Alta do dólar destrava negócios com soja da nova safra do Brasil

Os picos nas cotações do dólar registrados entre quinta e sexta-feira foram a deixa que produtores de soja e tradings esperavam para fechar negócios que estavam represados há meses, disseram corretores. O mercado vinha estagnado com poucos contratos firmados para grãos da safra 2016/17, que serão colhidos no primeiro trimestre do ano que vem.

Por um lado, os produtores estavam insatisfeitos com os preços oferecidos. Por outro, as tradings ficavam impossibilitadas de elevar as ofertas em um cenário de preços estáveis na bolsa de Chicago e câmbio desfavorável. Os negócios começaram a acontecer na quinta-feira, em meio às repercussões da eleição de Donald Trump para a Casa Branca, que ajudou o dólar a acumular uma alta de mais de 9% entre a cotação de fechamento de quarta-feira e a máxima de hoje.

“As multinacionais começaram a ir atrás de compras… Entre ontem e hoje foi vendido mais do que nos últimos dois meses”, disse o diretor da corretora Confiança Agrícola, Vanderlei Angonese, baseado em Sinop, no norte de Mato Grosso. Segundo ele, até semana passada, as ofertas pela soja da nova safra giravam em torno de R$ 60 a saca. Desde quinta-feira, os negócios na região foram fechados a R$ 66. “Movimentou bastante. A última alta que aconteceu, foi há dois meses”, disse uma corretora de Rondonópolis (MT) que pediu para não ser identificada. Na cidade, os preços da soja estavam estagnados a R$ 65 a saca há mais de um mês, saltando agora para R$ 70.

Os negócios fechados em dois dias corresponderam a 1.5 milhão de toneladas da nova safra, estimou um analista sênior de uma corretora de São Paulo. Ele ressaltou, contudo, que os produtores continuam cautelosos antes de fechar negócios antecipados. “Uma mexida assim do câmbio era para rodar 3 milhões de toneladas… É um movimento bom, mas aquém do esperado com essa alta do dólar. Os produtores esperam o comportamento (da produtividade) das lavouras antes de fechar mais negócios”, disse.

Segundo a consultoria Safras & Mercado, até 4 de novembro, antes da alta do dólar, a comercialização da safra 2016/17 havia atingido 25% do volume total esperado, contra 20% até 9 de setembro. Os especialistas alertaram, contudo, que a movimentação do mercado de soja pode ser passageira, dependendo sempre de uma conjuntura favorável do câmbio e das cotações internacionais do grão. Após intervenção do Banco Central, na tarde de hoje o dólar recuou das máximas da sessão, embora operando ainda no maior patamar desde meados do ano.

 

Fonte: Reuters

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