As margens apertadas com o esmagamento de soja na China, que têm até levado a cancelamentos de compras do grão exportado pelo Brasil, são de curto prazo e devem se normalizar em dois ou três meses, projetou o presidente da Bunge, uma das maiores empresas do agronegócio global.
“As margens na China são ruins para todo mundo”, disse o presidente Soren Schroder, em visita ao Brasil. “Mas este é um problema de curto prazo.”
Ele afirmou que as margens defasadas de processamento devem durar apenas mais dois ou três meses, sem elaborar uma justificativa.
Importadores da China, o maior comprador global de soja, já deram calote em pelo menos 500 mil toneladas em carregamentos de soja do Brasil e dos EUA nas últimas semanas, em meio ao arrefecimento da demanda e o aperto de crédito na China, segundo fontes do mercado asiático.
Na terça-feira, a Abiove, associação que representa as grandes empresas do setor da soja no Brasil, reduziu em 1 milhão de toneladas sua projeção de exportações do grão este ano pelo país, devido a um pequeno arrefecimento da demanda chinesa.
Em um jantar com jornalistas em Barcarena (Pará), onde a Bunge inaugura nesta sexta-feira o terminal de exportação de um complexo logístico de 700 milhões de reais, Schroder se mostrou tranquilo em relação à oscilação do mercado chinês: “Isso acontece todo ano. Mas a tendência (da demanda chinesa no longo prazo) é sempre de alta.”
O novo presidente da Bunge no Brasil, Raul Padilla, que assume o cargo na próxima semana, garantiu que não houve nenhum calote ou cancelamento de compra de soja brasileira exportada pela empresa.
“Não houve nenhuma perda”, disse ele, ressaltando que a Bunge do Brasil vende soja para a divisão chinesa da empresa.
A soja brasileira é usada pela Bunge para abastecer 5 unidades de esmagamento da companhia na China.
NOVO TERMINAL
O encontro de executivos da Bunge em Barcarena, uma cidade às margens da baía de Marajó, teve um tom de celebração, poucas horas antes de a presidente Dilma Rousseff desembarcar na cidade para inaugurar oficialmente o novo terminal exportador da empresa.
“Essa rota é extremamente estratégica para o país. Estamos muito orgulhosos”, disse Pedro Parente, que deixa a presidência da Bunge no Brasil ao final do mês.
De fato, ao despachar seu primeiro navio com soja, no sábado, o terminal de Barcarena estará abrindo uma nova rota logística para um país que sofre com gargalos e custos elevados neste setor.
O complexo inclui um terminal de transbordo em Itaituba (PA), a mil quilômetros de distância de Barcarena, que vai receber a soja de caminhões que cruzam a BR-163 no Pará, ainda sendo asfaltada. Daquele ponto em diante, o transporte da soja será feito em barcaças pelos rios Tapajós e Amazonas, reduzindo em cerca de um terço o custo do frete entre as fazendas do norte de Mato Grosso e os navios.
A expectativa é de que quase uma dezena de empresas se instalem na região nos próximos anos, operando de maneira similar à Bunge.
Parente disse que as reduções de custos deverão ser sentidas pelos produtores rurais, com a oferta de preços mais competitivos pelos grãos.
“O nosso objetivo é aumentar market share”, disse o executivo, ressaltando que a empresa conta com a operação de rotas mais eficientes e baratas, como a de Miritituba-Barcarena, para poder conquistar espaço ainda maior entre os fornecedores.
A Bunge hoje já é a maior exportadora do agronegócio brasileiro e a terceira maior do país, perdendo apenas para Vale e Petrobras, em receita com vendas para fora do país.
Com os novos quatro milhões de toneladas anuais de capacidade do terminal de Barcarena, a Bunge deve atingir uma capacidade de exportação de 35 milhões de toneladas de grãos por ano.
Fonte: Reuters