Por Cleiton Evandro dos Santos / AgroDados
Os preços do arroz recuaram em fevereiro, último mês do ano safra, conforme já prevíamos em análises anteriores. O indicador de preços do arroz em casca em sacas de 50 quilos (58 x 10) no Rio Grande do Sul Esalq/Senar-RS mostrou um recuo de 3,61% nos valores referenciais da saca, para R$ 39,30. A equivalência em dólar ficou em US$ 10,48 pelo câmbio do dia 28 de fevereiro.
O feriadão de Carnaval deixou o mercado inoperante, mas os dias 1º e seis de março, considerados pelo indicador neste mês, revelaram mais 0,94% de recuo nos preços para R$ 38,93, com equivalência de US$ 10,14. No mês, a desvalorização chega a US$ 0,56 por saca.
A razão da queda é óbvia: o início da colheita, que pouco supera os 10%, e a expectativa de uma oferta concentrada de perto de 60% da colheita, seja em pagamentos das CPRs ou da “entrega” do arroz a depósito. No Rio Grande do Sul, isso representa cerca de quatro milhões de toneladas, o equivalente mais de seis meses de demanda.
No dia 28 de fevereiro de 2018, um ano antes, o indicador estava em R$ 35,13 e US$ 10,55. Corrigido pela inflação de março de 2018 a fevereiro de 2019 (3,57% do INPC/IBGE), o valor chegaria a R$ 36,38, ou seja, R$ 2,91 a menos do que o atualmente praticado.
Essa cotação superior ao ano passado tem um motivo de ser: a expectativa de uma safra quase um milhão de toneladas inferior à colhida em 2017/18 no Rio Grande do Sul e de 1.3 milhão de toneladas no país, o que projeta uma gradual recuperação nas cotações ao longo do segundo semestre de 2019.
A projeção inicial é de que o valor do grão ao produtor comece a subir a partir de meados de junho, com maior intensidade entre julho e setembro. Para isso, porém, é preciso que outros fatores contribuam. O câmbio e a Balança Comercial, associados ao consumo interno, serão determinantes.
Se o Brasil conseguir exportar um milhão de toneladas de arroz e não importar mais do que isso, os preços tendem a sem manter elevados até bem perto da entrada da próxima safra. Agora, se a alta de preços internos travar as vendas internacionais e houver excesso de importações, a expectativa de bons preços pode ser afetada negativamente.
Caso se confirme a estimativa da Conab de médias superiores a R$ 52,00 por saca no segundo semestre do ano civil, entre junho e dezembro, fatalmente teremos uma recuperação de área cultivada com arroz para o próximo ano, o que pelos mesmos fatores atuais (dependência de financiamento privado e contratos vencendo em abril), deve interferir nos preços na entrada da safra, mesmo que parte das indústrias operem “menos compradas” na boca da safra.
No mercado livre gaúcho, os preços variam entre R$ 37,00 e R$ 39,00, dependendo da região. A procura pontual é de arroz superior, variedades nobres e alto percentual de inteiro, para composição do mix para tipo 1, uma vez que o excesso de calor na floração e os frios noturnos têm levado alguns produtores, que já estão colhendo, a reclamarem de um percentual anormal de quebrados e falhados.
Preço ao consumidor
Depois que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou em reunião no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) uma reação no consumo de arroz na virada do ano, após um 2017 e um 2018 mais fracos, notou-se uma pequena elevação nos preços médios ao consumidor, em especial na segunda quinzena de fevereiro.
O final das férias escolares e de verão indica a retomada do consumo entre os brasileiros, e isso interfere nos preços. Num primeiro momento, notou-se um aumento das ofertas também, mas com preços acima das médias que se percebia em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, com o pacote de cinco quilos cotado em até R$ 8,99.
No feriadão de Carnaval, uma grande rede carioca promoveu um feirão de produtos, entre eles o arroz, com descontos de até 50%.
O pacote de cinco quilos, de duas marcas distintas, no entanto, ficaram em R$ 9,98 e R$ 11,98, nas ofertas, bem acima do padrão que se percebeu ao longo de 2018 e mesmo durante as férias. Ainda resistindo a aumentos nos valores, os varejistas já tratam de se preparar para os reflexos do encurtamento da oferta interna.
Tendências de relativa estabilidade e, logo em seguida, os preços devem se manter enfraquecendo à medida em que a nova safra entra no silos e troca de mãos.
No entanto, espera-se que a partir de meados de junho a trajetória baixista dê lugar a uma trajetória de recuperação. Desde que a Conab sugeriu a média de R$ 52,00 por saca nesta temporada, os produtores se tornaram um pouco mais estratégicos com relação ao planejamento de vendas.
Safra
As primeiras colheitas são de primeira qualidade e alta produtividade. No entanto, tem sido constatado que há muitas lavouras de soja mais sujas nas várzeas, com escapes de plantas invasoras.
Nesta semana, a área colhida, se o tempo permitir, deve chegar perto dos 20%. A preocupação é com as plantas que estão praticamente prontas.
Frios noturnos na Campanha e no sul gaúchos e o excesso de calor ao dia, tem sido indicados como causa de uma colheita menor do que o previsto, com um grande volume de falhados e quebrados. Esse também é um fator que poderá acarretar a valorização para quem conseguir segurar o grão até o segundo semestre para comercializar.
Planeta Arroz