O estabelecimento de uma tabela para os fretes rodoviários no país gerou um aumento próximo a US$ 2.36 bilhões nos custos logísticos para exportação de grãos. A estimativa foi divulgada por Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela BM&F.
“Todo nosso faturamento é baseado em grandes volumes, mas com margem pequena”, disse. No cálculo, ele considera exportações de 74 milhões de toneladas de soja, 27 milhões de toneladas de milho e 17 milhões de toneladas de farelo de soja. A Anec não divulgou quais são os custos totais.
Segundo Mendes, esses volumes de exportação já estão comprometidos e o país os enviará ao exterior, mas com custos muito mais altos. “O meu grande medo é que o Luiz Fux (ministro do Supremo Tribunal Federal) veja esses números e ache que está tudo bem”.
O ministro do STF decidirá sobre os recursos apresentados contra o tabelamento do frete a partir do dia 27 de agosto, quando ocorre uma audiência pública sobre o tema. Na ocasião, será discutida a legalidade (ou não) do governo determinar preços mínimos para os transportes de cargas.
Para Mendes, o Brasil já parte com desvantagem de US$ 60,00 por tonelada em relação aos Estados Unidos ao realizar exportações. “Com tudo certo, a gente já tem essa desvantagem de US$ 60,00 por tonelada, mas como o Brasil faz mais de uma safra, dá uma equilibrada nisso”, disse. O estabelecimento de uma tabela de fretes mínimos rodoviários adiciona mais US$ 20,00 por tonelada a essa desvantagem, segundo Mendes.
Diante da alternativa aventada de compra de frota própria para escoar a produção, o diretor da Anec afirmou que para atender o volume a ser movimentado, as tradings grandes (ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus), teriam de adquirir 4.000 caminhões cada uma, com gastos estimados em R$ 700.000,00 por carreta, totalizando cerca de R$ 2.8 bilhões de investimentos.
“Isso para as ABCD. Para as menores, é falência”, afirmou Mendes. “Tem muita empresa comprando, e essa despesa cairá na mão do produtor”. Segundo o dirigente, o impasse em relação à tabela paralisa os negócios envolvendo a safra 2018/19.
“É um cenário onde a gente deveria estar aproveitando a demanda da China, mas não estamos. A China ainda depende muito da soja americana e vai acabar chegando a um acordo com os EUA. Os EUA fecham todas as compras e vai acabar sobrando pouca exportação para a gente”.
Bartolomeu Braz, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), disse, também no evento da Abag, que o estabelecimento da tabela de fretes tem dificultado a precificação de soja no mercado futuro e diminuído as operações de “barter” (troca de insumos por grãos), para a safra de soja 2018/19.
Segundo Braz, as operações de troca estão hoje em cerca de 17% da safra, quando o normal seria entre 35% e 30%. “O tabelamento do frete tem inviabilizado os negócios futuros”.
O presidente da Aprosoja afirmou que a situação faz as tradings e produtores perderem o parâmetro para negociar. Em sua avaliação, o tabelamento pode resultar em menor aplicação de tecnologia na safra, o que pode gerar queda de produtividade. “Sem o ‘barter’, não temos crédito suficiente para estabelecer a safra. Mas estamos apelando às instituições financeiras”, acrescentou Braz.
Rui Rosa, superintendente de agronegócio do Banco do Brasil, afirmou, em relação ao “barter”, que a instituição “está preparado para atender a demanda”. Durante o seminário da Abag, ele disse que o estabelecimento da tabela de fretes pode gerar novos investimentos. “Trouxe o pensamento de ter a sua frota própria. Aquilo que não estava no radar, passa a ser pensado. O ponto é que a dúvida de preço do frete gera uma grande dúvida no produtor”.
Carlos Aguiar, diretor de negócios do banco Santander Brasil, informou que os financiamentos aos produtores estão sendo alongados até que se normalize o transporte.
Para Braz, da Aprosoja, a tabela deve até impedir o aumento de área plantada com soja na safra 2018/19, apesar da demanda aquecida. “Todo o ano, a área de soja cresce entre 3% e 4%. Mas, com essa questão do frete, acho que permaneceremos na mesma área do ano passado”, disse.
A avaliação vai na contramão das principais consultorias que preveem aumento ao redor de um milhão de hectares no novo ciclo, cerca de 3% a mais que os 35 milhões de hectares de 2017/18.
Apesar do imbróglio sobre o frete e das incertezas atuais, José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados, mostrou otimismo. “O que não é possível, não acontece. Essa tabela não é possível”, afirmou. “O agronegócio cresceu 11,5% nos últimos quatro anos e não tem ninguém desesperado por falta de dinheiro. Foi o único segmento que não perdeu o pique de crescimento no Brasil”.
Fonte: Valor Econômico