Armazenamento inadequado de grãos pode provocar 15% de perdas

"Quanto maior o percentual de água nos grãos maior a probabilidade de infestação por insetos, colonização por fungos e deterioração do produto”, explica Marco Aurélio Pimentel, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. Foto: Divulgação
“Quanto maior o percentual de água nos grãos maior a probabilidade de infestação por insetos, colonização por fungos e deterioração do produto”, explica Marco Aurélio Pimentel, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. Foto: Divulgação

A redução das perdas na produção de grãos depende das adoções de boas práticas agrícolas, que vão desde a lavoura à pós-colheita, passando pela escolha da cultivar que será plantada; época de plantio, de acordo com o zoneamento agrícola para a região; tratos culturais; adubação correta e balanceada; controle de pragas e doenças; e período adequado de colheita, sem retardá-la em excesso.

Neste longo processo, um deles é fundamental para que o agricultor colha bons frutos ao final da produção: o armazenamento dos grãos. Insetos-praga, fungos e micotoxinas associados aos ataques de roedores e presença de animais domésticos são problemas comuns, que têm ocasionado perdas significativas nesta área – algo em torno de 15%. Tudo relacionado ao armazenamento inadequado da produção.

Esta estimativa foi feita por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Milho e Sorgo (MG) -, que mantém um centro de pesquisa responsável pelo projeto “Segurança Alimentar na agricultura familiar: qualidade do milho armazenado na região central de Minas Gerais e Estratégias alternativas de controle de contaminantes”.

Pesquisador da unidade mineira, Marco Aurélio Guerra Pimentel relata que, especificamente na pós-colheita, o produtor deve ficar atento ao teor de umidade dos grãos que serão armazenados: recomenda-se por volta de 13%.

“Quanto maior o percentual de água nos grãos maior a probabilidade de infestação por insetos, colonização por fungos e deterioração do produto”, informa.

Para evitar este problema, ele destaca a necessidade de o produtor limpar os silos metálicos ou locais de armazenagem, retirando os grãos de safras anteriores, que podem ser fontes de agentes contaminantes como fungos e insetos.

“Ainda no processo de limpeza, podem ser utilizados inseticidas protetores (líquidos) para aplicação espacial, ou seja, aplicação nas estruturas de modo a eliminar e protegê-las de novas infestações que possam surgir.”

Sujeira e grãos de safras anteriores em piso de silo metálico. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo
Sujeira e grãos de safras anteriores em piso de silo metálico. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo

INSETICIDAS

De acordo com o pesquisador, os inseticidas são utilizados para eliminar qualquer forma ou estágio de insetos no ambiente de armazenamento, além de proteger as estruturas contra a penetração de insetos provenientes do ambiente externo. “Assim, recomenda-se, após uma limpeza geral, a pulverização com inseticida, de efeito residual, devidamente recomendado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).”

Segundo Pimentel, uma boa limpeza dos grãos também é o ideal, com uso de máquinas de limpeza, como as de ar, peneiras e as mesas densimétricas, que podem auxiliar na remoção de grãos ardidos, cochos e defeituosos, os quais podem ser fontes de contaminação para todo o lote.

“Esta medida é importante porque os insetos têm mais dificuldade de infestar grãos limpos. No processo de limpeza ocorre a redução do teor de impurezas, matérias estranhas, restos culturais e de grãos trincados, quebrados ou ardidos do lote a um nível aceitável para a armazenagem e comercialização.”

Espigas de milho com diferentes graus de infestação por insetos-praga. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo
Espigas de milho com diferentes graus de infestação por insetos-praga. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo

MONITORAMENTO

O monitoramento também é uma fase importante na armazenagem dos grãos. “É importante realizar o monitoramento constante da massa de grãos para verificar o estado daqueles que estão armazenados, acompanhando os sistemas de termometria – quando existentes – e recolher amostras de grãos para verificar a presença de insetos e grãos mofados na massa de grãos.”

Produtos armazenados de safras anteriores ou material proveniente da limpeza dos grãos ou ainda material para descarte, que esteja infestado com insetos, devem ser separados e expurgados com inseticida fumigante fosfina – operação também chamada de expurgo ou fumigação -, para eliminação de todos os estágios de vida (ovos, larvas, pupas e adultos). “A aplicação da fosfina é conhecida como expurgo e deve ser feita sob lonas plásticas próprias de PVC com uso de máscara e luvas protetoras.”

