* Por Fernando Mendes Lamas
O Brasil vem experimentando uma profunda transformação em sua agricultura, antes baseada na produção de café e cana-de-açúcar. Enquanto exportávamos café e açúcar, não tínhamos a nossa segurança alimentar garantida. Importávamos em quantidades significativas arroz, feijão, trigo, etc., produtos básicos na dieta alimentar da população brasileira.
Hoje, de grande importador, passamos para grande exportador de produtos agrícolas como o complexo soja (grãos, farelo e óleo), milho, algodão, etanol, celulose e carnes (bovina, suína e de aves). Já ultrapassamos a barreira da produção de uma tonelada de grãos per capita.
Especialmente ao longo dos últimos 40 anos, a produtividade dos principais produtos da agricultura (vegetais e animais) aumentou significativamente. Em 1977, quando Mato Grosso do Sul foi criado, a produtividade de milho era de 1.743 quilos por hectare, na última safra foi de 5.521 kg/ha.
A produtividade da soja no mesmo período, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) saltou de 2.200 para 3.400 kg/ha. Ambos são exemplos, que reforçam o espetacular aumento de produtividade.
Ganhos extraordinários também foram obtidos na pecuária de corte. Atualmente, Mato Grosso do Sul é líder na produção de novilho precoce. Além de ganhos de produtividade também foi possível inserir nos sistemas de produção agropecuário do Estado, outras espécies como: cana-de-açúcar, eucalipto, trigo, goiaba, abacaxi, melancia, mandioca, algodão e urucum.
Técnicas modernas de produção, como o sistema plantio direto e o sistema integração lavoura-pecuária, também fazem parte da realidade agrícola do Estado.
Todo o processo de transformação da paisagem agrícola de Mato Grosso do Sul teve como ator principal o produtor rural com sua capacidade empreendedora, sua visão de futuro, dedicação, dentre outras características indispensáveis para que fosse possível alcançar os níveis atuais.
Um exemplo da capacidade empreendedora dos empresários rurais de Mato Grosso do Sul é a obtenção da produtividade de soja da ordem de 4.440 kg/ha obtida em uma área cultivada de 6.000 ha. Esses resultados não deixam dúvidas que ainda podemos crescer muito em termos de produtividade. Porém, o uso da tecnologia é fundamental para isso.
Esses avanços foram possíveis graças ao produtor rural, que tem como seu aliado, de primeira hora, o engenheiro agrônomo.
O papel do engenheiro agrônomo, desde os primeiros momentos do processo de colonização de Mato Grosso do Sul foi decisivo para que O Estado pudesse chegar aonde está hoje. Não sou o engenheiro agrônomo pioneiro, antes de mim, já estavam aqui muitos outros. Profissionais daqui, do antigo Mato Grosso e outros vindos de São Paulo e de Minas Gerais, principalmente.
Os pioneiros enfrentaram inúmeras dificuldades, especialmente no que se refere à questão de infraestrutura. Mas, talvez a maior de todas as dificuldades fosse a falta de informações geradas a partir de trabalhos desenvolvidos na região.
A partir das ações extensionistas desenvolvidas pelos técnicos da Acarmat, Emater-MT e, posteriormente Empaer-MS, trabalhos realizados pelos técnicos da Fecotrigo e da Secretaria Estadual de Agricultura começam a ser geradas informações locais, que facilitaram grandemente as recomendações técnicas.
Ainda antes da criação de Mato Grosso do Sul, foi criada em Dourados, em 1975, a UEPAE-Dourados, unidade da Embrapa responsável pela geração de conhecimento local. Na mesma época foi criado em Dourados, o Curso de Agronomia da UFMS. Em 1977, também foi criada a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Grande Dourados (Aeagran). Ficando assim evidente, a importância do papel do engenheiro agrônomo enquanto agente de desenvolvimento.
Atualmente existem, em Mato Grosso do Sul, 5.600 engenheiros agrônomos, registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, atuando na pesquisa, na assistência técnica, no ensino, na indústria de insumos, de alimentos, na gestão de empresas agropecuária, em entidades de classe, em diversos órgãos do poder público no âmbito federal, estadual e municipal. Enfim, o engenheiro agrônomo está presente nos principais setores da economia do Estado.
No Brasil, existem aproximadamente 300 escolas de Agronomia, disponibilizando anualmente milhares de engenheiros agrônomos.
Em Mato Grosso do Sul, temos escolas de Agronomia em Aquidauana, Cassilândia, Chapadão do Sul, Campo Grande, Dourados, Nova Andradina, Ponta Porã e Três Lagoas. Anualmente, são formados quase duas centenas de Engenheiros Agrônomos em Mato Grosso do Sul.
O papel do engenheiro agrônomo está sendo modificado tendo em vista as transformações porque passa a agricultura brasileira. Hoje, esse profissional precisa ter uma boa visão sobre gestão, sobre perspectivas de cenário de médio e longo prazo, de uma forma muito holística, além de visão estratégica.
Não dá mais para se preocupar apenas com um fator que interfere na produção e na produtividade! É preciso estar atento às transformações que estamos enfrentando, na sua maioria de forma positiva!
Para ilustrar o que estou falando, vou usar como exemplo, o caso do algodão. A fibra sintética, derivada do petróleo, concorre com a fibra natural do algodão. Se o preço do barril de petróleo cai de U$ 100 para U$ 40, a competitividade da fibra sintética, considerando o seu preço, aumenta.
Se a economia mundial não passa por um bom momento, as pessoas darão preferência por roupas produzidas a partir de fibra sintética, mais baratas. Numa situação dessas, como ficam os preços da fibra de algodão?
Esse exemplo ilustra muito bem o quanto o engenheiro agrônomo do mundo contemporâneo, em que a mobilidade e a conectividade das pessoas é algo fantástico, precisa estar preparado para que possa atender de forma eficiente e eficaz todas aquelas demandas que lhe chegam.
Hoje, muito mais do que ontem, o consumidor não consome somente o que lhe é ofertado, ele tem exigências e é preciso ficar atento a isso. O tamanho das famílias é cada dia menor, isto tem tudo haver, por exemplo com o tamanho da melancia que é ofertada no mercado. O consumidor é exigente e seletivo.
Em síntese, ao engenheiro agrônomo do mundo contemporâneo estão reservadas muitas oportunidades, mas também, é preciso estar muito atento às transformações que estão ocorrendo.
A cada dia é maior a importância do engenheiro agrônomo na produção de alimentos, fibra e energia, para uma população cada vez mais urbana, além, é claro, das questões relacionadas à preservação recursos naturais.
* Fernando Mendes Lamas é engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia (Produção Vegetal – Manejo do Algodoeiro), doutor em Agronomia (Produção Vegetal – Reguladores de Crescimento) e um dos pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS).
Fonte: Embrapa Agropecuária Oeste