O Ministério da Agricultura está fazendo uma grande operação em Genebra (Suíça) para prestar explicações a países importadores de carnes brasileiras sobre as medidas que foram – ou serão – adotadas para corrigir falhas no sistema de defesa sanitário identificadas pela Operação Carne Fraca. Deflagrada no dia 17 de março pela Polícia Federal, a operação concentrou o foco em casos de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e funcionários de frigoríficos, mas também expôs rachaduras no sistema de defesa que preocupam clientes no exterior.
Quem coordena a operação é Eumar Novacki, secretário-executivo da Pasta, o mesmo funcionário que foi escalado pelo ministro Blairo Maggi para prestar os primeiros esclarecimento logo depois que a Carne Fraca veio a público, no próprio dia 17 de março. Novacki comanda uma delegação que já manteve reuniões com representantes dos Estados Unidos e da União Europeia e ainda terá encontros com China, Rússia, Índia, Irã, Alemanha, Etiópia e Chile. Com um discurso que garante que os produtos brasileiros não representam riscos à saúde humana, o pedido é um só: “vontade política” para manter o mercado “fluido”.
Depois da reunião com os americanos na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), Novacki informou que uma equipe técnica liderada pelo diretor de Inspeção de Produtos de Origem Animal do ministério estará na quinta-feira em Washington com técnicos do governo dos EUA, país que há duas semanas decidiu barrar as importações de carne bovina in natura do Brasil em virtude de suspeitas sobre a qualidade do produto.
A equipe promete mostrar procedimentos que foram implementados para evitar supostos problemas, inclusive relacionados à vacinação contra aftosa. Uma das desconfianças dos EUA é que abscessos encontrados na carne podem ter sido provocados por uma reação às vacinas. Por causa da barreira americana, imposta por mais que o Ministério da Agricultura reitere que os abscessos não representam ameaça à saúde, já informou que para aquele mercado não serão mais exportadas peças inteiras de carne in natura, mas apenas recortes, cubos, iscas ou tiras.
Como são aparentemente poucas as medidas corretivas concretas adotadas, o secretário do ministério coloca ênfase no peso das relações entre os países para tentar contornar a trava dos EUA. O ministro Blairo Maggi já “bloqueou” os dias 17 e 18 de julho para ir aos Estados Unidos. Só aguarda a confirmação de uma reunião com o secretário de Agricultura dos EUA para bater o martelo.
“Não pode haver uma discussão só técnica, porque do ponto de vista sanitário a suspensão [dos EUA] não se justifica”, afirmou. “Existe a questão política. Os EUA são o maior concorrente do Brasil em nível internacional. E por pressão dos produtores americanos, isso retardou por 15 anos a abertura dos EUA à carne bovina in natura brasileira. É preciso avaliar a importância de uma relação bilateral fluida”.
Novacki acredita que haverá uma solução para o problema com os EUA, apesar de enxergar protecionismo na barreira americana, também porque os dois países exportam carnes com cortes diferentes, que acabam sendo complementares.
Com a UE, por sua vez, as conversas ficaram delicadas depois da Operação Carne Fraca. Bruxelas deu prazo até dezembro para que o Brasil faça as correções prometidas em seu programa de controle sanitário. “Estamos correndo atrás”, disse Novacki, que continua carente de novidades nessa frente. Ele afirma que o ministério está repensando o sistema de inspeção federal e acenando com a contratação de 350 veterinários nos próximos três meses, atualmente são cerca de 700.
Por conta de problemas identificados nas relações entre fiscais e funcionários de frigoríficos, Novacki também tem repetido a interlocutores que o ministério quer implementar até janeiro de 2018 um “programa anticorrupção” que os fiscais deverão passar a respeitar. O programa deverá contemplar inclusive respostas simples como qual a postura indicada em caso de recebimento de uma cesta de Natal, por exemplo.
Para o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, outras operações focadas em corrupção certamente virão. “Depois da Carne Fraca chegaram várias denúncias, que estamos apurando. São denúncias de fiscais recebendo propinas ou pedindo produtos da própria linha de produção, por exemplo”.
Segundo Novacki, as recentes operações conjuntas entre o ministério a Polícia Federal foram um sucesso e não macularam a imagem da carne brasileira, foi o caso da Operação Antídoto, em Goiás. Entre os dias 20 e 27 de março, primeira semana depois de deflagrada a Carne Fraca, a exportação diária média de carnes brasileiras caiu 98,5%. “O pior é que, dos 21 frigoríficos sob suspeição, nenhum era de carne bovina, e esta foi a mais afetada”, disse.
O secretário-executivo informou, ainda, que as dificuldades no front doméstico também são grandes, mas, nesse caso, em virtude dos problemas que cercam a JBS, maior empresa de proteínas animais do Brasil e do mundo. Para minimizar esses problemas, o secretário-executivo reafirmou que o governo quer estimular frigoríficos menores a assumirem plantas da empresa e, também, a reabertura de plantas que estão fechadas. Também está em estudo maior apoio aos pecuaristas no Plano Safra. Há discussões para isso com Banco do Brasil e BNDES.
Fonte: Valor