Ameaça ao açúcar brasileiro na China

Um imbróglio na tradução de documentos em mandarim se tornou um risco adicional para as vendas brasileiras de açúcar à China. Termina amanhã o prazo de 20 dias aberto por Pequim para a manifestação de exportadores que se sentem atingidos pelo processo que pode culminar na aplicação de salvaguardas ao produto. O tempo dado pelos chineses já foi considerado bastante apertado, mas tornou-se praticamente impossível de cumprir com um feriado local entre os dias 1 e 7 de outubro.

Se não responder ao questionário do governo asiático, o Brasil perde a chance de defesa no caso e se vê mais perto de sofrer com sobretaxas para o açúcar embarcado àquele mercado.
No dia 23 de setembro, a China resolveu abrir uma série de investigações relacionadas às crescentes importações de açúcar provenientes de vários países. O governo chinês informou na ocasião que seriam investigadas importações feitas desde 2011 e que estariam sob o foco supostas medidas protecionistas de outros países concedidas ao açúcar produzido por eles.

O tempo concedido pelos chineses já havia sido considerado apertado, mas se tornou praticamente impossível de cumprir com um feriado local entre os dias 1º e 7 de outubro. Se não responder ao questionário do governo asiático, o Brasil perde a chance de se defender no caso e se vê mais perto de sofrer com sobretaxas para o açúcar embarcado àquele mercado.

Entre janeiro e setembro, as exportações de açúcar bruto à China foram de US$ 547 milhões. O ministro da Indústria, Marcos Pereira, está em Macau e aproveitou reunião com o ministro chinês de Comércio, Gao Hucheng, para fazer um apelo por mais tempo.

“Fizemos o pedido para que a China prorrogue o prazo para a defesa das nossas empresas, uma vez que o mercado chinês é muito relevante para o açúcar brasileiro”, disse Pereira ao Valor.

O Brasil tem exportado cerca de 2.5 milhões de toneladas por ano de açúcar para a China, o que representa 50% do total importado pelos chineses – e 10% de todo o volume de açúcar que o Brasil exporta. A China oferece uma cota de 1.95 milhão de toneladas com tarifa de 15% para a entrada do produto. Esse montante vale para todos os fornecedores – ou seja, é beneficiado quem chega primeiro. O que excede a cota paga 50%.

Se perder o prazo, o Brasil perde também a oportunidade de se defender em um momento crucial do processo. A notificação chinesa, segundo técnicos do governo brasileiro com conhecimento do assunto, não foi clara sobre as consequências da falta de resposta. O prazo de 20 dias já havia causado desconforto entre as autoridades.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), entidade que representa as maiores usinas de açúcar e etanol do país, contratou um escritório de advogado chinês para auxiliar na tradução. “Não será possível respondermos a todas as questões, pois o documento com os questionamentos tem 91 páginas, mas vamos responder às questões gerais e acredito que haverá tempo”, diz o diretor-executivo da UNICA, Eduardo Leão.

O prazo de amanhã foi fixado para que os países interessados façam uma primeira manifestação. O Mofcon, ministério chinês da indústria e equivalente ao MDIC brasileiro, ameaça aplicar salvaguarda contra vários países, entre os quais Brasil, Tailândia, Coreia do Sul e Austrália. “Uma tarifa de salvaguarda seria muito negativa para nós, pois se trata do maior mercado para o açúcar brasileiro”, disse Leão. O executivo ainda explica que, se confirmadas, as salvaguarda se aplicam a todo o açúcar exportado à China, independentemente da origem.
Fonte: Valor

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