As cotações dos contratos futuros da soja em Chicago continuaram recuando, especialmente após o anúncio da intenção de plantio nos EUA, dia 31/3. Um pequeno ajuste técnico, motivado pelas fortes chuvas desta semana na Argentina reverteram um pouco a tendência baixista. Porém, o vencimento mao/17 fechou ontem cotado a US$ 9,41 ½/bushel. Esta cotação só encontra comparação às registradas um ano atrás em Chicago. A média de março do vencimento maio/17 ficou em US$ 9,96/bushel, após US$ 10,29 em fevereiro. Ou seja, em relação à média de fevereiro Chicago perdeu quase US$ 1,00 por bushel, nestes últimos 40 dias.
Na prática, o relatório de intenção de plantio mostrou um aumento na área a ser semeada com soja de 7%, com a mesma devendo chegar a 36.2 milhões de hectares. Na mesma oportunidade, o relatório de estoques trimestrais em 1º de março, indicou um volume de 47.08 milhões de toneladas, ou seja, um aumento de 13% em relação a março de 2016. Portanto, nos dois casos muito baixista para o mercado!
Com isso, o vencimento maio/17 chegou a registrar uma mínima a US$ 9,36 ½ /bushel no dia 4/4, somente se recuperando um pouco em função do retorno de fortes chuvas sobre as regiões produtoras da Argentina. Nesse sentido, informações dão conta de que “algumas regiões no país vizinho chegaram a observar precipitações em 1200% acima da média, com a maioria da região sojicultora presenciando chuvas em 400% acima, nos últimos sete dias”. Todavia, ao menos por enquanto, tais intempéries não teriam causado perdas no potencial produtivo da soja local. Entretanto, novas chuvas estavam previstas para este final de semana e parte da próxima semana.
Nesse contexto, a colheita no vizinho país atrasou mais um pouco, chegando a apenas 2% da área total do país nesta semana, contra 8% no ano passado, enquanto no milho a mesma chegava a 11%, contra 13% na mesma época de 2016. Na principal região produtora de soja a colheita atingia a 8%, contra 21% no ano passado (cf. Safras & Mercado).
Pelo lado da demanda, após um recorde no esmagamento de soja no início do ano, a China estaria moderando o processo neste momento. Mesmo assim, o total esmagado pelo país asiático, até este início de abril, atingia a 43.6 milhões de toneladas, ou seja, 9% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
Enfim, vale lembrar que em Chicago o mercado se encontra “oversold” e que os baixos preços atuais são atraentes para novas compras por parte dos Fundos. Mas, a forte oferta global inibe um movimento de compra intenso, salvo se houver problemas climáticos persistentes na colheita argentina e, sobretudo, no momento do plantio estadunidense.
No Brasil, o quadro é de queda nos preços, especialmente porque novas estimativas da safra apontaram um total recorde de 111.5 milhões de toneladas segundo Safras & Mercado. Isso representa 15% acima do colhido no ano passado. Deste total, o Rio Grande do Sul participaria com um pouco mais do que 17 milhões de toneladas (rendimento médio de 3.120 kg/ha), o Paraná com 19.1 milhões de toneladas (3.550 kg/ha), o Mato Grosso com 30.8 milhões de toneladas (3.300 kg/ha), Santa Catarina com 2.3 milhões de toneladas (3.600 kg/ha), Goiás 11.5 milhões de toneladas (3.420 kg/ha), Mato Grosso do Sul 8.2 milhões (3.280 kg/ha), Minas Gerais 5 milhões de toneladas (3.420 kg/ha), São Paulo 2.9 milhões de toneladas (3.420 kg/ha), Bahia 4.8 milhões de toneladas (3.120 kg/ha), Maranhão 2.2 milhões de toneladas (3.060 kg/ha), Piauí 2 milhões (3.000 kg/ha) e Tocantins 2.7 milhões de toneladas, com produtividade média de 3.060 kg/ha.
A colheita brasileira, até o dia 31/03, atingia a 76% da área, contra 72% na média histórica, sendo que o Rio Grande do Sul havia colhido apenas 35%, o Paraná 88%, Minas Gerais 85%, Bahia 20% e Santa Catarina 45%. Os demais importantes estados produtores estavam com a colheita praticamente encerrada, faltando entre um a dois pontos percentuais para encerrá-la definitivamente (cf. Safras & Mercado).
Nesse amplo contexto de oferta, a média gaúcha no balcão recuou para apenas R$ 57,32/saca, havendo regiões já negociando soja entre R$ 52,00 e R$ 54,00/saca. No ano passado, nesta época, o balcão gaúcho pagava R$ 68,49/saca. Ou seja, o preço médio atual é de 16,3% abaixo do praticado um ano antes. Considerando a inflação oficial de 4,6% no período, a perda real é de 20,9% para o produtor gaúcho. Nos lotes, o preço gaúcho oscila atualmente entre R$ 59,00 e R$ 59,50/saca. Nas demais praças nacionais os lotes ficaram entre R$ 51,00/saca em Sinop, Sorriso e Diamantino (MT), passando por R$ 54,50 a 56,50/saca no Piauí e Tocantins, até chegar a R$ 59,50/saca no oeste do Paraná. Esse quadro baixista foi reforçado, na semana, pela firmeza do real que, em alguns momentos, voltou a bater em R$ 3,10 por dólar.
Neste contexto, por enquanto, o máximo que se pode esperar é que tais preços sejam o fundo do poço do atual mercado da soja nacional.
Fonte: CEEMA / UNIJUI