Aperto de crédito no Brasil ameaça produtores e exportações agrícolas

A pior crise de crédito do Brasil em duas décadas está forçando endividados produtores de grãos, açúcar e café a reduzirem investimentos, fazendo com que integrantes desses setores na nação líder em exportações agrícolas deixem de aproveitar uma recuperação nos preços globais.

Os bancos, atingidos por uma onda de calotes e falências desencadeada pela recessão mais dura do país em oito décadas, apertaram o crédito, trazendo crescimento dos empréstimos para uma mínima de 17 anos em abril.

Os produtores agrícolas, que se endividaram pesadamente nos últimos anos para financiar uma rápida expansão, estão entre os mais atingidos.

“Nós não vimos uma contração de crédito como esta na história recente”, disse Alexandre Figliolino, que presta consultoria para empresas do setor agrícola. “Podemos perder dois anos de expansão agrícola.”

Vários agentes do setor bancário disseram à Reuters que esperam que o crédito permaneça apertado por pelo menos mais um ano, ampliando uma forte desaceleração na produção agrícola.

A área plantada com grãos, incluindo a soja e o milho, cresceu apenas 0,3% este ano, em comparação com um crescimento de 3% em 2015 e de 5% em 2014, mostrou uma análise dos dados do Ministério da Agricultura.

As safras de soja e milho caíram neste ano pela primeira vez desde 2011 e 2013, respectivamente.

Embora as exportações de ambos os produtos tenham crescido fortemente durante o ano passado devido à alta do dólar, os analistas esperam que as exportações de milho recuem até junho de 2017, com produtores de carnes disputando a matéria-prima escassa.

As exportações de café também têm diminuído nos últimos meses, em comparação com os níveis recordes de 2015, com o setor reconstruindo estoques após dois anos de seca.

O aperto coincide com uma recuperação nos preços globais das commodities.

Os preços internacionais do açúcar bruto estão no mais elevado patamar em quase 3 anos; a soja está operando perto de uma máxima de dois anos; e os preços do café e milho estão próximos de uma máxima de quase um ano.

O Brasil é o segundo maior exportador de milho e o principal de soja, café e açúcar.

Na semana passada, o diretor-presidente da Cosan Limited, Marcos Lutz, disse acreditar que safra de cana será menor na atual temporada.

Apesar do maior déficit global de açúcar em décadas, Lutz não prevê investimento em capacidade a curto ou médio prazo, em meio a restrições de financiamento.

Macquarie Bank Ltd, Itaú Unibanco e Rabobank estão entre os bancos que estão renegociando créditos antes de oferecer novos empréstimos para capital de giro ou investimento.

Banco Pine SA, ABN Amro Group, Credit Agricole SA e outros têm seguido essa mesma estratégia.

A Odebrecht Agroindustrial, a produtora de grãos de capital fechado Bom Jesus e empresa agrícola JPupin estão entre os grandes produtores que estão reestruturando dívidas ou que entraram com pedido de proteção contra credores, depois de acumularem mais de R$ 15 bilhões em passivos combinados.

Com a taxa de juro de referência em 14,25%, perto da máxima em uma década, e termos de empréstimo mais duros, os produtores estão confiando mais em operações “barter” (troca) de produtos por insumos, afirmou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), em um relatório recente.

As multinacionais são também mais ativas no financiamento de curto prazo.

Com credores menores mais retraídos, o Banco do Brasil, principal financiador da agricultura, elevou os empréstimos a juros subsidiados em 44% neste ano.

Ainda assim, os líderes da indústria dizem que o crédito dos bancos do setor privado, que representam cerca de 40% dos empréstimos da agricultura, continua a ser essencial.

Esse crédito, no entanto, tornou-se muito mais difícil de obter.

Um executivo de um dos bancos brasileiros que lida com tomadores agrícolas de médio e grande porte disse a clientes que no passado poderiam pegar R$ 20 milhões de empréstimo que eles agora só poderiam obter metade disso.

“Alguns agricultores vão quebrar nestas condições”, disse Marco Parzianello, que dirige uma grande fazenda em Sorriso (MT). “Nós seguramos a expansão para acumular reservas de caixa e tivemos sorte de fazê-lo.”

 

 

Fonte: Reuters

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