Impulsionadas pelo avanço do plantio de soja e pelos investimentos que os produtores de grãos, mais capitalizados, têm feito nas lavouras, as vendas de fertilizantes no Brasil deverão manter a tendência dos últimos anos e crescer de 3% a 5% em 2020. Segundo analistas e empresas do ramo, a demanda total de adubos baterá um novo recorde e poderá superar a marca de 38 milhões de toneladas neste ano, contra 36.2 milhões de toneladas em 2019.
Segundo os dados mais recentes divulgados pela Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), de janeiro a julho, as entregas das misturadoras (fabricantes dos produtos finais) às revendas somaram 20.4 milhões de toneladas. O volume representou um aumento de 15,70% em relação ao mesmo período do ano passado.
Eduardo Monteiro, diretor executivo da Anda e vice-presidente comercial da Mosaic Fertilizantes, afirma que a manutenção desse ritmo de entregas até este mês pode implicar leve incremento dos estoques de passagem do Brasil, já que grande parte desse estoque já está comprometido com produtores, cooperativas e revendas.
Em 2020, o movimento de compras de adubos foi marcado por antecipações, tanto para a safra de verão de soja, cuja colheita terá início em janeiro, como para a safrinha de milho, que será semeada na sequência.
Na visão de Monteiro, se, em um contexto de pandemia e desaceleração econômica, essas compras aceleradas chamam a atenção, também são compreensíveis em virtude da relação de troca entre os preços agrícolas e os dos fertilizantes favoráveis aos agricultores. Para a Mosaic, o mercado de fertilizantes no Brasil deverá crescer 5% em 2020. Em 2021, a expectativa é de novo aumento de 3%.
Matheus Almeida, analista do Rabobank, lembra que de março a novembro, o produtor de soja precisou, em média, de 14,8 sacas do grão para comprar uma tonelada de fertilizante, no mesmo período de 2019, eram 21,5 sacas por tonelada.
Na mesma comparação, a relação também ficou mais favorável em outras lavouras importantes para o agronegócio brasileiro, como café (que caiu de 3,6 sacas para 2,9 sacas), açúcar (de 1,1 para 0,9) e milho (de 78,2 para 48 sacas por tonelada).
Nesse cenário, o Rabobank estima que o mercado de fertilizantes crescerá em torno de 4% em 2021, mais que os 3% que estima para 2020. Se a estimativa para este ano se confirmar, a demanda total deve chegar a 37.4 milhões de toneladas, pelas contas do banco.
A estimativa da StoneX é de avanço ainda maior. A consultoria acredita que o mercado vai crescer 5% neste ano, num cálculo que já considera as 25.15 milhões de toneladas importadas entre janeiro e outubro, volume 12,70% maior que o do mesmo período de 2019, segundo a Anda.
“O ritmo acelerado de importações decorre da forte negociação na ponta para o consumidor final, movimento observado desde dezembro de 2019”, disse Gabriela Fontanari, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Priscila Richetti, gerente sênior de inteligência de mercado e operação de suprimentos da subsidiária brasileira da norueguesa Yara, estima uma demanda 4% maior em 2020. A empresa é líder em vendas no Brasil, com participação de 25%.
“Neste ano, o câmbio mais alto, que influencia diretamente o valor das culturas exportadoras, como a soja, fortaleceu a compra antecipada de fertilizantes”, afirmou Priscila, realçando que os embarques de café, arroz e milho também cresceram. “Com a perspectiva da vacinação contra a Covid-19 para 2021, esperamos uma retomada da demanda para hortifrútis e flores, mais ligados ao consumidor final e ao público urbano”.
Os dois segmentos foram muito afetados em 2020 pelas restrições de circulação de pessoas, fechamento de hotéis, escolas, restaurantes e menor realização das feiras livres.
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