Arroz: teto de preços dispara com demanda da indústria e dos exportadores

Por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados

 

Ainda é para poucos, mas já há confirmação de lotes de arroz em casca negociados a R$ 46,00 na Zona Sul gaúcha, referência para o teto de preços do grão no Rio Grande do Sul desde que o estado passou a exportar maiores volumes desta matéria-prima. A compra de arroz em casca (58 x 10 acima) na Zona Sul a R$ 45,00 já é corrente.

Descontando frete e taxas, equivale aos R$ 41,00 da Fronteira-Oeste e os R$ 40,00 a R$ 41,00 da Depressão Central. A tendência é de que os preços sigam em alta.

O teto de preços do arroz em casca vem sendo forçado por diversos fatores: em primeiro lugar, o equilíbrio entre oferta x demanda nesta temporada por causa do recuo da produção e o baixo estoque de passagem, além do aumento do consumo projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O câmbio, favorável às exportações também tem sido determinante, com a balança comercial muito positiva ao país.

A expectativa de menor volume de oferta neste segundo semestre converge com um cenário de dólar em alta pelo conturbado cenário político contaminando a economia e o fortalecimento global da moeda estadunidense, o que estabelece uma disputa mais acirrada pelo grão disponível entre indústrias e tradings.

Repasse

Constatei com as fontes consultadas que outro fator fundamental para a valorização da matéria-prima é que a indústria está conseguindo repassar este custo aos atacadistas e varejistas, também pelo reflexo da alta do frete.

Com o repasse nestes patamares e a aquisição de boa parte dos estoques, em valores bem inferiores, por meio do recebimento de grão em pagamento das CPRs referentes ao financiamento da safra, parte das empresas consegue margem importante sobre as médias e com isso posiciona-se no mercado. A alta reflete ao longo de toda a cadeia produtiva, até o consumidor.

Corretoras da região indicam a liquidação de arroz depositado na indústria na faixa de R$ 43,00 a R$ 43,50, o que, descontando as taxas, vai bater na casa dos R$ 45,00 ou pouco acima, brutos.

Sobre o custo

Com este referencial de teto de preços, finalmente as cotações no eixo Camaquã-Pelotas/Rio Grande – começam a superar o custo médio de produção da saca arroz de 50 quilos no estado, de R$ 45,00, na safra 2017/18, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

O sul de Santa Catarina tem acompanhado, levemente atrás, a evolução de preços no Rio Grande do Sul, e as cotações estão entre R$ 39,00 e R$ 40,00. No Mato Grosso e Tocantins as cotações se mantiveram praticamente inalteradas porque as indústrias estão abastecidas para o atendimento de suas demandas.

Indicador

Depois de acumular 8% de valorização em junho, o indicador de preços do arroz em casca Esalq-Senar/RS registra alta de 1,47% nos cinco primeiros dias úteis de julho, com preço médio de R$ 41,29, posto na indústria, que pela cotação do dólar na sexta-feira (6/7) equivalia a US$ 10,57.

A média está bem mais baixa do que o teto em razão de algumas regiões ainda operarem com preços médios de R$ 39,00 a R$ 41,00 e apenas a Zona Sul ter valores que se descolam.

Friso que o arroz que alcança R$ 46,00 é de qualidade superior e que está em poder dos produtores, geralmente armazenado nas propriedades. Ainda assim, há o claro indicativo de tendência à demanda por parte dos compradores.

Exportações

A confirmação de que há pelo menos mais oito navios de arroz em casca, e comprados apenas em parte, a serem embarcados até outubro no Sul do Brasil, indica um mercado mais disputado e uma reposição de estoques, pela indústria, que irá exigir um pouco mais de valorização.

São ao menos 200.000 toneladas que sairão em casca do Brasil nestes pouco mais de três meses. Em junho, o Brasil exportou 97.000 toneladas e importou pouco mais de 60.000, o que assegurou um avanço do superávit arrozeiro na balança comercial de 2018.

Hoje, a paridade, descontando os custos portuários e outros fatores agregados, deixa espaço para os preços internos subirem até R$ 47,00.

Frete

O setor ainda enfrenta obstáculos com a tabela de fretes e algumas empresas já cogitam adquirir frota para minimizar custos. No entanto, o cenário complexo que envolve o período eleitoral não recomenda grandes investimentos e, apesar dos estudos, há cautela na tomada de decisão.

Ainda há expectativa de reversão, em agosto, deste balizamento dos fretes que aumentou o custo do transporte, em alguns casos, em mais de 50%.

Alguns corretores já projetam que o Brasil poderá superar as 600.000 toneladas de exportação de arroz em casca no ano, além de um volume superior a 400.000 toneladas de quebrados. O resultado total das vendas externas pode superar 1.3 milhão de toneladas, em base casca, envolvendo o arroz branco, parboilizado e integral.

Mercado

A corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 41,50 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca, 58 x 10, no Rio Grande do Sul. O valor alcança 81,00 para a saca de 60 quilos de arroz branco, Tipo 1, sem ICMS, FOB/RS.

Entre os quebrados, estabilidade de preços: o canjicão mantém R$ 53,50 e a quirera R$ 43,00, ambos em sacas de 60 quilos. O farelo de arroz também não sofreu alteração de preços e se manteve a R$ 470,00 por tonelada, FOB/RS.

Preço ao consumidor

Além do período de virada de mês, que costuma manter as cotações mais altas até pelo menos o final desta semana, há o repasse dos custos do frete e da matéria-prima pelas indústrias que o atacado e o varejo passaram a aceitar. Este cenário impôs a retirada de descontos e promoções que até março ocorriam de forma mais ampla e já não é tão corriqueiro ver o saco de cinco quilos de arroz branco, do Tipo 1, abaixo de R$ 10,00.

De maneira geral, registra-se elevação nos preços médios ao consumidor. Não são valores significativos, considerando que o grão está entre os produtos mais baratos, se não o de menor preço, da cesta básica nacional. Em média, o pacote de cinco quilos está sendo comercializado entre R$ 1,00 e R$ 1,50 acima do que se registrava no início do ano.

 

Fonte: Planeta Arroz

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