por biocombustível – devido à vantagem frente à gasolina C nas bombas – deu o tom altista aos preços dos etanóis.

Levantamento do Cepea mostra que os preços médios dos etanóis hidratado e anidro no Estado de São Paulo fecharam o primeiro trimestre da safra (abril-maio-junho) com fortes quedas frente ao mesmo período da temporada 2019/20.

O valor médio desse trimestre do etanol hidratado (considerados os indicadores Cepea/Esalq mensais de abril a junho) teve recuo de 18,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2019 em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de junho/20). No caso do etanol anidro, a desvalorização foi ainda maior, de 19,7% no mesmo comparativo.

Do início da atual temporada 2020/21 (em abril) até os primeiros 15 dias de julho, as vendas de etanol hidratado na região centro-sul do País somaram 4,88 bilhões de litros, contra 6,67 bilhões de litros em igual período de 2019, e com forte queda de 27%.

As vendas de etanol anidro também caíram, 14,5% no mesmo período, somando 2,12 bilhões de litros na parcial da atual temporada. Os dados são da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

A entrada de etanol de outros estados do centro-sul em bases paulistas também reforça a pressão sobre os preços do biocombustível. O etanol, especialmente de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, chega a bases de São Paulo a preços atrativos, considerando-se os diferenciais logísticos e os custos de transferências.

Nas usinas, as unidades do centro-sul diminuíram a alocação de cana-de-açúcar para o etanol na atual safra, tendo como foco a produção de açúcar, que registra demanda mundial aquecida. Além disso, o dólar em patamar elevado vem intensificando as exportações brasileiras do adoçante.

Vale lembrar que algumas consultorias internacionais preveem queda de produção de açúcar na safra mundial 2019/20 (a ser encerrada em setembro de 2020) e déficit de produto, por ser um alimento mais barato em meio à pandemia.

Na parcial desta safra (de abril até os primeiros 15 dias de julho), enquanto a produção de açúcar no centro-sul cresceu 50% em relação ao mesmo período da temporada anterior, a de etanol total caiu 5,9%, de acordo com dados da Unica.

Nesse cenário de menor consumo dos combustíveis, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) flexibilizou a contratação de etanol anidro para esta temporada.

Neste caso, com limite para homologação até 1º de julho e prorrogação do prazo, o volume caiu de 90% para 74% do total adquirido desse tipo de combustível por meio da modalidade dos contratos, com validade de julho de 2020 a maio de 2021 (Resolução da ANP nº 819/2020, publicada no Diário Oficial da União em 8 de junho).

Essa resolução diminui a compra de anidro pelas distribuidoras por meio de contratos, deixando espaço para aquisições mais flexíveis no spot, caso sejam necessárias (apesar de ainda se manter a obrigatoriedade do percentual de 70% em contratos).

No caso das usinas, estas podem focar na produção de outros itens, especialmente na de açúcar, que tem se mostrado mais rentável.

Essa mudança de percentual ocorreu não só porque diminuiu o período para manutenção de contratos no presente ano-safra em relação aos anteriores, mas também com o objetivo de manter a compatibilidade entre demanda e oferta de anidro, de forma que os preços não sofram pressão de queda.

Ressalta-se que o percentual estabelecido na legislação incide sobre a comercialização do ano anterior e a sua mudança visa a um ajuste quantitativo em um momento de menor demanda por combustíveis.

 

*Ivelise Rasera Bragato Calcidoni é pesquisadora do Cepea.

 

Cepea

 

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