A piscicultura brasileira manteve a rota de crescimento em 2019. A produção aumentou 4,90% e chegou a 758.006 toneladas. Os dados são do Anuário Peixe BR de Piscicultura 2020.
O Brasil reforça a posição de quarto maior produtor de tilápia do mundo. A espécie, aliás, já representa 57% da produção nacional. Os peixes nativos se mantiveram fortes, com 38%, e as demais espécies participam com 5%.
“Indiscutivelmente, o resultado é positivo, porém, poderia ter sido melhor”, disse Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), responsável pelo Anuário.
“A grande oferta de tilápia no segundo semestre de 2018 e primeiro de 2019 fez com que o produtor reduzisse o povoamento, levando à escassez do produto na segunda metade do ano passado”.
Nos últimos seis anos (período de levantamento da Peixe BR), a produção de peixes de cultivo aumentou 31% no País: de 578.800 toneladas (2014) para 758.006 toneladas (2019).
Tilápia cresce
Com produção de 432.149 toneladas, a tilápia representou 57% de toda a piscicultura brasileira em 2019. No ano anterior, a espécie participou com 54,10%. O resultado de 2019 foi 7,96% superior ao de 2018, comprovando a preferência nacional pela espécie.
A tilápia está presente em todos os estados, exceto Amazonas, Rondônia e Roraima. Com esse resultado, o Brasil consolida-se na quarta posição entre os maiores produtores de tilápia no mundo.
Peixes nativos estáveis
O levantamento da Peixe BR identificou estabilidade na produção de peixes nativos em 2019, com aumento de apenas 20 toneladas na produção, totalizando 287.930 toneladas.
“Sob o ponto de vista da produção e oferta de peixes nativos, o resultado é positivo, pois inverteu a tendência de queda verificada nos anos anteriores”, disse Medeiros, presidente da Peixe BR.
Entre 2018 e 2017, a produção nacional de peixes nativos, liderada pelo tambaqui, recuou 4,70%. Com o resultado de 2019, os peixes nativos passaram a representar 38% da produção total, recuando quase 2% em relação aos 39,84% do ano anterior.
Outras espécies avançam
As outras espécies de peixes de cultivo (lideradas por carpas, truta e panga) representaram uma grata surpresa no desempenho da piscicultura brasileira em 2019.
O levantamento da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) mostra que a oferta dessas espécies (ainda pequena) aumentou 8,72%, saindo de 34.370 toneladas para 37.927 toneladas. Com isso, a participação no total da produção aumentou de 4,60% para 5%.
Entre os motivos do aumento da produção dessas espécies, ganham destaque a presença do panga em estados das regiões Sudeste (principalmente em São Paulo) e Nordeste, além do aumento das carpas e trutas na região Sul.
Paraná amplia liderança
Entre os estados, o Paraná registrou um crescimento espetacular de 18,70% na produção de peixes de cultivo em 2019, com 154.200 toneladas, segundo a Peixe BR.
Com isso, não apenas se consolida na liderança por estados como amplia a vantagem sobre o segundo colocado (São Paulo). Na contramão, São Paulo e Rondônia, respectivamente segundo e terceiro maiores produtores de peixes de cultivo do País, tiveram um ano negativo, reduzindo sua produção.
Região Sul já representa 30%
A região Sul ampliou sua participação na piscicultura brasileira, alcançando 30,30% da produção total em 2019, segundo a Peixe BR, contra 27,50% no ano anterior. Em seguida estão as regiões Norte (20%), Nordeste (18,35%), Sudeste (16,80%) e Centro-Oeste (14,55%).
Ao contrário do Sul, todas as demais regiões perderam espaço. O maior recuo foi do Centro-Oeste. Em termos de produção, o Sul avançou 15,51% em 2019. O Nordeste (3,46%) e o Sudeste (2,58%) também cresceram no ano passado. Centro-Oeste (-2%) e Norte (-0,60%) perderam espaço.
Quarto maior produtor de tilápia
O Brasil produziu 432.149 toneladas de tilápia em 2019. Com isso, aumentou a distância do quinto e sexto maiores produtores (Tailândia e Filipinas), que ficaram no patamar de 350.000 toneladas/ano.
A China se mantém, com grande folga, na liderança, com 1.93 milhão de toneladas (2019). A Indonésia está em segundo lugar, com 1.35 milhão de toneladas, informou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O Egito (terceiro lugar) produziu 900.000 toneladas no ano passado.
Exportações aumentam 26% em 2019
A piscicultura é o segundo mais importante segmento das exportações de pescado do Brasil, representando quase US$ 12 milhões (4% do total), em 2019. O setor de pescado como um todo exportou US$ 275 milhões no ano passado.
O ponto positivo é que as exportações da piscicultura (e seus subprodutos) vêm aumentando e registraram um crescimento de 26% em 2019 em relação ao ano anterior, passando de 5.185 para 6.543 toneladas. Entre 2015 e 2019, as exportações do setor registraram um crescimento de 833%, passando de 701 para 6.543 toneladas.
A pauta das exportações é composta por filés, mas também por subprodutos próprios e impróprios para a alimentação humana, tais como peles, escamas, óleos, gorduras e farinhas.
Apesar de os subprodutos representarem 65% do volume em toneladas, essas categorias respondem por apenas 34% do valor, tendo em vista que são produtos com baixo valor agregado, se comparados aos filés ou aos peixes inteiros.
A tilápia consolida-se como o carro-chefe das exportações da piscicultura (5.322 toneladas), com aumento de 19% no volume exportado em 2019.
Os peixes de cultivo e seus derivados exportados pelo Brasil têm como principais destinos os Estados Unidos, o Japão e a China.
Apesar de importar um volume menor em toneladas em comparação com o Japão e a China, os Estados Unidos representam o maior valor de importações em dólar por importar principalmente filé de tilápia fresco, que possui alto valor agregado.
Drawback contribui
O regime aduaneiro de drawback, que consiste em incentivo fiscal à exportação, permitindo a importação ou a aquisição no mercado interno, desonerada de tributos, de insumos a ser empregados na produção de bens destinados à exportação, é importante para o aumento das exportações de tilápia – primeira espécie da aquicultura a ser incluída no regime, em 2018.
Em 2019, foram aprovados atos concessórios de drawback para exportações de 3.023 toneladas de tilápia, ou seja, 57% do volume total exportado (5.322 toneladas).
Empresários otimistas
As empresas associadas àPeixe BR estão confiantes tanto no desempenho da economia brasileira em 2020 quanto da própria atividade.
Pesquisa exclusiva para o Anuário Peixe BR 2020 mostra que 100% das empresas que responderam ao questionário da entidade estão com expectativa positiva, sendo que 55% estão confiantes, 36% muito confiantes e 9% extremamente confiantes.
“As empresas associadas concordam que faltam muitas reformas e ajustes, mas confiam no processo em andamento, especialmente a partir da maior participação da sociedade nas discussões”, disse o presidente executivo da Peixe BR.
Quanto à confiança das empresas na piscicultura brasileira, o resultado da pesquisa do Anuário Peixe BR 2020 é ainda de mais otimismo: 27,20% das empresas têm confiança no crescimento da atividade em 2020, cerca de 36,20% têm muita confiança e 36,20% estão extremamente confiantes.
“O crescimento econômico deve puxar o consumo de proteínas animais”, disse Medeiros. “O fator China também é citado pelos empresários. Caso a demanda de carnes pelo país asiático se mantenha elevada, o mercado interno será impulsionado, puxando as carnes, inclusive as de peixes de cultivo”.
Agrolink