A desvalorização do real frente ao dólar tem influenciado os preços do algodão e preocupado os brasileiros que atuam na produção e os que compram o produto. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo apontam que entre 6 e 13 de outubro, o indicador da mercadoria em pluma subiu 3,54% com pagamento em 8 dias, o equivalente a R$ 7,43, o quilo.
O representante da área têxtil de Santa Catarina Jorge Melo sentiu o aumento do valor dos fios usados para a confecção, por exemplo, de moletons.
Além do câmbio, a alta dos preços do algodão é influenciada, ainda, pela pandemia do coronavírus, pela maior exportação para países como Estados Unidos, China e Índia, além das alterações climáticas.
O comerciante Celso Marques trabalha na área comercial e percebeu a dificuldade para obter os produtos feitos da matéria-prima.
Responsáveis por 88% da produção de algodão no país, os estados do Mato Grosso e da Bahia já venderam os produtos antes mesmo do plantio e da colheita. Só o Mato Grosso já tem 43% da safra de 2020/2021 – que será plantada no final do ano – comprometida.
Segundo o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Sirimarco, o valor da soja também registrou aumento nas últimas semanas. “Existe um fato até inédito porque a soja que está sendo plantada agora até setembro do ano que vem também já está sendo comercializada. Há uma demanda muito forte”.
Apesar da alta demanda externa e da dificuldade relatada por quem depende da cotonicultura, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão garante que não há risco de escassez da matéria-prima – já que o Brasil produziu 5% a mais de algodão em pluma na safra de 2019/2020 na comparação com a produção de 2018/2019. No entanto, o valor do produto deve continuar elevado por causa da alta demanda interna e externa.
Já a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção afirmou acreditar que nos próximos três meses a oferta e a demanda dos produtos feitos com algodão devem ser ajustadas. A Abit informou, ainda, que mais de 70% dos custos do setor são ligados a moedas estrangeiras, o que reflete nos custos dos fios, tecidos e malhas de forma imediata.