Artigo: ‘As três fases da greve dos caminhoneiros e o preço dos combustíveis’

Paralisação dos transportadores de cargas rodoviárias, por duas semanas, (ainda) está custando caro à economia do Brasil. Foto: Divulgação EBC

Por Lucas Lautert Dezordi*

A paralisação dos transportadores de cargas rodoviárias, por duas semanas, (ainda) está custando caro à economia brasileira. Não vamos entrar no mérito da greve que, sim, teve fortes motivos para ser desencadeada. Vamos falar apenas do cenário que ela estabeleceu no País, que podemos dividir em três fases: a crise, o choque e o impacto.

A primeira delas foi a crise: as duas semanas do mês de maio foram as que impactaram diretamente toda a sociedade. A economia foi surpreendida pela estagnação quase total da logística. E interromper esse fluxo significa que a produção não sai e não chega a lugar nenhum. Não demorou faltar combustíveis, alimentos perecíveis e insumos de todas as naturezas. Não precisamos nos alongar para explicar os danos, uma vez que todos vivemos intensamente esse período.

A segunda fase foi o choque: classificamos o mês de junho como o primeiro abatimento pós-greve. A sociedade percebeu que não bastava a liberação das estradas para que tudo fosse normalizado. Os alimentos continuaram com preços elevados e se criou um bastidor de prejuízos que ainda não poderiam ser dimensionados.

Muito mais que apenas o tempo perdido, muitos produtos deixaram de ser produzidos e, consequentemente, deixaram de ser vendidos no mês de junho. Podemos dizer que junho foi o mês para olhar para a destruição deixada pela greve.

A terceira fase chamamos de impacto: a mais longa – entendemos que se estenderá até o mês de setembro. Até lá, não será possível olhar para os resultados e índices econômicos sem considerar a paralisação de maio.

Acreditamos que será o tempo necessário para que a economia se desvencilhe dos efeitos pós greve. Após esse período, a produção será normalizada, os insumos deverão voltar aos preços de equilíbrio e será possível ter um cenário econômico menos atribulado.

CONSEQUÊNCIAS

Quais as consequências disso tudo no preço dos combustíveis? Muitas pessoas acreditam que o aumento nas bombas se deve à greve dos caminhoneiros ou aos postos – revendedores varejistas que estão na ponta final do processo.

Na verdade, esse descontrole nos preços teve início em julho do ano passado e se deve a uma combinação de três fatores: o aumento da carga tributária, a mudança de política de preços da Petrobrás e os repasses das distribuidoras.

O primeiro está relacionado diretamente às alíquotas de PIS e Cofins, que tiveram aumento no segundo semestre de 2017 e trouxeram como resultado a elevação imediata de R$ 0,41 na gasolina. Com esse acréscimo, aumentou também o ICMS, uma vez que o imposto incide em 29% do preço médio. Quanto mais caro o combustível, mais caro é o imposto. Hoje, 45% do valor que o consumidor paga na bomba vai para os cofres públicos por meio de impostos.

A segunda ação que desencadeou sucessivos aumentos, também no início do segundo semestre do ano passado, foi a mudança da política de preços da Petrobras. A estatal passou a alterar os valores diariamente, baseada nos preços internacionais do barril de petróleo e na variação no preço do dólar.

Por fim, as constantes mudanças de preços dos combustíveis praticados pela Petrobras às distribuidoras. Tendo como base a data de 3 de julho de 2017, a política de preços fez com a gasolina subisse 50% e o diesel 37%, até agosto de 2018. O diesel só não subiu mais em virtude dos termos do acordo entre os caminhoneiros e o governo.

*Lucas Lautert Dezordi é doutor em Economia e professor titular da Universidade Positivo (UP)

Fonte: Da assessoria de comunicação com edição d’A Lavoura

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp