A safra gaúcha 2013/14 de trigo está encalhada nos armazéns de produtores de cooperativas do Estado. Segundo estimativa da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), até agora foram comercializados apenas 20% do volume colhido, superior a 3,1 milhões de toneladas. O problema, segundo a entidade, é que os armazéns estão cheios de trigo às vésperas da entrada da colheita da safra de soja e milho no Estado.
O encalhe acontece depois de o Brasil registrar uma grande escassez de trigo no mercado interno, a ponto de o governo brasileiro liberar ter liberado a importação de mais de 3 milhões de toneladas do cereal de fora do Mercosul sem imposto no ano passado.
O que explica a situação, segundo o presidente da Fecoagro, Rui Polidoro, é que muito trigo americano e canadense entrou no Brasil no segundo semestre, de forma que os moinhos ficaram abastecidos. Para piorar, agora a Argentina liberou a exportação de uma parte de sua produção do cereal.
A entidade vai encaminhar ao governo um pedido para que retire temporariamente a cobrança do imposto destinado ao fundo Marinha Mercante, cuja alíquota é de 20% sobre o valor do frete. Essa cobrança torna oneroso o transporte de trigo do Rio Grande do Sul até o Nordeste. Além disso, que não libere em 2014 a isenção do imposto de importação (a TEC) de trigo de fora do Mercosul, como ocorreu em 2013.
Há também, segundo ele, uma carga tributária elevada sobre a venda do trigo gaúcho, que onera a compra do cereal por moinhos de fora do Rio Grande do Sul. “No fim do ano passado, a alíquota de ICMS incidente sobre a venda do cereal, de 12%, foi reduzida para 8%. Mas a comercialização ainda não decolou”, disse Polidoro.
O presidente de um dos maiores moinhos da América Latina, o Moinho Pacífico, Lawrence Pih, disse que hoje um moinho de São Paulo que importar trigo americano, mesmo com a volta do imposto de 10%, vai pagar mais caro do que se comprar trigo gaúcho. Mas essa diferença, segundo ele, não é tão grande.
O trigo gaúcho, na casa dos R$ 650 por tonelada, chegaria ao moinho em São Paulo, segundo o empresário, a R$ 820. A mesma tonelada do cereal americano, com recolhimento do imposto de importação, sairia por R$ 880, conforme compara o executivo.
O problema desse encalhe, diz o presidente da Fecoagro, é que a partir de fevereiro, os produtores começam a colher a safra de milho e soja e os armazéns estão abarrotados de trigo ainda não vendido.
Ao Valor, o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, informou que se o preço do trigo ficar abaixo do mínimo, o governo vai atuar. “Mas por enquanto não há necessidade, já que os preços estão muito acima do mínimo. Se precisar nós vamos ajudar, pois o setor é considerado estratégico”, afirmou Geller.
O Brasil é importador líquido de trigo, pois sua produção interna não é suficiente para atender sua demanda. Nesta safra 2013/14, o país produziu 5,4 milhões de toneladas do cereal, 24,9% acima do produzido na safra passada. Como o consumo interno é da ordem de 11 milhões de toneladas, a importação deve ser de 6,5 milhões de toneladas, segundo a Conab.
Fonte: Valor Econômico
