As crescentes tensões comerciais desencadeadas pelo governo de Donald Trump passaram a ser riscos mais palpáveis, ao ponto de os presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá, zona do euro e Japão fazerem alertas para a possibilidade de o crescimento mundial ser afetado, lembrando que o contexto é de normalização das políticas pós-crise, mesmo que em estágios diferentes.
Até a semana passada problemas nesta seara era ainda vistos como um jogo de força entre os Estados Unidos e alguns de seus principais parceiros comerciais, que não necessariamente se reverteriam em medidas punitivas práticas. Mas depois do embate com a China nos últimos dias, as coisas mudaram de figura.
Dividindo nesta quarta-feira (20/6) um painel no Fórum dos Bancos Centrais em Sintra, Portugal, Jerome Powell (Federal Reserve), Mario Draghi (Banco Central Europeu), Haruhiko Kuroda (Banco do Japão) e Philip Lowe (Banco do Canadá) falaram abertamente sobre este tema.
Powell disse que “mudanças na política comercial podem nos levar a questionar as perspectivas”, acrescentando que líderes empresariais consideram, pela primeira vez, adiar contratações e decisões de investimento. O tom foi sombrio, embora o presidente do Fed tenha feito a ressalva que ainda é cedo para quantificar efeitos negativos sobre a perspectiva de crescimento da economia americana.
Lowe, do BC canadense, foi na mesma linha de Powell: “As empresas estão começando a recuar e atrasar novos investimentos […] não seria preciso muito para os mercados se unirem [à economia real] para transformar isso em um evento global realmente grande”, vaticinou, segundo ele, é algo “incrivelmente perturbador”.
Draghi foi direto ao ponto ao lembrar que “lições de disputas comerciais passadas são todas muito negativas”, portanto, não vê “terreno para ser otimista”. Até mais contundente do que Powell, disse que o BCE teria que incorporar a mais nova onda de medidas punitivas às projeções do BCE.
Para Kuroda, a disputa comercial entre a China e os EUA pode ter um impacto indireto “bastante significativo” na economia japonesa. “Se esta escalada de tarifas continuar e realmente for implementada, isso afetará significativamente a centralização da cadeia de fornecimento da Ásia Oriental na China, Coreia do Sul, Japão, Taiwan e também nas economias do Sudeste Asiático”, disse Kuroda.
Na manhã desta quarta-feira a União Europeia confirmou que imporá tarifas sobre US$ 3.2 bilhões em bens importados dos Estados Unidos em resposta à taxação sobre o aço e alumínio europeus anunciada no primeiro dia de junho. Na segunda-feira (18/6), Trump elevou o tom da disputa com a China dizendo estar levantando uma nova lista de bens de US$ 200 bilhões cuja taxação será de 10%. Um pouco antes, outros US$ 50 bilhões foram taxados em 25% pelo governo americano.
Fonte: Valor