Brasil mantém competitividade e lidera exportações globais de soja

Os números recordes nas exportações brasileiras de soja não param de aparecer. Somente nas duas primeiras semanas de maio, o Brasil já embarcou 5.2 milhões de toneladas da oleaginosa. Em abril, foram 10.1 milhões de toneladas, ou seja, 20% a mais do que em março e 50% a mais do que no mesmo mês de 2014. Dessa forma, o País se consolida, nesta temporada 2015/16, como o maior exportador mundial da commodity.

Especialistas atribuem essa explosão nas vendas externas de soja a uma conjunto de fatores. Porém, o mais importante deles foi, sem dúvida, a alta do dólar, principalmente durante o período em que ocorreu a comercialização antecipada do produto do atual ano safra, quando a moeda norte-americana chegou a superar os R$ 4,00, aumentando a competitividade da oleaginosa nacional. E o aumento das exportações brasileiras acabou, inclusive, tomando boa parte do mercado norte-americano neste período diante de uma demanda global extremamente aquecida.

Em seu último relatório mensal de oferta e demanda, o USDA revisou os números das importações mundiais para 131.08 milhões de toneladas, contra as 123.39 milhões do ano safra 2014/15. Dessa forma, a estimativa dos estoques finais mundiais da atual temporada, 74.25 milhões de toneladas, ficou abaixo da safra anterior, 78,08 milhões de toneladas. O USDA estimou ainda que as exportações mundiais deverão alcançar na temporada 2015/16 a 132.58 milhões de toneladas contra as 126,15 milhões de toneladas de 2014/15.

A soja brasileira pode, ainda, ocupar o espaço que deverá ocorrer pelas quebras da safra da Argentina por conta do excesso de chuvas. O país, segundo o diretor executivo da consultoria Globaltecnos, Sebastián Gavalda, em entrevista à  Reuters, pode exportar 25% menos em função dessas perdas, totalizando um volume modesto de apenas 8.5 milhões de toneladas. A perda de qualidade dos grãos argentinos também pesou nessa contabilidade.

Demanda 

Ainda segundo os últimos números do USDA, a China, no quadro mundial de demanda pela oleaginosa, se mantém como destaque e suas importações deverão alcançar as 83 milhões de toneladas. Consultorias privadas, porém, acreditam em volumes ainda acima disso. A nação asiática, em 2016, foi responsável pela compra de 79% das 20.89 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil de janeiro a abril.

“O mercado asiático de alimentos está em crescimento e aumentou a demanda tanto pelo grão quanto pelo farelo. Acredito que essa tendência deve se manter nos próximos meses”, disse, em entrevista ao portal InfoMoney, o gerente de economia da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), Daniel Furlan.

O consumo mundial também dá sinais de expressivo incremento. E boa parte desse aumento tem se dado pela maior demanda pelo farelo de soja, consequência de uma demanda maior por proteína animal em todo o globo, principalmente nos países emergentes. “A demanda global por oleaginosas deverá aumentar mais do que no ano anterior. E o esmagamento de soja está estimado para aumentar cerca de 4%”, informou o USDA em seu último relatório.

Ao mesmo tempo, ainda segundo o USDA, o consumo mundial de proteína animal também indica elevadas possibilidades de crescimento, com um movimento que deverá ser liderado pela China e alguns outros mercados importantes, como mostra o gráfico a seguir.

Consumo mundial de farelos proteicos – Fonte: USDA

 

A estimativa para o consumo de farelos é de uma alta de 3% e o líder das exportações globais deverá ser, mais uma vez, o farelo de soja. “A crescente demanda por farelo de soja, que responde por mais de 70% do consumo mundial, é o principal direcionador da expansão deste mercado”, informou o USDA.

No caso dos óleos vegetais, que também deverão registrar um aumento de 3% no consumo global. A liderança fica com os óleos de palma e de soja. O uso industrial desses derivados também deve aumentar na temporada 2016/17. E o USDA estima ainda que os estoques finais globais de óleo indicam uma queda de 5% no próximo ano comercial.

Preços x Competitividade

 

A concorrência entre Brasil e Estados Unidos na exportação de soja deverá aumentar nos próximos meses, acreditam analistas. As diferenças de preços, a oferta ajustada e um particular impulso causado pela demanda internacional podem direcionar esse movimento nos próximos meses.

