As disputas comerciais entre Estados Unidos e China, que ainda não têm hora marcada para terminar, abriram espaço para o aumento da participação brasileira nas exportações mundiais de soja em grão na safra internacional 2018/19, que terminará neste mês, e deverão manter em alta o protagonismo do país nesse mercado na próxima temporada.
O cenário foi confirmado por novas estimativas para oferta e demanda de grãos divulgadas ontem pelo USDA, que atestaram ainda a consolidação do Brasil como um grande fornecedor global de milho.
Segundo o USDA, os embarques brasileiros de soja alcançarão 76.9 milhões de toneladas no ciclo que chegará ao fim este ano ou 51,80% do total (148.3 milhões de toneladas). Em 2017/18, segundo o órgão, foram 76.2 milhões de toneladas ou 49,80% de um volume que totalizou 153.1 milhões de toneladas.
A queda do total é puxada pela China, cujas importações cairão de 94.1 milhões de toneladas, em 2017/18, para 83 milhões em 2018/19 – cerca de 56,30% do total global, e vitimarão os EUA, cuja fatia nas exportações recuará de 37,90% para 31,20% na mesma comparação.
Para a safra 2019/20, o quadro não deverá mudar muito. Embalado por uma colheita que o USDA estima em 123 milhões de toneladas – seis milhões a mais do que em 2018/19 e equivalente a 35,40% do total projetado para o mundo, o Brasil deverá exportar, de acordo com o órgão, 76.5 milhões de toneladas ou 50,60% de um total de 149.2 milhões de toneladas.
Com a renovação da tensão entre Washington e Pequim, os EUA, cuja colheita deverá cair 19%, para 100.2 milhões de toneladas, deverão exportar 48.3 milhões de toneladas ou 31,9% do total. Argentina e Paraguai tendem a ganhar pequenas fatias no comércio, e a China deverá importar dois milhões de toneladas a mais (cerca de 85 milhões).
Se prevalecer o preço médio das exportações de soja em grão do Brasil em julho (US$ 356,60), os embarques estimados pelo USDA para o país em 2019/20 renderão US$ 27.3 bilhões.
No Hemisfério Norte, a colheita de grãos da safra 2019/20 começará a ganhar força em setembro, ao passo que no Hemisfério Sul é o plantio da nova temporada que terá início no mês que vem.
Ainda não há projeções oficiais no Brasil sobre as tendências para a semeadura, mas analistas preveem novo aumento, sobretudo pelo fortalecimento da “parceria” com a China, que, em mais um rodada da briga com os EUA, orientou recentemente suas estatais a não comprarem produtos agrícolas americanos.
Além de confirmar a consolidação do Brasil na liderança das exportações mundiais de soja em grão, o levantamento publicado ontem pelo USDA também apontou que o país está se firmando como um importante fornecedor de milho.
Nas contas do órgão, a safra 2018/19 vai terminar com os embarques do país em 34 milhões de toneladas ou 21% do total – em 2017/18, com 25.1 milhões de toneladas, a fatia brasileira foi de 16,90%.
Embora produza muito menos que os EUA (101 milhões contra 366.3 milhões de toneladas), o Brasil, sem problemas climáticos, tem condições de apresentar um excedente exportável expressivo, o que deverá se repetir no ciclo 2019/20.
Segundo os dados divulgados ontem pelo USDA, que ainda não levam em consideração estimativas concretas de plantio, o Brasil repetirá na próxima temporada o volume de produção e de exportações. Se confirmado o horizonte, o país vai se manter como o segundo maior exportador de milho do mundo, com cerca de 20% do total e, mais uma vez, atrás apenas dos americanos.
Valor Econômico