“No quesito redução de emissões e sequestro de gases de efeito estufa, o Brasil está dando aula”, garante o pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, que também é membro do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança do Clima e colaborador do Observatório ABC da GvAgro. Segundo ele, todo o mundo olha para o Brasil e para a sua agricultura. “Saímos na frente e somos protagonistas”, afirma.
Para atingir este status, Assad ressalta que foram criados no País, em 2010, o Plano Nacional de Mudança do Clima e o Plano Setorial de Baixa Emissão de Carbono, além da adoção de boas práticas agrícolas, por parte dos produtores, como a fixação biológica de nitrogênio, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a recuperação de pasto, entre outras.
“Em um país imenso como este, onde tudo tem dimensões gigantescas, quando começamos a fazer estas coisas funcionarem, significa que a nossa capacidade de sequestrar carbono ou fixar o carbono no solo é imensa”, comenta.
PLANO ABC
Assad ressalta que somente com duas práticas, recomendadas pelo Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), o Brasil conseguiu fixar de 110 a 120 milhões de toneladas de CO₂ de uma vez, somente nos pastos degradados, sem contar na melhoria dos outros pastos.
“Estamos falando de 170 milhões a 180 milhões de hectares de pastos. As dimensões são enormes: 200 milhões de cabeças de bovinos. Reduzimos o tempo de abate e a emissão, conseguimos maior eficiência dos rebanhos e aumentar o ganho de peso dos animais”, comemora.
Em dezembro de 2009, durante a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-15), em Copenhague, Dinamarca, o governo brasileiro assumiu o compromisso voluntário de reduzir a emissão de gases de efeito estufa de 36,1% a 38,9%, até 2020.
“Estamos trabalhando com 52 milhões de hectares de pastos degradados, que tem uma taxa de lotação de 0,4 a 0,5 unidades animal por hectare ano. Podemos transformar isso para uma taxa de lotação que emite três toneladas de CO₂ equivalente por ano. Podemos transformar isso para uma/uma e meia unidades animal por hectare ano e sequestrar 3.600 quilos de CO₂”, garante Assad.
ALERTA
O pesquisador acredita que estes resultados podem significar um trunfo para o Brasil na Conferência das Mudanças Climáticas de Paris, que será realizada no final do ano. Mas alerta para o fato de que o mundo não pode deixar que a concentração de CO2 atinja 450 partes por milhões, que hoje se encontra em 400 partes por milhão.
A partir dos 450, diz, “as coisas começam a entrar em um patamar que não sabemos direito o que vai acontecer e corremos o risco de chegar a algo em torno dos famigerados dois graus de temperatura do globo, sem controle”. “Hoje nós estamos com 400, com uma taxa anual de dois e meio partes por ano, em 20 anos chegaremos a 450.”
Em sua opinião, “ou tomamos algumas providências no sentido de reduzir isso ou vamos entrar em um processo muito complicado de adaptação, vamos ter que nos adaptar a coisas que ainda desconhecemos”.
Para Assad, “a agricultura tem o seu papel, bem como a redução de combustível fóssil e a mudança do modelo energético também tem seu papel. Temos que mudar nossa matriz energética e a agricultura tem que ser menos dependente do petróleo”. “Esses são os grandes desafios nos próximos 30 anos, porque se todos esses itens que falei não forem atacados vamos atingir os 450/500 partes por milhões e aí o processo do aquecimento fica irreversível.”
Por equipe SNA/SP