BC reitera que não vai elevar juro por causa do câmbio

O Banco Central não vai reagir de forma mecânica com a política de juros para lidar com a desvalorização da taxa de câmbio. O BC deixou claro que continua em vigor a declaração do presidente Ilan Goldfajn de que não há uma relação automática entre o câmbio e a política monetária. Em linguagem mais coloquial, o BC está reafirmando que não pretende elevar a taxa Selic para conter a desvalorização do real frente ao dólar. Ontem o mercado começou a especular com uma eventual e imediata elevação da Selic.

Foi também o que reiterou o diretor de Política Monetária do BC, Reinaldo Le Grazie, pela manhã, em audiência na CPI dos Cartões: “A atuação no câmbio é separada da política monetária e não há uma relação mecânica entre as duas”, disse.

Isso não significa, porém, que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne nos dias 19 e 20, cumprirá rigorosamente o que disse na ata, que manterá os juros inalterados nas próximas reuniões.

Na mesma ata, é importante lembrar, o comitê destacou que a sinalização de manutenção da Selic nas duas próximas reuniões está condicionada à evolução da conjuntura econômica, em especial a atividade, ao balanço de riscos e às projeções de inflação, tanto as suas quanto às expectativas do mercado.

Uma coisa é certa: o balanço de riscos piorou nos últimos dias. A taxa de câmbio considerada na ata, de R$ 3,60, elevaria a projeção de inflação para algo ao redor de 4% neste e no próximo ano. Ontem o dólar encerrou o dia cotado a R$ 3,8371.

Há, na avaliação do BC, dois determinantes que ajudam a crer em mitigadores do repasse cambial para a inflação. Um é o fato de a economia estar fraca, com um grande hiato do produto. O segundo é que as expectativas de inflação estão ancoradas e isso também ajuda a conter o repasse da desvalorização para os preços.

Ao longo das próximas duas semanas o Copom terá que decidir se mantém a taxa Selic em 6,5% ao ano ou se eleva os juros, como passou a especular o mercado.

Ilan explicou, em entrevista ao Valor no fim de maio, que responder de forma mecânica significa “reagir a uma coisa que está se mexendo (o câmbio) sem afetar a nossa base, que é a inflação”. Ele acrescentou: “Por exemplo, vamos supor que por algum motivo o repasse cambial seja nulo ou muito baixo. Isso vai fazer diferença na forma como estamos vendo”. Se o repasse for relevante, isso também mudará a avaliação e a reação do BC.

Portanto, o comitê vai observar como o câmbio está efetivamente sendo repassado para a inflação corrente, diante dos mitigadores citados, como esse choque vai se transmitir para as expectativas e para as projeções de inflação, tendo em vista que cabe à política monetária combater o impacto secundário que o câmbio terá sobre a inflação, e, ainda, quanto da desvalorização ocorrida tende a ser permanente.

Se o dólar a R$ 3,60 levava o IPCA para cerca de 4%, a cotação de R$ 3,83 encosta o IPCA em 4,25%, que é a meta de inflação para 2019.

Por outro lado, a paralisação dos caminhoneiros produziu outro risco, de o crescimento da economia ser ainda mais baixo do que os 2% esperados pelo governo. Há quem estime uma expansão de apenas 1,5% do PIB. E há, ainda, quem esteja prevendo, no setor privado, uma recaída da atividade, ou seja, um novo mergulho do país na recessão, fruto das incertezas políticas e econômicas quanto ao futuro.

Assim, embora não seja uma loucura imaginar o aumento da taxa de juros, nas próximas reuniões do Copom, para conter supostos impactos do câmbio sobre a inflação, essa não é uma decisão trivial dada a fragilidade da economia.

 

Fonte: Valor

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