De acordo com Pimentel, estas são recomendações técnicas resumidas que o produtor rural pode utilizar no dia-a-dia. No entanto, ele salienta a importância do desenvolvimento da consciência do agricultor que está trabalhando com um alimento, “mesmo sabendo que muitas vezes o consumo por humanos não será imediato, no caso de grãos destinados a produção de rações para animais e criações na propriedade”.

Danos ocasionados pela umidade em parede de silo metálico e grãos contaminados espalhados pelo chão do silo. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo
Danos ocasionados pela umidade em parede de silo metálico e grãos contaminados espalhados pelo chão do silo. Foto: Divulgação Embrapa Milho e Sorgo

AÇÕES SIMPLES

Para o agricultor familiar ou pequeno produtor, construir um armazém demanda um alto investimento, que muitos deles não têm. Diante disto, o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo garante que é possível ter e manter um espaço adequado para guardar os grãos.

“Neste caso, são sugestões simples que podem fazer a diferença como, por exemplo, a questão da limpeza do local de armazenamento e o isolamento dele de animais domésticos, roedores e pássaros. A limpeza deve ocorrer antes do carregamento da nova safra que será colhida, eliminando grãos das safras anteriores, varrendo o local e se possível outros objetos que estejam no mesmo local.”

Conforme Pimentel, o ideal é utilizar o espaço exclusivamente para o acondicionamento dos grãos que serão colhidos. “Nestes casos, também é interessante o produtor verificar se existe umidade no piso e se o telhado está com telhas inteiras para evitar vazamentos e entrada de água junto aos grãos. Outra medida é o uso de inseticidas em pó, que são de baixa toxicidade, e atualmente com preço mais acessível, que deve ser polvilhado entre os grãos ou espigas durante o carregamento do local de armazenagem.”

Para tanto, a orientação do pesquisador é para que o produtor faça uma vistoria deste local e verifique se estes pontos foram observados antes do carregamento com a nova safra.

CONTAMINAÇÃO POR AGROQUÍMICOS

Pimentel alerta também o produtor para que fique atento ao contato de produtos agroquímicos com os grãos. “A contaminação por agrotóxicos ocorre quando não são utilizadas as doses ou concentrações recomendadas pelos fabricantes, ou ainda quando o período de carência dos mesmos não é respeitado.”

Segundo ele, a contaminação por defensivos agrícolas pode ocorrer por produtos aplicados ainda na lavoura ou também por aqueles aplicados para a proteção dos grãos na pós-colheita.

“Por isso, é muito importante a aplicação das boas práticas agrícolas para que os grãos não sejam contaminados com resíduos de agrotóxicos, além dos limites permitidos pela legislação. Adotando-se as boas práticas agrícolas e consultando profissionais habilitados para emitirem o receituário para uso do produto, o produtor consegue proteger sua produção sem aplicar doses acima do recomendado e contaminar sua produção.”

INFECÇÃO POR FUNGOS

O produtor de grãos também deve ter cuidados com possíveis infecções dos grãos colhidos por fungos. “O processo de infecção por fungos pode ocorrer ainda na lavoura e também durante o armazenamento dos grãos. Em ambos os casos, pode ocorrer a produção de micotoxinas de forma isolada ou por mais de uma espécie ao mesmo tempo.”

Segundo o pesquisador, “estes fungos que produzem micotoxinas, também chamados fungos toxigênicos, podem contaminar uma infinidade de produtos nas diferentes fases da produção e processamento, desde que em condições favoráveis de temperatura e umidade relativa”.

Pimentel cita que diversos autores na literatura científica afirmam que as matérias-primas e derivados são, normalmente, contaminados por mais de uma micotoxina, porque alguns fungos são capazes de produzir diferentes tipos destas substâncias.

“Destacam também que é possível encontrar resíduos de micotoxinas em produtos de origem animal – carne, leite, ovos e queijo -, como consequência da ingestão de produto contaminado, na dieta utilizada na alimentação destes animais. As micotoxinas produzidas por tais micro-organismos afetam diretamente a qualidade do milho, por exemplo, e seus derivados, tanto para consumo pelos humanos como para consumo por animais.”

Segundo o pesquisador, atualmente tem-se verificado, com pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, que a associação entre grãos ardidos e produção de micotoxinas nem sempre é uma regra, como acreditava-se no passado.

“Estes estudos têm demonstrado que mesmo grãos sadios, sem aparente contaminação por fungos (ardidos), podem estar contaminados por micotoxinas, ou até mesmo podem, quando encontram condições adequadas, desencadear o desenvolvimento dos fungos e a consequente produção de micotoxinas.”

Por equipe SNA/RJ

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