Alta no preço dos grãos preocupa criadores de aves, suínos e bois

Granjas de aves e suínos e os confinamentos de boi estão com uma preocupação: a alta no preço do milho e da soja encarece o custo da ração. Desde janeiro, o valor da saca de milho subiu cerca de 30% no Paraná. A de soja mais de 15%.

“Neste momento estamos vivendo um período de preços internos muito altos. Isso se deve à retenção por parte do produtor. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fala em estoques de passagem recordes, superiores a 17 milhões de toneladas”, disse Camilo Motter, analista de mercado.

Na avicultura, as altas nos preços já começaram a afetar a atividade. O milho representa quase 70% da composição da ração que é usada para alimentar os frangos. A soja, cerca de 20%. Quando os preços dessas culturas sobem, o impacto é imediato na produção de carne de frango.

Utilizada em todas as fases de crescimento das aves, a ração representa o maior custo para preparar um frango para o abate. “Dentro de uma normalidade, em torno de 70% a 72%. Hoje, com esse aumento do milho e soja, está chegando a 80%, 82% do custo do frango na plataforma. É muita coisa, é muito alto”, afirmou Jurandir de Mattos, gerente de indústria de rações.

Em uma cooperativa de Cascavel, o impacto foi um aumento de 15% no custo final da carne de frango. A cooperativa reduziu o número de aves abatidas por dia, de 230.000 para 200.000, e busca outras mudanças para não ter tanto prejuízo.

“Nas três frentes, nós temos de trabalhar na redução de custo, na diminuição da oferta de frango, na melhora nas exportações, e também, junto à redução de custo, agregar mais valor. Ao invés de vender peito de frango com osso, vamos vender sem osso”, disse o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli.

Em uma fazenda que faz o confinamento de gado, em Rondonópolis, no sul de Mato Grosso, os cochos são abastecidos cinco vezes por dia. “A gente vinha comprando milho de R$ 16,00, R$ 17,00, R$ 18,00 até o final do ano e o milho mudou de preço agora por mais de 40% de alta”, comentou o criador Fábio Luis Neves Silva.

A soja também teve alta, com aumento de quase 32% em relação à safra passada. Em uma granja em Campo Verde, são cerca de 7.500 suínos. Só de farelo de soja são usadas 75 toneladas por mês. Para evitar desperdício, toda a ração é distribuída de forma automática.

“Hoje é preciso estar preocupado para manter os custos de produção que são altos, e esse farelo representa bastante”, disse o supervisor da granja, Josmar Domingues.

Uma empresa que fica em Cuiabá esmaga cerca de 1.200 toneladas de soja por dia e a maior parte da produção tem sido exportada.

“Esse ano a gente já começou com as exportações numa velocidade bem mais elevada que no ano passado. Então, isso demonstra que o mercado internacional já está com bom apetite por farelo e para os produtos do Brasil”, afirmou Alexandre Sperafico, diretor da unidade.

Além da forte seca que derrubou a safra de soja e milho na Argentina, o mercado está agitado com a disputa comercial entre China e Estados Unidos. Os chineses aumentaram a taxa de importação de vários produtos norte-americanos, entre eles, a soja.

Os reflexos para a agricultura brasileira são imediatos, conforme explica o superintendente do Instituto Matogrossense de Economia e Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca: “Por conta disso, como o Brasil é um grande fornecedor internacional desses produtos, devemos fazer um comércio maior com a China, que já é a nossa maior parceira comercial no mundo”.

Segundo Latorraca, “com certeza isso já está acontecendo no mercado da soja, e a expectativa é que aconteça também no mercado do milho, quando for colhida a segunda safra, e na área de carnes, em especial suínos”.

“Sem dúvida nenhuma, devemos fazer parte dessa demanda, pois temos um mercado grande ao redor do mundo”, disse.

A China não anunciou quando passa a valer a sobretaxa dos produtos norte-americanos.

 

Fonte: Globo Rural

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