Áreas de arroz e feijão continuarão limitadas

Com os preços nas alturas, o arroz e o feijão, a dupla de alimentos mais consumida pelos brasileiros, teve forte impacto nos índices inflacionários e maltrataram o orçamento das famílias neste ano. Mas as altas não serão capazes de motivar um aumento significativo das áreas de plantio de ambos na safra de verão deste ciclo 2016/17. Para o arroz, as primeiras estimativas indicam estabilidade, enquanto no caso do feijão há sinais de um aumento apenas modesto, insuficiente para atender à demanda reprimida pelo produto.

A despeito das valorizações registradas – o arroz registrou alta de 11,1% de janeiro a julho no País, segundo o IPCA, ao passo que o feijão carioca subiu 150,6% -, muitos produtores continuam inclinados a semear soja e milho, commodities que têm maior liquidez. “Talvez o plantio de feijão até esteja mais lucrativo neste momento, mas a estabilidade de soja e milho é maior. Esses produtos têm mercado futuro estabelecido, são envolvidos em operações de “barter” e têm compradores garantidos no exterior”, disse Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe).

 

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Segundo o Ibrafe, a primeira das três safras de feijão do ciclo 2016/17 deverá ocupar 1 milhão de hectares no País, 10% mais que em 2015/16 (945.000 hectares). Ainda assim, lembra Lüders, será uma área 33% menor que a do verão da temporada 2006/07, reflexo de uma década “de falta de incentivos do governo e de um mercado desregulado e esquecido”.

No Paraná, Estado responsável por mais de 30% da produção nacional de feijão no verão, a semeadura deverá cobrir 196.900 hectares, segundo o Departamento de Economia Rural (DERA) da Secretaria da Agricultura do Estado, 7% mais que em 2015/16. Mas a produção poderá crescer mais – 26%, para 368.200 toneladas -, já que não estão previstas adversidades climáticas como as que derrubaram a colheita este ano.

Segundo Lüders, o clima deverá ser mais favorável em todo o país por causa da ocorrência do La Niña. Mesmo moderado, o fenômeno poderá garantir temperaturas amenas no Sul e no Sudeste e menos chuvas. Em 2015/16, o El Nino provocou precipitações bastante acima da média. Ainda assim, os grãos concorrentes também têm vantagens. “O feijão é mais delicado. Qualquer chuva mais volumosa apodrece as vagens, o que não acontece com soja e milho”.

O Ibrafe calcula que o custo de produção de feijão vá crescer, em média, 11,3% em 2016/17, para R$ 147,00 por saca. “A maior elevação é na aquisição de sementes. Com a alta dos preços do feijão, a semente também subiu fortemente”, disse Lüders. Como a colheita começará apenas em janeiro, ele imagina que os preços da saca da leguminosa permanecerão nos patamares atuais (cerca de R$ 400,00) nos próximos meses, com espaço apenas para pequenas baixas. Se essa expectativa for confirmada, o consumidor continuará pagando cerca de R$ 10,00 o quilo.

Para o arroz, o horizonte é mais sombrio. Com a quebra da última safra, estimada em 16%, muitos produtores ficaram descapitalizados e ameaçam encolher as áreas de plantio. “Em algumas regiões, as perdas foram quase totais. Muitos tiveram problemas financeiros e não conseguiram até agora renegociar suas dívidas. Calculamos que 50% dos produtores do Estado não têm garantias para oferecer aos bancos oficiais e conseguir o crédito de custeio agora”, afirma o diretor técnico do Instituto Rio-grandense de Arroz (IRGA), Maurício Fischer. Os gaúchos respondem por cerca de 70% da produção nacional e o IRGA calcula que o plantio ocupará os mesmos 1.1 milhão de hectares dos últimos anos.

Fischer diz que, assim como ocorre com o feijão, o mercado de arroz é “imaturo” e apenas poucas indústrias oferecem operações de “barter” para custear o plantio. “Sem mercado futuro, poucas indústrias e fornecedores de adubos oferecem ajuda financeira ao agricultor”, afirma ele.

O alento para os arrozeiros na safra 2016/17, que começa a ser plantada em meados deste mês, vem então da estimativa de manutenção dos custos, da boa oferta de sementes mais produtivas e da expectativa de preços ainda elevados. O presidente da Federação dos Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Dornelles, observa que a colheita começará somente em meados de fevereiro e que, até lá, a indústria terá que recorrer a seus estoques. “Com menor oferta, o preço do arroz deverá ao menos se manter no patamar atual, entre R$ 47,00 e R$ 50,00 a saca”.

Segundo levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em maio, 865.000 toneladas de arroz em casca estavam nas mãos de produtores, armazenadores e indústrias de beneficiamento. O consumo nacional é calculado em 11.5 milhões de toneladas por safra. No caso do feijão, não há estimativas dos estoques privados, e os estoques da Conab computavam apenas 18 toneladas em julho – o consumo é estimado em 2.9 milhões de toneladas por safra.

Cálculos do IRGA indicam que, nesta temporada, os custos de produção do arroz ficarão, em média, em R$ 6.705,00 por hectare, levando em conta um preço de R$ 44,70 por saca. Isso significa que as primeiras 7,5 toneladas de cereal colhidas pelo produtor servem apenas para pagar os custos, disse Fischer. “A alta do dólar entre as temporadas foi compensada pela queda nos valores de alguns insumos”. O problema, diz ele, é que mais da metade desse valor tem de ser desembolsado pelo agricultor imediatamente – e é por isso que o crédito de custeio é essencial. “Do custo total por hectare, R$ 3.500,00 são usados em sementes, irrigação e mão-de-obra. Ou seja, esse dinheiro tem que estar na mão do produtor”.

Para Dornelles, da Federarroz, essa descapitalização deverá levar a uma redução nas tecnologias usadas nas lavouras. Dados de fornecedores indicam quedas de 40% no volume de adubo vendido até agora, de 80% no caso de sementes e também de 80% nos herbicidas e fungicidas. “Mas o plantio está começando e os produtores podem ter salvo suas sementes, além de ainda terem tempo para comprar insumos. Mas é um alerta sobre a falta de dinheiro”. E ele realça que o IRGA desenvolveu uma semente (424RI) que promete elevar a produtividade média das lavouras para 8.500 quilos por hectare e deverá ser plantada em 50% da área gaúcha. Em 2015/16, foram 6.900 quilos por hectare.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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