A fatia de terras preservadas em propriedades rurais por agricultores no Estado de São Paulo é maior do que todas as reservas indígenas e unidades de conservação juntas, de acordo com dados compilados pela unidade de Monitoramento por Satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Em São Paulo, as terras de preservação permanente, sejam as de reserva legal ou de vegetação excedente, em 309.400 imóveis rurais, totalizam 3.8 milhões de hectares, cerca de 22% do total da área rural do estado. No país, a vegetação protegida pelos agricultores em suas propriedades representa mais de 20% de todo o território nacional, segundo a Embrapa. As unidades de conservação protegem cerca de 13% do total.
Os números estão no Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro eletrônico de propriedades rurais criado em 2012, por meio do Ministério do Meio Ambiente. Até o fim do mês passado, quase 80% dos imóveis desse tipo no país estavam registrados no CAR – um total de 4.1 milhões. Esse banco de dados nacional serve para arquivar informações dos imóveis, como delimitação das Áreas de Proteção Permanente (APP), Reserva Legal (RL), de interesse social e utilidade pública e remanescentes de vegetação nativa.
“Os dados revelam um papel decisivo da agropecuária na preservação do meio ambiente. Muitas vezes, não se leva em conta que as propriedades rurais têm, em média, uma fração de suas áreas preservadas maior do que os espaços que são oficialmente reservados para preservação de vegetação nativa. Erroneamente, acabamos não associando a prática de proteção da vegetação aos imóveis rurais”, disse Evaristo Eduardo de Miranda, chefe-geral da unidade de pesquisas da Embrapa, sediada em Campinas.
“Com os dados que temos a partir do CAR, foi possível observar que, na prática, ninguém e nenhuma instituição ou categoria profissional preserva mais a vegetação nativa do que os agricultores”, disse Miranda. Ele reconhece que ainda há infrações graves ao Código Florestal, mas considera que é crescente o número de proprietários rurais que se preocupam em integrar lavoura e áreas de preservação. “O caminho ainda é longo, mas é visível a nossa percepção de que o agronegócio tem sido repensado mais como parceiro e menos como inimigo do meio ambiente.”
O próximo passo, disse, é integrar mais agricultura e indústria, para que o Brasil exportador de commodities ceda espaço para o exportador de produtos beneficiados. “Também é preciso aumentar investimentos em técnicas que ajudem a melhorar a criação e o plantio no país. Se o setor colocasse em prática tudo o que pesquisamos na Embrapa, nossa competitividade poderia crescer em 12%.”
Fonte: Gazeta do Povo