Contrariando todas as expectativas iniciais dos analistas e agentes de mercado, corretores e mesmo dos arrozeiros, o piso de preços da saca de 50 quilos do arroz em casca no Sul do Brasil, que corresponde a 80% da produção nacional, não para de cair e já está abaixo de R$ 40. Na última sexta-feira (24) o indicador de preços Esalq/Senar-RS atingiu a R$ 39,81 cotação referencial para a saca (58 x 10), negociada à vista e colocada na indústria. Em março as cotações do indicador acumulam queda de 15,44% ou praticamente R$ 6 por saca. Em dólar, a queda foi em torno de US$ 2,70 por saca.
Há registros de negócios envolvendo pequenos lotes, de até três mil sacas na faixa de R$ 39,50 na Depressão Central, referente à quitação de financiamento em produto. Apenas uma cooperativa da região tem R$ 18 milhões para receber de recursos liberados aos associados para custeio da orizicultura, e o prazo vai até 10 de maio, o que preocupa os pequenos agricultores da região. Este é apenas um exemplo.
Os arrozeiros teriam cerca de 45 dias para vender parte da safra, cumprir os contratos e obter preços acima do custo de produção, estimado entre R$ 40 e R$ 45 na região. Ou seja, vendendo pela média de R$ 39 a R$ 40 (brutos) neste momento, ainda que na melhor das hipóteses, teriam prejuízo. Para compensar, o valor de comercialização deveria ser superior a R$ 48.
Os analistas mantêm a expectativa de que rapidamente os preços deverão se recuperar (do final de maio para a frente), mas o atraso na colheita e a pressão da indústria também podem alongar este prazo. Mesmo com a queda dos preços em moeda estadunidense, os valores internos brasileiros ainda estão abaixo dos padrões de competitividade com o arroz do Mercosul, cuja saca entra no Brasil (FOB Porto) na faixa de R$ 37, procedente do Paraguai e da Argentina (US$ 12 a US$ 12,50).
Ou seja, os preços entre R$ 39 e R$ 44 não ajudam em nada porque não chegam ao nível de competitividade que viabilize a exportação, e também não cobrem o custo de produção, nem eliminam a competição do arroz do Mercosul no mercado consumidor brasileiro.
Na última semana foi divulgada pesquisa do Dieese que aponta uma queda de quase 2% nos preços do arroz ao consumidor. A expectativa é de que esse percentual caia mais até o início de abril, obedecendo ao ciclo de tempo do impacto de preços da matéria-prima. Sabe-se, porém, que o percentual vai mudar pouco nas gôndolas dos supermercados, pois não costuma refletir, ao menos para baixo, as fortes oscilações de preços do grão ao agricultor.
Já para o arrozeiro, a expectativa é de março e abril de corda esticada, piso forçando queda e dificuldades nas negociações. Os analistas já admitem que o piso de R$ 39 pode ser alcançado antes da primeira semana de abril se completar. Porém, mantêm a expectativa de uma recuperação mais acelerada depois de maio.
Fluxo
Com cerca de um terço da lavoura gaúcha colhida, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), e mais da metade das áreas em Santa Catarina, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), ainda há espaço e tempo para a pressão se manter sobre os orizicultores. A expectativa é ver até quando (e quanto) eles conseguem segurar a oferta a estes preços. Enquanto isso, as boas notícias vêm do mercado externo. Em primeiro lugar, o México abriu as fronteiras, depois de mais de dois anos de negociação, para a aquisição de arroz gaúcho, mas somente em caixa.
A negociação, que com o Paraguai se resumiu a 60 dias, para liberar o grão em casca ao território mexicano, foi dificultada pela exigência do país norte-americano da realização de operações de expurgo, no Brasil, para a eliminação de uma praga que não existe aqui. Além disso, produtos comuns em expurgo de pragas nos embarques brasileiros – em outros grãos, principalmente – não eram permitidos no México, o que causou um impasse.
Em tese, a liberação das importações para o arroz beneficiado é mais simples de viabilizar, e para encaminhar isso, representantes da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz) e o engenheiro agrônomo Tiago Sarmento Barata, representando o governo do estado, irão ao México.
Balança Comercial
O Brasil fechou o ano comercial com déficit de 293 mil toneladas de arroz, em base casca, no dia 28 de fevereiro. Exportou 894.731 toneladas e importou 1.187 milhão de toneladas. Foi o primeiro déficit em seis anos. Em fevereiro, fechando o ano comercial, o Brasil exportou 51.100 toneladas (base casca), com maior concentração destinada a Serra Leoa (14 mil toneladas). No ano civil (janeiro e fevereiro) Cuba lidera o ranking de clientes com a compra de 42.600 toneladas em janeiro.
Em fevereiro, o Brasil importou 95.600 toneladas (base casca) com o Paraguai, representando cerca de 45% do volume, ou 42 mil toneladas. É seguido pelo Uruguai, com 35% e a Argentina (20,5%). Em 2017 o Brasil já adquiriu 215.200 toneladas. Há quatro temporadas os arrozeiros paraguaios lideram o ranking de fornecedores do cereal para o Brasil, graças aos baixos preços praticados.
Mercado
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 40 para o arroz gaúcho em casca (50 kg/58 x 10) no Rio Grande do Sul, enquanto o produto beneficiado (60 kg) mantém média de R$ 85 (sem ICMS). Já entre os quebrados, o canjicão mantém R$ 48 por saca de 60 quilos (demandado para exportação e ração animal), a quirera segura os R$ 45 e o farelo de arroz mantém preço médio de R$ 470 a tonelada (colocada em Arroio do Meio – RS).
Fonte: Planeta Arroz