Biofortificação cria superalimentos no Brasil

Marília Nutti, coordenadora da Rede BioFORT na América Latina e Caribe e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos
Marília Nutti, coordenadora da Rede BioFORT na América Latina e Caribe e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos

 

A Rede BioFORT – Biofortificação no Brasil, iniciada em 2002, com a coordenação da Embrapa, utiliza melhoramento genético  convencional  para selecionar e aumentar o teor de micronutrientes de oito culturas: arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão-caupi, abóbora e trigo. A partir das pesquisas, novas culturas são geradas contendo maiores teores de pró-vitamina A (betacaroteno), ferro e zinco e outros minerais, importantes no combate à deficiência de micronutrientes no organismo humano, responsáveis por doenças como anemia e a cegueira noturna, entre outras.

Marília Nutti, coordenadora da Rede BioFORT na América Latina e Caribe e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, afirma que até o momento foram implantadas 87 unidades demonstrativas nos Estados do  Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Sergipe e Piauí. “Atualmente, 1936 famílias possuem acesso a pelo menos um desses cultivares”, observa ela, acrescentando que a colheita é destinada à merenda escolar e a famílias de produtores rurais dos municípios conveniados.

O coordenador das atividades da Rede no Piauí, Marcos Jacob Almeida, conta que depois que os produtores do Estado introduziram os cultivares de batata-doce biofortificada, a colheita mínima do tubérculo alcançou 25 toneladas por hectare, ante a média nacional de colheita de batata-doce comum de 8 toneladas por hectare. “Os benefícios de melhoria de renda, devido à excelente produtividade, têm feito muitos trabalhadores permanecerem junto de suas famílias e desistirem de praticar o êxodo rural”, comenta.

Geovani Bernardo Amaro, da Embrapa Hortaliças
Geovani Bernardo Amaro, da Embrapa Hortaliças

Segundo pesquisador Geovani Bernardo Amaro, da Embrapa Hortaliças, a unidade desenvolveu a cultivar de batata-doce Beauregard, de polpa colorida, rica em betacaroteno.  Para se ter uma ideia, enquanto na Beauregard a média é de 119 microgramas de betacaroteno por grama de raízes, nas cultivares de polpa branca chega a 10 microgramas da substância por grama de raiz. “Estamos desenvolvendo uma abóbora mais rica em betacaroteno na Embrapa Tabuleiros Costeiros, com média de 196 microgramas de carotenoides por grama do produto fresco”, conta o pesquisador.

Um dos avanços mais relevantes obtidos em biofortificação foi com a mandioca. De variedades com quatro microgramas de betacaroteno por quilo, os pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical chegaram à cultivar Jari, de cor amarela forte, macia e com poucas fibras, com nove microgramas da substância que é necessária na formação de vitamina A, contribuindo para a saúde dos olhos, pele e ossos, segundo pesquisas.

Mandioca biofortificada. Foto: Tarcila Viana
Mandioca biofortificada. Foto: Tarcila Viana

A Embrapa Arroz e Feijão, em Goiás, desenvolveu a variedade de feijão comum BRS Pontual, com média de 90 mg a mais de ferro e 50 mg mais zinco por quilo, ante 50 mg de ferro e 30 mg de zinco por quilo nas convencionais. Já a cultivar de feijão-caupi BRS Xique Xique, lançada em 2008 pela Embrapa-Meio Norte, a média é de 77 mg de ferro e 53 mg de zinco, comparada à média de 50 mg de ferro e 30 mg de zinco por quilo nas cultivares comuns.

No caso do arroz, a meta na pesquisa de biofortificação é aumentar o teor de zinco, componente de mais de 200 enzimas e importante para o sistema imunológico, cicatrização, regulação da contração muscular e formação de insulina. Nos experimentos, a Embrapa obteve cultivares com media de 18 mg de zinco e 4 mg de ferro por quilo de arroz branco polido, ante 12 mg de zinco e 2 mg de ferro por quilo na convencional.

No milho, o diferencial da biofortificação foi o nível de pró-vitamina A, até 9 microgramas por grama do grão em base seca, o dobro da cultivar convencional, cuja média alcança 4,5 microgramas do nutriente na mesma comparação. Já no trigo, as melhores variedades selecionadas no projeto alcançaram média de 40 mg de ferro e 40 mg de zinco por quilo do grão integral, ante a média de 40 mg de ferro e 30 mg de zinco por quilo do grão integral na cultivar convencional.

O Projeto BioFORT é realizado através de parcerias com instituições de pesquisas internacionais como a HarvestPlus e AgroSalud, financiadas pela Agência de Desenvolvimento Internacional do Canadá (CIDA), pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID) e também pela Fundação Bill e Melinda Gates, a Rede.

 

Por Equipe SNA/SP

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp