Banco do Brasil faz estreia como ‘fiador’ em operações de ‘barter’

Pressionado por uma queda de quase 20% (ou de R$ 68.7 bilhões) em suas liberações de crédito rural na safra 2016/17, o Banco do Brasil decidiu estreitar as parcerias com empresas de insumos, revendas, tradings e cooperativas para voltar a crescer nesse segmento. E a aposta é conferir um tempero financeiro a uma operação eminentemente física, que tem crescido muito no país nos últimos anos: o “barter”.

No modelo desenhado, apelidado de “BB Trading”, o banco passa a atuar como uma espécie de fiador no “barter”, e em alguns casos vai inclusive tornar dispensável o fornecedor de insumos no sistema. O objetivo é participar de operações de cerca de 200 mil médios e grandes produtores rurais, número equivalente à metade da atual carteira do banco com esse perfil de clientes. Líder absoluto no mercado de crédito rural no país, com participação de 60%, o Banco do Brasil tem uma carteira que, no total, chega a quase R$ 190 bilhões.

Para tentar acelerar a expansão do novo negócio, o BB já se reuniu com cooperativas de São Paulo, como Coopercitrus, Coopercana e Cooperplana, e tem agendadas conversas com cooperativas do Paraná e do Rio Grande do Sul para as próximas semanas. Mas a ideia é também estreitar os laços com grandes multinacionais de insumos, como Syngenta, Bayer e Basf, e com tradings globais como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus.

“O produtor já se modernizou bastante no Brasil, mas precisa avançar na captação de recursos. Por isso, nossa ideia de trabalhar em parceria com toda a cadeia do agronegócio, que é bem promissora”, afirmou Tarcísio Hubner, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, em entrevista ao Valor. “Para o banco é interessante, porque permite o aumento do leque de clientes, e para os fornecedores de insumos também é bom, porque eles não precisam usar recursos próprios”.

No “barter” tradicional, que se tornou comum em grandes polos produtores de grãos do país, uma agroindústria entrega fertilizantes e defensivos para viabilizar o plantio do produtor e recebe o valor equivalente na colheita, em volume físico. No modelo no qual o BB decidiu atuar, a instituição adianta os recursos para a agroindústria e assume o risco, que antes era do fornecedor de insumo. Depois o banco é ressarcido pelo produtor com o dinheiro obtido na comercialização da safra, mas tendo como garantia Cédulas do Produtor Rural (CPR), emitidas pelo produtor rural. Para lastrear esses papéis, porém, o banco quer usar como fonte de recursos suas captações de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que são isentas de imposto de renda.

Com isso, o BB pode também ampliar o uso das LCAs como fonte de financiamento para a agricultura. Até o ano passado, os bancos só podiam usar esses títulos em operações de custeio rural, mas a partir desta safra 2017/18, que começou em 1º de julho, os papéis também podem ser direcionadas para operações de investimento, comercialização, industrialização e CPR. Com isso, as instituições que operam com crédito rural conseguem financiar os insumos para os produtores com taxas de 9% a 12% ao ano, mais baixas que as praticadas pelas tradings, disse Hubner.

“Vamos viver um novo momento de juros baixos nesta safra e, à medida que a Selic  (taxa básico de juros) cai, não tem muita diferença entre o crédito a juros controlados e as taxas de mercado. Atentos a isso, nós nos programamos para ofertar crédito com LCA e CPR. Essa é a saída”, afirmou o executivo do banco, que já viu seus desembolsos de crédito rural crescerem 65,5% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, para R$ 5 bilhões.

Outra frente que tem atraído atenção especial do Banco do Brasil é o potencial de crescimento das liberações de crédito para armazenagem. Nesse mercado, a instituição espera crescer 10% nesta safra 2017/18, por conta do ritmo lento que marca a comercialização de grãos no País. E já colocou em marcha uma caravana de gerentes em Tocantins, Maranhão, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde já foram mapeados 678 potenciais produtores interessados nas linhas do Programa de Construção de Armazéns (PCA), que estão com taxa de juro de 6,5% ao ano, 2% abaixo do patamar da safra 2016/17.

Em sua estratégia para se defender do aumento da concorrência dos bancos privados no campo, o BB também mira, finalmente, a crescente demanda por investimentos no sistema de integração lavoura-pecuária na região do “Matopiba” (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

 

Fonte: Valor Econômico

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