Brasil começa a exportar soja por Sergipe, em nova rota aberta por VLI e Multigrain

O Brasil começou a exportar soja não transgênica por um terminal na costa de Sergipe, em uma rota inédita aberta pela operadora logística VLI e pela trading Multigrain, com dois navios deixando o porto do Nordeste recentemente, mostram dados de escalas analisados pela Reuters.

A operação por Sergipe se inicia em um ano de embarques recordes do grão, o principal produto da pauta de exportação do agronegócio do País, e de diversificação dos terminais em uso por grandes empresas exportadoras, que buscam evitar gargalos logísticos no Sul e Sudeste.

Além disso, o porto sergipano garante que a exportação é de soja convencional, que costuma ter um prêmio sobre o produto transgênico, que ocupa a maior parte da área plantada no Brasil.

“Cerca de dois anos atrás começamos a discutir um projeto com a Multigrain para escoamento de soja não transgênica do oeste baiano”, revelou à Reuters o diretor comercial da VLI Fabiano Lorenzi.

A VLI faz a operação, enquanto a Multigrain detém exclusividade na originação da soja exportada pelo terminal, explicou o executivo.

Um terceiro navio graneleiro está ancorado na área do terminal Barra dos Coqueiros, próximo a Aracaju, o único em Sergipe, para carregamento da soja, segundo dados de agências marítimas e do rastreamento de embarcações do serviço Eikon, da Thomson Reuters. O primeiro navio partiu em maio, levando 28.700 toneladas de soja para a Rússia adquiridas pela Sodrugestvo. A segunda carga, de 26.000 toneladas, foi exportada em julho para a Mitsui, no Japão.

A terceira embarcação, contratada diretamente pela Multigrain, deverá carregar 27.800 toneladas, ainda sem previsão de partida e destino. O terminal de Barra dos Coqueiros, também conhecido como Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB), consiste em um píer de concreto instalado mais de 2 quilômetros mar adentro, protegido por um quebra-mar e ligado ao continente por uma ponte para acesso dos produtos.

Tradicionalmente, o terminal opera cargas como coque, ureia e cimento, muito focado em importações, além de receber barcos de apoio de plataformas petrolíferas da Petrobras em operação naquela região. Dados alfandegários da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que praticamente apenas soja foi exportada no porto neste ano até junho, totalizando faturamento de US$ 23.9 milhões.

Segundo a VLI, o objetivo é embarcar 150.000 toneladas de soja em 2015, com possibilidade de aumentar “um pouco” este volume nos próximos anos. “O projeto nasceu para fazer operação específica… Ele não tem ambição de buscar grandes volumes”, afirmou Lorenzi.

Compradores internacionais costumam pagar valores maiores por soja convencional, mas os canais logísticos de escoamento precisam ser totalmente segregados da soja transgênica. Apenas 6,5% da soja plantada na safra 2014/15 foi de sementes não transgênicas, segundo dados da consultoria Céleres; R$ 15 milhões foram investidos pela VLI e pela Multigrain para adaptar Barra dos Coqueiros para o escoamento de soja.

A VLI tem como acionistas a Vale (37,6%), Brookfield (26,5%), Mitsui (20%) e FI-FGTS (15,9%) e já movimenta grandes volumes de grãos por sua malha de ferrovias e terminais interligados, que inclui portos em São Luís (MA) e Vitória/Tubarão (ES). Desde 2011, a japonesa Mitsui detém o controle da Multigrain, que não respondeu imediatamente pedidos para comentar a operação do terminal em Sergipe.

DIVERSIFICAÇÃO

Os volumes são relativamente pequenos, mas a operação em Barra dos Coqueiros, aonde a soja chega por rodovia, está em linha com o movimento de diversificação do escoamento da safra brasileira, em um momento de embarques recordes.

Diversas multinacionais estão investindo em terminais no Norte do país, na região de influência do Rio Amazonas, buscando alternativas para os congestionados portos do Sul e do Sudeste.

O Tegram, inaugurado em março em São Luís (MA) por um consórcio formado por NovaAgri, Glencore, CGG Trading, Amaggi e Louis Dreyfus, acaba de completar 1.4 milhão de toneladas de soja embarcadas, com operação de mais de 20 navios. Ainda no ano passado, as gigantes Bunge e ADM despacharam seus primeiros navios de soja por terminais localizados em Barcarena (PA).

A nova capacidade dos portos no Norte ajudou o Brasil a evitar congestionamentos em um momento de embarques recordes da oleaginosa. Após uma safra recorde em 2014/15, o País quebrou dois recordes sucessivos de exportação de soja em maio e junho. Em julho, passado o pico, o movimento nos portos continua acelerado, segundo dados da Secex.

Fonte: Reuters

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp