Brasil registra volume recorde de embarques de soja em setembro

O Brasil registrou em setembro o maior volume exportado de soja para o mês de sua história, com as vendas da oleaginosa mantendo-se maiores que as de milho, despertando dúvidas sobre a capacidade de o país atingir um recorde projetado para o cereal neste ano.

Os embarques de soja em setembro totalizaram 3.71 milhões de toneladas, acima das 3.46 milhões de toneladas de milho, mostraram nesta quinta-feira dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Em setembro de 2014, as exportações do milho — que dominam os espaços nos portos nos últimos meses do ano — já haviam superado as da soja.

As exportações de soja em setembro registraram alta de 39% em relação ao mesmo mês de 2014, enquanto as de milho subiram 29%, na mesma comparação.

Contando com uma demanda firme da China, o Brasil já exportou um volume recorde de soja em 2015, totalizando 49.56 milhões de toneladas até setembro, superando todo o ano de 2014, quando foram exportadas 45.69 milhões de toneladas, segundo a Secex.

O País colheu uma safra recorde este ano, tanto de soja quanto de milho.

Metodologia

Com uma taxa de câmbio favorável, muitos agentes do mercado e analistas estimam uma exportação recorde também de milho neste ano, escoando um grande volume do cereal que não encontra mercado suficiente dentro do País.

Os dados da Secex, contudo, despertam questionamentos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou exportações de milho de 26.4 milhões de toneladas na temporada entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016.

Com o acumulado de embarques de milho desde fevereiro de 9.13 milhões de toneladas, seria necessário embarcar 4.3 milhões de toneladas mensais de outubro a janeiro para atingir a projeção do governo, um volume mensal nunca registrado. O recorde até agora foram 3.95 milhões em outubro de 2013.

A explicação pode estar na metodologia do governo, que não estaria revelando completamente o volume dos embarques de milho do Brasil.

“Apesar de os dados da Secex ainda não estarem mostrando exportações de milho em níveis mais altos, em meio ao contexto favorável, o acompanhamento mensal feito pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereal (ANEC) mostra um volume de embarques mais elevado”, observou a analista da INTL FCStone Ana Luiza Lodi, no relatório recente.

Em agosto, por exemplo, a ANEC registrou exportações de milho de 4.49 milhões de toneladas contra 2.28 milhões de toneladas da Secex, devido a uma diferença de metodologia.

“Os dados da ANEC consideram o que foi efetivamente embarcado no período, enquanto a Secex precisa fechar toda a documentação para o dado poder ser lançado no sistema”, lembrou consultoria.

A consultoria AGR Brasil também destacou esta semana que, apesar de os números da Secex levantarem dúvidas sobre a capacidade do País exportar todo o milho previsto para a temporada, a resposta pode estar na burocracia dos registros.

“Essa diferença acontece devido a um ‘atraso’ desde a entrega da documentação de saída do navio do porto até a contabilidade do governo”, disse consultoria em relatório a clientes.

A AGR Brasil disse que a escala de navios programados para embarcar milho no Brasil em setembro apontava exportações de 5.17 milhões de toneladas. No ano passado, no mesmo período, os embarques haviam sido de 2.91 milhões de toneladas. As exportações de milho em setembro, portanto, seriam quase 80% superiores à do mesmo mês de 2014.

“Mesmo com essa diferença mês a mês, no fim do ano o número total exportado é praticamente idêntico (entre pesquisas e dados da Secex)”, disse a AGR.

Apesar do bom ritmo de embarques de soja nos últimos meses, os números da Secex mostram que não deve haver falta de capacidade portuária para embarcar grandes volumes.

No mês passado, os portos brasileiros embarcaram 8.26 milhões de toneladas de soja, farelo de soja e milho somados, um volume bem mais folgado que o recorde histórico registrado em junho, de 11.6 milhões de toneladas dos três produtos combinados.

Terminais do norte do litoral brasileiro, como o recém-inaugurado Tegram, em São Luís (MA), e os terminais de Barcarena, na região de Belém (PA), elevaram a capacidade de escoamento do País.

 

Fonte: Reuters

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