Alta do dólar destrava venda da safra de soja

A reação do dólar nos últimos dias incentivou vendas pontuais de soja em Mato Grosso (maior produtor nacional da oleaginosa), após semanas de negociações travadas. Entretanto, os agricultores ainda esperam uma alta mais sustentada dos preços para que a comercialização da safra 2016/17, que está em início de plantio, ganhe ritmo novamente.

“É um movimento lento, mas começaram a ‘pintar’ alguns negócios de novo”, disse Gilmar Meneghetti, da Meneghetti Corretora de Cereais, de Campo Verde (MT). Segundo o corretor, porém, a maior parte das vendas na região diz respeito à soja disponível, colhida na já encerrada safra 2015/16. Da nova temporada, os volumes são mais reduzidos.

Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que 27,4% da safra 2016/17 já está comercializada, percentual bem abaixo dos 40,1% do mesmo período do ano passado. O atual nível no Estado é bem próximo da média brasileira: conforme a consultoria Safras & Mercado, os sojicultores do País já negociaram 20% do que esperam colher no novo ciclo, aquém dos 29% de um ano atrás.

 

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De modo geral, os produtores mato-grossenses estão insatisfeitos com as cotações da soja, que estavam bem superiores há cerca de três meses, quando se aproximaram de R$ 80,00 por saca. Desde então, os preços recuaram à casa de R$ 60,00, em meio à perda de sustentação da commodity na bolsa de Chicago, na medida em que uma nova supersafra americana se configurava. Mas com o auxílio recente do câmbio, a oleaginosa já avançou para mais perto dos R$ 65,00 por saca. De 6 de setembro até ontem, o dólar subiu 2,18% contra o real.

Para Meneghetti, as vendas vão destravar se o dólar continuar subindo e os preços em Chicago pararem de cair. “O produtor aceita R$ 65,00, embora prefira R$ 70,00. Não serão vendas em grandes volumes, mas o mercado começa a fluir, até porque o agricultor está preocupado com a grande safra que vem pela frente nos EUA”, conclui. Ontem, a soja para novembro fechou a US$ 9,7250 o bushel em Chicago, alta de 0,7%.

Em Nova Mutum (MT), também há relatos de negócios fechados nos últimos dias, porém de mais volumes da safra nova. Mas o preço tem feito o produtor ponderar: as cotações da soja nas vendas antecipadas da safra 2016/17 chegaram a R$ 76,00 por saca, mas atualmente não passam de R$ 62,00. “A maioria [dos agricultores] está em compasso de espera, até em virtude de não ter plantado nada ainda”, disse Ramicés Luchesi, da MT Grãos.

Segundo Luchesi, os produtores americanos também comercializaram pouco da safra até agora (lá, a colheita já teve início), e o atual patamar em Chicago não é suficiente para atingir o lucro que eles esperam. “Isso pode permitir alguma reação de preços e criar mais oportunidades de venda para os produtores brasileiros depois de outubro ou novembro”, prevê.

No caso do milho, a comercialização da safrinha de 2017 (que será plantada no começo do ano que vem) também está vagarosa em Mato Grosso. A questão central é a diferença entre as cotações no mercado disponível, em R$ 35,00 por saca, e no futuro, a R$ 24,00 em Nova Mutum. “O produtor achou essa diferença muito grande e aí também perdeu um pouco do ‘timing’ da venda”. Luchesi estima que de 20% a 25% da safrinha de milho de 2017 já estava vendida na região, contra cerca de 50% no mesmo período do ano passado.

 

Fonte: Valor Econômico

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