Baixo crescimento do consumo de trigo preocupa as indústrias

O baixo crescimento do consumo de farinha de trigo no Brasil não é uma preocupação nova no segmento moageiro nacional. Mas neste ano, ganhou um peso maior. A desaceleração econômica no país afetou em cheio essa indústria, que vendeu 10% menos farinha do que no ano passado. A preocupação também não se restringe ao Brasil. A federação que representa os moinhos da América Latina também reconhece que o avanço é pequeno na região.

E esse incremento deverá se dar a passos ainda mais lentos nos próximos anos. Nas projeções do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), a taxa anual de crescimento da demanda global por trigo deverá ser de 1% de 2016 a 2020, abaixo da média de 1,7% registrada nos últimos cinco anos.

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Não há dados que mostrem com precisão o motivo dessa relativa estagnação. Mas o setor produtivo de trigo e derivados não descarta que a disseminação de informações negativas sobre o efeito do glúten (principal proteína do trigo) na saúde humana tenha seu peso na balança. “É claro que tem impacto. Toda a informação negativa atrapalha. Certamente poderíamos crescer mais se não fossem essas dietas da moda”, afirmou Cláudio Zanão, presidente da Abimapi, associação que representa os produtores de macarrão, biscoitos e pães industrializados.

O Brasil é um dos países que menos consomem o cereal no mundo proporcionalmente ao número de habitantes. Foram 43 quilos de farinha por pessoa em 2014, 1,75% abaixo de 2013. Nos vizinhos sul-americanos Chile e Argentina, as médias chegam a 90 quilos anuais.

A forte desaceleração da economia vem sendo a principal responsável pela queda no Brasil. Neste ano, a venda de farinha caiu 10%, a de macarrão ficou estacionada e as padarias sentiram uma queda de 10% no faturamento, efeito da queda das vendas de itens de maior valor agregado, como pães especiais e bolos.

E não há perspectiva de melhora desse cenário no curto prazo, na visão do empresário Lawrence Pih, que há 50 anos atua no mercado de processamento de trigo no país. As projeções, lembra ele, são de menor crescimento no Brasil, maior desemprego e queda da renda. “O poder aquisitivo da população está caindo e afetando itens básicos”, avaliou Pih, que está em processo final de venda de seu moinho, o Pacífico, para a multinacional Bunge.

A despeito da crise econômica pela qual atravessa o país, a Abitrigo reconhece que nos últimos anos esse mercado tem sido estável – e que é preciso impulsioná-lo. O presidente da entidade, Sérgio Amaral, lembra que há anos a associação desenvolve programas para aumentar a qualidade, tanto do cultivo de trigo quanto da panificação, além de campanhas para contra-atacar as “dietas da moda”. Mas a mais recente frente de atuação da cadeia é tentar exportar a países onde o crescimento do consumo de trigo avança a taxas mais agressivas, conforme Amaral.

A própria Argentina, uma das principais exportadoras de farinha do mundo, já iniciou a busca de novos mercados, dado o baixo crescimento dos mercados onde já atua. O presidente da federação que representa os moinhos do país (Faim), Diego Cifarelli, diz que o foco agora é se unir à cadeia produtora de massas e biscoitos para ganhar competitividade nesse tipo de produção com mair valor agregado. O foco dessa atuação são os países da Ásia e da África, conforme Cifarelli.

O presidente consultivo da Abitrigo, Marcelo Vosnica, observa, no entanto, que é preciso ao Brasil ser mais competitivo para ganhar esse espaço na África e na Ásia, que tradicionalmente são supridos pela Turquia e pelo Cazaquistão. “Esses países compram trigo a custos muito mais baixos na região do Mar Negro”, lembra Vosnica.

Portanto, o desejo de abrir esses mercados ainda significa uma pequena luz no fim do túnel, ao menos para o Brasil, que tem custos de juros e tributários elevados. Além de não ter tradição em exportar farinha, o país registra embarques ínfimos dos derivados, que não representam nem 3% da produção nacional. “Não sei se é possivel considerar que o Brasil exporta. Do total embarcado em 2014, 70% foi para a Venezuela. Isso é oportunidade, não exportação”, avalia Zanão.

Ele lembra, no entanto, que um convênio renovado este ano com a Agência de Promoção de Exportações (Apex) poderá ajudar a mudar esse quadro. “Vamos fomentar a exportação brasileira, com rodadas de negócios na América Latina, nos Estados Unidos e África do Sul”, espera Zanão.

 

Fonte: Valor Econômico

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