Brasil ainda não consegue “roubar” clientes dos americanos

Apesar de toda a retórica do presidente americano Donald Trump contra o comércio e contra o México, o Brasil ainda não conseguiu roubar parcela significativa do mercado mexicano de milho e também de outros grãos. O processador mexicano Gramosa fez uma compra de um cargo 60.000 toneladas do cereal e outra compra mexicana de trigo argentino foi divulgada, segundo o portal Agriculture.com. O aumento do comércio agrícola entre Brasil e México não foi significativo porque o País não é competitivo contra os Estados Unidos, apontam especialistas.

Enquanto os Estados Unidos necessitam apenas de um único frete por trem para enviar um produto de Iowa ou Nebraska ao México com custo entre US$ 70,00 e US$ 80,00 a tonelada; o Brasil envia soja ou milho por caminhão até um porto gastando US$ 100,00 a tonelada. Fora isso, precisa bancar o frete marítimo até o porto de destino.

“Se você quer vender algo, quem realmente manda é o consumidor. Então, quanto mais barato for, melhor será para o consumidor. E mesmo quando se fala de commodities, não se fala somente de preços. É um pouco mais complexo. É sobre relacionamentos, disponibilidade, pontualidade,” disse Anderson Galvão, CEO da Céleres, consultoria de Uberlândia.

“Se você olhar para as investigações sobre a carne brasileira, você verá uma queda nas exportações no primeiro momento, mas houve uma recuperação rápida porque não se encontrou uma substituição mais barata,” disse Galvão.

Mesmo quando se fala de um comprador distante dos Estados Unidos, como o Chile, o Brasil perde nos custos logísticos. “Quando olhamos para os custos logísticos do Brasil para o Chile, é mais barato enviar desde os Estados Unidos,” disse Paulo Bertolini, diretor da Associação Brasileira de Produtores de Milho. O Brasil tem uma lei de cabotagem que restringe navios de bandeira estrangeira e encarece os custos marítimos.

Outra vantagem dos Estados Unidos é que o México demanda muito farelo de soja e não soja em grão, o que deixa o Brasil com uma limitação de oferta.

“Nesse caso, os Estados Unidos oferece o que o cliente prefere. Nesses termos, vejo a Argentina como o mais competitivo na soja. Podem oferecer farelo, óleo de soja, biodiesel ou o grão,” disse Bill George, analista de Oleaginosas e Comércio do USDA.

Além disso, outro fator pesado são sobretaxas. Como os Estados Unidos é um dos países com o maior número de tratados de livre comércio, há uma vantagem competitiva enorme sobre o Brasil, que é integrado apenas com o Mercosul.

Por exemplo, a Comunidade Andina (Colômbia, Peru, Equador e Bolívia) tem uma população total de 100 milhões de habitantes e uma enorme demanda por milho e soja. Enquanto os Estados Unidos possuem um tratado de livre comércio com Peru e Colômbia, ambos os países impõe uma sobretaxa de 64% nos grãos do Brasil.

Outros grandes consumidores de milho que possuem tratados com os EUA são Coreia do Sul, Israel, Chile e Singapura.

Recentemente, em vez de restringir o comércio, a administração do Trump conseguiu abrir novos mercados para produtos agrícolas dos EUA. O Brasil aceitou a entrada de carne in natura americana. A China fez o mesmo. E a Argentina se abriu para entrada de carnes suína, bovina e de frango dos EUA.

“A competição de fato cresceu no mundo. Todo mundo quer aumentar suas participações nos mercados. Realisticamente, a maioria dos compradores são movidos por custos e confiabilidade,” disse Don Roose, analista de mercado da US Commodities, de West Des Moines, Iowa.

 

Fonte: Agrolink

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