Afinal, durante a maior parte do ano comercial norte-americana, os preços da soja dos Estados Unidos para a China estiveram mais baratos do que, por exemplo, da soja embarcada em Paranaguá, no Brasil, com destino à nação asiática. Entretanto, a partir de março, com as perdas da safra brasileira sendo conhecidas e uma vantagem menor causada pelo dólar, essa situação começou a se inverter, como mostra o gráfico da Reuters, indicando que no último dia 16, a tonelada da soja brasileira a US$ 428,43 e a norte-americana a US$ 426,95.

Soja para China – Brasil (Paranaguá) x EUA (Golfo) – Fonte: Reuters

A diferença entre os preços, entretanto, é pequena e por isso, insuficiente para estimular uma recuperação das exportações norte-americanas que pudesse tirar à liderança do Brasil. A oleaginosa nacional, além de tudo, conta atualmente com melhor qualidade, de acordo com especialistas, o que pode, caso sejam mantidos esses padrões mais elevados, ajudar a garantir essa maior competitividade.

Assim, os preços pagos pela soja brasileira, segundo os analistas, não só estão mais elevados, como estão também sustentados. Os últimos preços referenciados para a soja da safra 2015/16, nos principais portos do País, oscilavam próximos a R$ 87,00/saca. Os preços melhores em Chicago – com mais de US$ 10,50 por bushel – e os altos prêmios pagos nos portos – que também são um termômetro da demanda forte -, além do dólar ainda próximo dos R$ 3,50 – dão sustentação as cotações.

“O ritmo das exportações brasileiras de soja em 2016 é muito forte e isso, provavelmente, vai antecipar o que chamamos de entressafra, onde enxergamos um descolamento maior das cotações internas em relação à Chicago. Neste momento, estamos bem alinhados com as cotações que estão sendo pagas no interior, porém, com essa aceleração das exportações, é bem provável que já no início do segundo semestre comece a haver um descolamento com as esmagadoras que precisam de farelo e óleo para vender no mercado interno tendo que fazer alguma disputa de mercadoria com os exportadores”, disse Carlos Cogo, consultor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.

Status dos portos do Brasil

Outro fator considerado pelos analistas e especialistas de mercado é a movimentação dos embarques de soja nos portos brasileiros, que foi muito mais ágil nesta temporada. Segundo um levantamento feito pela Reuters, o tempo de espera para o embarque em Santos e Paranaguá diminuiu e é o mais curto em ambos os terminais dos últimos quatro anos. E isso aconteceu mesmo com esse ritmo muito acelerado da oleaginosa em um ano em que, além dela, as vendas externas de milho do Brasil também foram recordes, além dos demais produtos.

Redução do tempo de espera nos embarques de soja em Santos e Paranaguá – Fonte: Reuters

 

E a atuação dos demais portos também se destaca. Em 10 anos – de 2004 para 2014 -, o percentual de soja exportada por Rio Grande e São Francisco, juntos, aumentaram de 18% para 28%. Assim, estes quatro portos juntos, respondem por 75% das exportações brasileiras de soja.

 

Redução do tempo de espera nos embarques de soja em Rio Grande e São Francisco – Fonte: Reuters

 

Safra 2016/17

Em linhas gerais, o que se espera para a safra 2016/17 é que a produção mundial, em partes pelas boas oportunidades trazidas aos produtores, aumente para um recorde de 324 milhões de toneladas. Apesar disso, o USDA estima ainda um declínio de 8% nos estoques globais diante dessa forte demanda. “Muito dessa redução ocorre pelos estoques menores nos Estados Unidos, que reúne 50% dos estoques dos exportadores, e da Argentina, onde os produtores buscam reduzir seus estoques estratégicos”, afirmam os analistas do USDA. As importações mundiais, lideradas pela China, devem ter um aumento de 5 milhões de toneladas.

Esse quadro aliado ao câmbio e também aos prêmios – além de Chicago – já têm estimulado boas vendas antecipadas da safra nova pelo produtor brasileiro. Para a soja a ser embarcada em março, os preços pagos nos portos operam na casa de R$ 90,00 por saca e chamam os sojicultores para os negócios, aproveitando as boas oportunidades de comercialização.

“Isso é reflexo de basicamente três coisas: a sinalização de prêmios positivos nos portos para a entrega entre abril e maio do ano que vem; um cenário, em alguns casos, da fixação de um dólar futuro mais alto do que um dólar à vista e os preços dos contratos futuros em Chicago, mesmo com quedas pontuais, acima dos US$ 10,50 o bushel. É uma combinação de fatores que leva o mercado a pagar, para entrega do primeiro quadrimestre de 2017, valores em reais de 6 a 10% acima do que os que foram pagos antecipadamente para abril e maio deste ano. Este é um cenário muito favorável para frente”, disse Cogo.

Fonte: Notícias Agrícolas

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